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Não importa a altura, mas é quase inevitável, numa vida humana com mais de década e meia, chegar-se a um momento em que se sente falta da idade da ingenuidade, onde os problemas se resolviam de forma simples e ainda não havia coisas complicadas como dilemas éticos. Nessa altura, tinha-se a vida pela frente, e a muitos de nós era augurado um futuro brilhante, fosse qual fosse a carreira… porque, garantiam-nos com um sorriso desafiador e um olhar indutor de sonhos, podíamos ser tudo.

Crescemos a acreditar nisso. Damos passos nesse sentido, embalados pela segurança de uma vida futura onde não se conhece a amargura… até ela aparecer e mostrar-nos que a vida não é assim. Que somos promessas, de facto, mas que podemos nem sequer passar disso. Aliás, há grandes probabilidades de isso acontecer, porque, ao mesmo tempo que sonhávamos, outros milhares de crianças sonhavam o mesmo. Uns lidam bem com o fracasso ou a falta de sorte e crescem com isso; outros não e ficam sempre aquém daquilo que se esperava deles porque não conceberam um futuro diferente daquele que, em miúdos, idealizaram.

Isto também acontece dentro dos relvados de futebol. No início de uma carreira sénior, são colocadas expectativas relativamente ao futuro do jogador; os primeiros jogos são disputados com uma entrega imensa, de olho num legado ímpar entre os grandes, pois o percurso acaba de começar e o resto da estrada da glória está por percorrer. O jogador pode ser tudo, garantem-lhe, não só os círculos próximos como as capas (ou as gordas do rescaldo do jogo de uma equipa mais pequena) dos jornais.

Depois, quando se agarra um lugar, surge um passe menos conseguido, a confiança baixa e a exibição já não tem honras de destaque. A partir daí pode-se lutar e provar que foi só um desempenho abaixo do potencial, ou simplesmente achar-se que este não era tão alto quanto se esperaria, conforme é “provado” pelo acumular de erros que se segue, caindo-se numa espiral depressiva da qual só se sai quando já não há mais a nada a “ser” para além do que se é. Aí, atinge-se a estabilidade necessária para se jogar o talento que, definitivamente, está dentro do jogador em questão.

Pato é bom exemplo de um jogador que teve a ilusão como obstáculo na sua carreira Fonte: Facebook do São Paulo
Pato é bom exemplo de um jogador que teve a ilusão como obstáculo na sua carreira
Fonte: Facebook do São Paulo

Tivemos ilustrações precisas disso mesmo durante a semana passada nas exibições de Alexandre Pato e Carlos Martins.

O primeiro foi uma promessa do futebol brasileiro, depois de impressionar ao serviço do Internacional. Foi transferido para o Milan com apenas 17 anos e era-lhe augurado um futuro enorme. Deu tudo nos primeiros tempos e conseguiu ter sucesso em Itália, mas aos poucos foi-lhe sendo retirado espaço, atiraram-no para posições menos condizentes com as suas características, e eclipsou-se. Voltou ao Brasil e tardou em mostrar todo o futebol que prometia nos tempos do Internacional. Este ano, porém, parece ter-se conformado com o facto de que o trabalho tem de estar à frente da ilusão e que não vale a pena ouvir outras pessoas para além do seu treinador, e, para ajudar, foi colocado para posições onde rende mais (seja partindo desde um flanco ou jogando ao lado, e não atrás, de outro avançado). Na semana passada marcou o golo da vitória do São Paulo diante do Cruzeiro e ainda fez o golo de honra no jogo com o Atlético de Minas Gerais.

O segundo foi uma esperança do futebol nacional. Foi formado no Sporting, nunca vingou (fosse por lesões ou por opção) e rumou ao estrangeiro, onde melhorou as suas performances, regressando, depois, ao futebol nacional pela porta de outro grande. No Benfica começou a bom nível, carregando aos ombros o peso de ser encarado por Rui Costa como um “sucessor natural” do mago português, mas foi sendo relegado para segundo plano, e assim continuou. Desceu à equipa B e só o ano passado voltou a competir “a sério”. Este ano, partindo sem ilusões e com noção do seu talento, abriu a temporada da melhor maneira. O agora “seu” Belenenses entrou a vencer na 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa com dois golaços da sua autoria, que alimentam de esperança os azuis do Restelo rumo ao playoff.

Um dia prometeram muito, mas não corresponderam às expectativas que tanto eles como os outros tinham neles depositadas. Vários anos das respectivas carreiras foram passados a lamentar aquilo que achavam que iam ser mas não eram… Até se aperceberem de que, fossem o que fossem, deviam jogar sem se preocuparem em ser o que era “suposto” serem. Nunca esteve escrito nas estrelas, só nos seus pés. É uma questão de os pôr no chão e olhar, como gente humilde, para baixo.

 Foto de capa: Facebook oficial do Benfica

Pedro Machado
Pedro Machado
Enquanto a França se sagrava campeã do mundo de futebol em casa, o pequeno Pedro já devorava as letras dos jornais desportivos nacionais, começando a nascer dentro dele duas paixões, o futebol e a escrita, que ainda não cessaram de crescer.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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