A década de 90 foi muito rica em avançados fora de série. Recordamos aqui alguns dos mais notáveis que fizeram história no futebol mundial.
Se o futebol é hoje o desporto que mais me apaixona, devo-o principalmente ao meu pai. E em parte, aos seis jogadores de que vos vou falar neste artigo. Mas já lá iremos. Era eu ainda um puto com oito anos, quando comecei a descobrir, ainda que a espaços, o que era este desporto praticado por 22 jogadores, através do clube do meu coração, o SL Benfica.
Aos fins de semana, lá estava o meu pai sentado no sofá colado à televisão a ver uns homens vestidos de encarnado a dar pontapés numa bola. Ora, sem grande poder de escolha naquele momento para lhe pedir para mudar de canal e ver outra coisa, lá tinha eu de gramar com aquilo. E confesso, aos poucos, comecei a gostar do que via.
Estávamos em 1990 e nesse ano o SL Benfica perdeu a final da Taça dos Campeões Europeus para o AC Milan. Foi a primeira vez que chorei por um acontecimento desportivo, e por um clube que ainda mal conhecia a sua história e grandeza. As lágrimas que me escorriam pelo rosto fizeram-me perceber que o futebol era capaz de transmitir todas estas emoções, e foi após esse momento de tristeza que a escolha do meu clube estava feita.
A minha paixão pelo futebol também foi subindo gradualmente, tanto que nesse ano, guardo algumas memórias de alguns jogos do Campeonato do Mundo de 1990, em Itália. Comecei a ouvir falar em nomes como Lothar Matthaus, Roger Milla, Roberto Baggio e até de Diego Maradona, mesmo sem ter ainda a noção daquilo que ele representava para o mundo do desporto rei.
O Mundial de 1994 foi o primeiro que acompanhei já mais a sério e durante alguns anos, a minha cultura futebolística a nível internacional baseava-se apenas em competições europeias de clubes e os mundiais e europeus de selecções. Isto para dizer que a década de 90 para mim foi, e será sempre, a mais especial a nível do meu interesse e paixão por futebol, porque vivi numa era onde despontaram muitos talentos, e não só avançados. A fase de transição entre a minha infância e adolescência foi vivida com estes seis jogadores de que vos vou falar a seguir, mas também com Dennis Bergkamp, George Weah, Brian Laudrup, Patrick Kluivert, entre tantos outros craques cujo talento para marcar golos era inegável.
6.
Alan Shearer (Inglaterra) – Este é um daqueles casos em que falamos de um jogador que nunca vestiu a camisola de um grande clube europeu, nem mesmo no seu país, mas que deu muito ao futebol.
Falarmos de Alan Shearer, é falarmos do melhor marcador de sempre da Premier League, com 260 golos. Shearer começou a carreira no Southtampton FC em 1987 e cedo começou a mostrar toda a sua veia goleadora. Mas foi com a criação da Premier League em 1992, que o ponta de lança natural de Newcastle explodiu. O Blackburn Rovers FC contratou-o logo nesse ano e durante as quatro épocas que lá esteve marcou 130 golos, e foi um dos principais responsáveis na conquista do terceiro campeonato inglês para os Rovers, em 1995. Seguiu-se o Campeonato da Europa, realizado precisamente em Inglaterra, onde Alan Shearer foi coroado como o melhor marcador da competição. Após o Europeu, rumou ao clube do seu coração, o Newcastle United FC, onde acabou por ficar até terminar a carreira em 2006, com 36 anos.
É certo que não venceu nenhum título com a camisola dos Magpies, mas os seus golos, e foram muitos, tornaram-no na maior figura do clube e um dos melhores avançados que a Inglaterra já viu. Alan Shearer era aquilo a que chamamos de um verdadeiro matador dentro da área. Tinha um grande sentido de oportunidade e fazia golos de todas as maneiras e feitios, sendo o jogo de cabeça o seu ponto mais forte. No total da carreira marcou 400 golos em 787 jogos.
5.
Davor Suker (Croácia) – Se a Croácia teve os seus melhores desempenhos em mundiais e europeus, muito se deve a este homem. Davor Suker fez parte da geração dourada do futebol croata na década de 90, que culminou com o terceiro lugar da Croácia no Mundial de 1998, realizado em França, e onde foi o melhor artilheiro da prova.
Suker nasceu para o mundo do futebol em 1985, quando representou o clube da sua terra natal, o NK Osijek. Seguiu-se o GNK Dinamo Zagreb e foi aí que a Europa começou a ficar de olho no avançado croata. Os 22 golos que marcou na época 1990/1991 fizeram o Sevilha FC arriscar para a sua contratação, e em boa hora o fizeram. Continuou a marcar golos e a espalhar classe numa das melhores ligas do mundo.
Veio o Euro 96 e Suker brilhou ao serviço da sua seleção. Quem não se lembra daquele golo memorável frente à Dinamarca, com um chapéu delicioso a Peter Schmeichel. Estava escrito que Suker precisava de palcos maiores e Sevilha era já uma cidade pequena para aquele enorme talento vindo dos Balcãs. E já que estava em Espanha, porque não continuar por lá a fazer o que tão bem sabe? E quando o clube interessado se chama Real Madrid FC, é nem pensar duas vezes e assinar contrato. Foi com a camisola merengue que tocou o céu. Conquistou títulos, entre eles a Liga Espanhola em 1997, e no ano seguinte a tão desejada Liga dos Campeões.
A sua última temporada no Real Madrid CF acabou por ser a mais fraca desde que pisou a terra de nuestros hermanos, com apenas cinco tentos marcados. Seguiu-se uma curta experiência em Inglaterra ao serviço do Arsenal FC e do West Ham United FC, e acabou a carreira na Alemanha em 2003, no TSV 1860 Munique.
Davor Suker era um avançado muito bom tecnicamente e com um pé esquerdo que fazia maravilhas. Durante a sua carreira realizou 598 jogos e marcou 286 golos. Ainda hoje é considerado um dos melhores jogadores croatas de sempre e o número um na lista de avançados do seu país.
4.
Roberto Baggio (Itália) – Já sei o que estão a pensar quando se fala de Roberto Baggio. Aquela grande penalidade falhada no Mundial 94, que tirou o título à Itália e deu o tetra ao Brasil, ficará para sempre com uma das imagens mais fortes da história dos Campeonatos do Mundo.
Centrarmos esse erro naquilo que foi Baggio como jogador, é só injusto e é esquecer tudo aquilo que fez nos relvados italianos, país de onde nunca saiu para experimentar outras ligas. Iniciou a carreira no LR Vicenza e jogou nos principais clubes italianos, como a Juventus FC, o AC Milan e o FC Internazionale Milano. Mas foi nos cinco anos que esteve ao serviço da vecchia signora que fez as melhores épocas da carreira, tendo feito o gosto ao pé por 105 ocasiões.
Pela seleção transalpina, há que destacar os bons desempenhos nos mundiais de 1990 e 1994, à exceção feita claro está, desse infortúnio já referido frente ao Brasil. Roberto Baggio era um avançado irreverente, com um bom remate de meia distância, e não tinha medo de pegar na bola e correr metros com ela até chegar à baliza contrária. Conquistou dois campeonatos italianos, uma Taça de Itália e uma Taça UEFA, tendo-lhe faltado apenas um título pela squadra azzurra.
A nível individual, foi considerado o melhor jogador do Mundo pela FIFA em 1993, e no mesmo ano venceu também uma Bola de Ouro. Foi uma das grandes figuras e avançados do futebol italiano e mundial na década de 90, e marcou 317 golos durante toda a carreira, que teve o seu fim em 2004, com a camisola do Brescia Calcio.
3.
Jurgen Klinsmann (Alemanha) – O futebol germânico sempre teve bons avançados dentro da área, e falarmos de grandes avançados dos anos 90 e não referir o nome de Jurgen Klinsmann, seria um enorme erro. Até porque os seus dotes de goleador vêm já desde a década de 80, onde brilhou ao serviço do VfB Estugarda, tendo sido coroado como o melhor marcador do campeonato alemão em 1988.
No ano seguinte dá o salto para um clube de maior dimensão, o FC Internazionale Milano, e lá esteve três épocas, tendo conquistado uma Taça UEFA e uma Supertaça de Itália. Rumou depois ao campeonato francês para representar o AS Mónaco, e esteve apenas uma temporada em Inglaterra ao serviço do Tottenham Hotspur FC, o que lhe bastou para bater o seu recorde pessoal de golos à data numa só época, num total de 29. Corria o ano de 1995 e Klinsmann era um dos homens golo na Europa.
O FC Bayern Munique sentiu que era a hora do ponta de lança alemão voltar ao seu país de origem e apresentou-lhe uma proposta, ao qual aceitou e por lá ficou duas temporadas. Logo no ano de estreia, venceu novamente a Taça UEFA e voltou a bater o seu recorde pessoal de golos numa época, com 31 remates certeiros. Em 1997 vence a Bundesliga e no mesmo ano sai para a UC Sampdoria, onde começava o declínio da carreira, terminada nos Estados Unidos em 2003.
Pela seleção da Alemanha também fez o que melhor sabia, e ajudou a conquistar o Mundial de 1990 e o Europeu de 1996. Klinsmann era um ponta de lança muito rápido a decidir e muito assertivo na hora de rematar à baliza, estando sempre no sítio certo à hora certa. E os seus números metem inveja a vários avançados de hoje em dia: em 716 jogos, marcou 324 golos.
2.
Romário (Brasil) – Dizem que os homens não se medem aos palmos. E bem que podemos usar essa expressão em Romário, ou não fosse conhecido por “Baixinho”. Os seus 1,69 metros de altura não condizem com a grandeza e o talento que tinha.
Dotado de uma técnica bastante acima da média e de uma velocidade estonteante, um dos pontos fortes de Romário era a sua espontaneidade e facilidade de remate. A sua carreira começou no Brasil, mas foi em 1988 que a Europa lhe abriu as portas do sucesso, mais concretamente o PSV Eindhoven, acabado de conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus frente ao SL Benfica.
Esteve cinco épocas na formação neerlandesa com uma média de 25,6 golos por época, e venceu três campeonatos e duas Taças dos Países Baixos. Romário era sem dúvida o melhor avançado não europeu a competir no velho continente e em 1994 o FC Barcelona viu ali uma oportunidade em contratar a pérola brasileira para a dream team de Johan Cruyff.
A primeira temporada até correu muito bem, tendo marcado 34 golos e conquistado uma Liga Espanhola. Mas na segunda a vontade de Romário em regressar ao seu país foi mais forte, e deixou o conjunto blaugrana a meio da época 1994/1995, para ingressar no CR Flamengo. Esteve no Fla duas épocas e meia mas, curiosamente, voltou para Espanha em 1997 para representar o Valência FC. E o que se seguiu a partir daí foi uma troca sucessiva de clubes, mas mesmo assim não parou de marcar golos até pendurar as chuteiras em 2007, com 42 anos.
Foi considerado o melhor jogador do planeta em 1994 pela FIFA, ano em que levou praticamente sozinho o Brasil à conquista do tetra Campeonato do Mundo, organizado pelos Estados Unidos, talvez o ponto mais alto da carreira. E para que não restem dúvidas da máquina de golos que era Romário, basta dizer que marcou 744 golos em 961 jogos. Impressionante registo de destaque nesta lista de grandes avançados dos 90.
1.
Ronaldo “Fenómeno” (Brasil) – Há quem o considere como o melhor jogador de todos os tempos. É claro que isso será sempre um tema bastante discutível, até porque vivemos numa era em que o debate em saber quem é o melhor de sempre passa por Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Discussões à parte, falemos então deste enorme avançado brasileiro que espalhou o terror por todas as defesas que defrontou. Ronaldo era aquilo a que podemos chamar um jogador completo, quase perfeito. Tinha força, técnica soberba, velocidade e um remate fortíssimo e colocado. Quando arrancava, era quase impossível pará-lo.
O começo da sua carreira de foi semelhante à do seu compatriota Romário. Entrou na Europa também pela porta do PSV Eindhoven em 1994, e por lá esteve duas temporadas antes do Barcelona FC o contratar em 1996. Apesar de ter dado nas vistas nos Países Baixos, foi em Espanha que o mundo do futebol ficou de queixo caído com o enorme potencial que o avançado brasileiro mostrou na única época que esteve ao serviço do conjunto catalão, então com apenas 20 anos, e onde conquistou a já extinta Taça das Taças.
Ronaldo foi depois para Itália representar o FC Internazionale Milano, e as duas primeiras épocas até correram bem, leia-se, com muitos golos, mas uma grave lesão na terceira veio complicar a carreira de Ronaldo, que esteve mesmo em risco. Estávamos na viragem do século e o futebol podia perder um dos seus melhores avançados.
A recuperação foi longa, tendo mesmo ficado mais de um ano parado, e em 2001 regressa aos relvados para fazer a sua última época em Milão. Contudo, o avançado brasileiro não se sentia feliz e precisava de algo mais para a sua carreira, algo grandioso. Até que apareceu o Real Madrid CF, que estava a começar a construir uma equipa de “galácticos”. E o resto da história é o que se sabe.
Durante os quatro anos que esteve na capital espanhola, o astro canarinho fez 104 golos e exibições monstruosas, tendo ficado no coração dos adeptos merengues. Seguiu-se nova aventura em Itália, mas desta vez para representar o AC Milan durante duas épocas. A experiência voltou a não ser feliz e regressou ao Brasil em 2009 para jogar os seus últimos anos da carreira, ao serviço do SP Coritnthians Paulista.
Ronaldo coleccionou títulos nacionais e internacionais por onde passou, porém, a única espinha que lhe ficou encravada foi nunca ter conseguido vencer a Liga dos Campeões, principalmente enquanto esteve no Real Madrid CF.
Pela seleção brasileira, destaque para os dois bons desempenhos nos Campeonatos do Mundo de 1998 e 2002, sendo que neste último conseguiu conquistar o seu segundo troféu. Conta ainda com inúmeros prémios individuais, com principal destaque para as três distinções de melhor jogador do Mundo, e duas Bolas de Ouro. Um dos melhores avançados de sempre.