«Jorge Jesus abriu a porta para muitos profissionais de Portugal no Brasil» – Entrevista BnR com Sandro Orlandelli

    – O pós-Ferguson –

    «O Bruno Fernandes trabalhou pelo menos uns dois anos para vislumbrar a oportunidade num clube como o Manchester United»

    BnR: Volta a Inglaterra, para outro gigante, o Manchester United, e para trabalhar com José Mourinho. Como foi trabalhar com o “Special One”?

    Sandro Orlandelli: Como a minha carreira é predominantemente europeia, abriu-se uma oportunidade que eu considerei muito interessante. Ainda na seleção brasileira, eu tive uma proposta para trabalhar com o City Group, do Manchester City, que era para trabalhar como diretor do futebol do clube deles no Japão, o Yokohama Marinos. Eu tenho um filho, por isso achei melhor ficar, mas depois surgiu o Manchester United, uma das melhores marcas do mundo. Eu gosto muito de desafios e esse era um desafio de implementação de um sistema de scouting com uma plataforma muito interessante, que exigia um tempo de amadurecimento do produto. Como eu já tinha tido essa experiência no Arsenal, foi muito sedutor para mim. Achei que já tinha dado a minha contribuição ao Brasil, fomos inclusive campeões olímpicos na altura, e então consegui ajudar a escrever a nova história do Manchester United, no departamento de scouting, mais uma vez a Inglaterra me ensinou muito. Os contactos não foram grandes com o Mourinho, mas, a este nível, ninguém ganha nada por acaso, então considero-o muito inteligente, principalmente na forma de liderar as pessoas. O nível de exigência dele é altíssimo, muito por causa da biografia dele. Mas é uma pessoa de fácil acesso, muito prática e um profissional que tem muita competência, foi um privilégio trabalhar com ele.

    Fonte: Instagram Sandro Orlandelli

    BnR: Nessa época em que o Sandro chega, chega também Pogba, naquela que foi a transferência que revolucionou o mercado de transferências e fez disparar os valores. Como viu a chegada do francês?

    Sandro Orlandelli: Um jogador extremamente talentoso, um talento com controlo de bola, uma visão excecional, principalmente em bolas de 40 metros, que é uma caraterística difícil de encontrar. Um jogador consolidado no futebol mundial, tem uma mente flexível, tudo é muito mais fácil para ele. Ele teve um processo de adaptação difícil, mas agora vai conseguir desenvolver o que vale em termos de talento.

    BnR: Apanhou um período de transição pós-Ferguson ainda no United. Como é que isso se refletia na estrutura do clube?

    Sandro Orlandelli: Estamos a falar de um dos melhores treinadores do planeta, que ficou no clube durante 26 anos, a liderar com vitórias, são vitórias ao mais alto nível. Uma coisa é trazer um jogador que tenha um perfil, que não brilhe nos olhos tecnicamente, e vem para o Ferguson, e ele extrai o máximo dele, à semelhança do Wenger, a atmosfera criada contagia os jogadores. Às vezes depende muito do ambiente à volta do jogador. Quando sai uma figura dessas, desestrutura tudo, começa-se um novo processo de criação de um novo departamento de scouting, de forma a não depender de um treinador para contratar um jogador. É um processo com muitos filtros, muitos processos até à chegada de um jogador. Desde a saída dele até à consolidação demorou algum tempo e chegaram jogadores que agradavam aos treinadores, esses treinadores foram embora e os jogadores ficaram. Agora com o Solskjaer acho que o clube se vai consolidar, é um treinador muito interessante. Qualquer jogador que venha, vai ser inflamado por esse ambiente. Sai Alex Ferguson, a casa vai abaixo, e agora sim volta a reerguer-se.

    BnR: Enquanto esteve em Manchester, vários jovens apareceram na equipa principal dos Red Devils, dois dos quais portugueses: Angel Gomes e Diogo Dalot. Quanto ao Angel, terminou contrato com o clube, vê o jogador com potencial para jogar por exemplo num dos três grandes em Portugal? Quanto a Dalot, considera que foi uma aposta demasiado arriscada do United?

    Sandro Orlandelli: Posso falar-te melhor do Dalot. O Dalot tem um potencial muito grande, tem muita velocidade, 5/10 metros, 20 metros em altíssimo nível, a genética dele favorece, tem uma atitude competitiva agressiva, poder de antecipação, tem boa técnica por ser um lateral, tem bom controlo de bola, o passe dele é agressivo, verticalizado e consciente, e é um jogador jovem. É um jogador que, sem sombra de dúvidas, não deixou de saber jogar futebol, se calhar o ambiente não o favorece, mas é um jogador interessantíssimo, sem dúvida. Só não sei a questão mental dele, o que faz diferença a este nível. O quanto é resiliente, o quanto tem fome de vencer. No jogo ele tem agressividade, é um jogador competitivo, agora fora do jogo não sei dizer. O Angel já não acompanhei tanto, portanto prefiro não comentar.

    BnR: Na equipa principal, podemos ver dois jovens do clube em destaque: Rashford e Greenwood. Acompanhou o crescimento deles?

    Sandro Orlandelli: Estamos a falar de dois jogadores com um potencial imenso. O Rashford, sou suspeito, é um jogador da era moderna. Não faz magia com a bola, mas faz tudo o que tem de fazer. Ele é rápido o suficiente em todas as caraterísticas para a posição, é um jogador extremamente inteligente para tomar decisões e faz golo, que é importante. Mentalmente, é um jogador extremamente focado, é um modelo de jogador para o cenário mundial. Para mim, ele veste a camisola em qualquer clube do mundo, é um produto final. O Greenwood tem um processo de desenvolvimento ainda maior que o Rashford para percorrer, tem que se consolidar na consistência de desempenho. Ele tem um poder de finalização muito grande, a capacidade de trabalho dele é muito boa, é ambidestro para finalizar, super jovem. Estávamos a falar de um clube que ia tão mal, para lateral esquerdo tem também o Williams, agora está a começar a desenvolver-se novamente.

    BnR: Falando ainda da equipa atual do United, qual a sua opinião sobre o impacto que Bruno Fernandes teve no clube?

    Sandro Orlandelli: Ele é um jogador que chegou e já fazia parte do clube, dá para imaginar que ele se preparou muito para aquela oportunidade, ele trabalhou pelo menos uns dois anos para vislumbrar a oportunidade num clube como o Manchester United, é muito claro isso, bem focado. É um jogador muito interessante e com certeza vai dar muitas alegrias ao clube.

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    Pedro Pinto Diniz
    Pedro Pinto Dinizhttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um apaixonado por desporto. Em cada linha, procura transmitir toda a sua paixão pelo desporto-rei, o futebol, e por todos os aspetos que o envolvem. O Pedro tem o objetivo de se tornar jornalista desportivo e tem no Bola na Rede o seu primeiro passo para o sucesso.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.