O domínio ao ar livre que foi de curta duração
O ano de 2014 de Genzebe Dibaba foi tão marcante que até lhe valeu no início de 2015 um galardão Laureus de desportista do ano. Foi a primeira personalidade do desporto etíope a arrecadar o prémio e para isso muito contribuíram as fantásticas prestações em pista coberta, bem como alguns importantes feitos ao ar livre, como a marca líder mundial nos 5.000 metros e a vitória nos 3.000 metros da Continental Cup.
Ainda assim, quando falamos da competição ao ar livre, apesar de apresentar excelentes marcas desde 2012, foi em 2015 que vimos o melhor de Genzebe, tendo sido considerada a atleta do ano pela IAAF. Começou o ano a correr os 5.000 metros com vários tempos de enorme valia, com o grande destaque a serem os 14:15.41, em Julho, em Paris, marca que a coloca, ainda aos dias de hoje, como a 4ª atleta mais rápida da história da distância. Apenas 4 dias depois foi a Barcelona percorrer os 1.500 metros em 3:54.11, marca que significava um grande recorde pessoal e que é ainda hoje a sua segunda melhor marca na distância.
Mas, menos de duas semanas depois dessa prova de Barcelona, foi ao Mónaco correr a mesma distância em impensáveis 3:50.07, um grande recorde mundial, batendo uma marca (3:50.46) que se pensava imbatível – e que sempre levantou muitas interrogações – da chinesa Yunxia Qu, datada de Setembro de 1993.
As marcas que Genzebe trazia para os Mundiais de Pequim tornavam-na como a principal favorita para a final dos 1.500 metros e uma das principais nos 5.000 (Ayana já tinha corrido ligeiramente mais rápido do que ela nesse ano). Primeiro realizou-se a qualificação e a final dos 1.500 metros, que se traduziu numa final – como é habitual em eventos globais – bastante tática e lenta, com a vitória controlada de Genzebe no seu único título global. Na final dos 5.000 metros, acabou por acusar algum cansaço e ficou-se pela medalha de Bronze.
Um ano depois, tinha a oportunidade no Rio de alcançar o seu primeiro Ouro olímpico. Tinha sido um ano estranho para a atleta etíope com poucas provas realizadas decorrentes de alguns problemas físicos e problemas com o seu treinador e consequente preparação. Ainda assim, afirmava estar na sua melhor forma na antecâmara para os Jogos, embora desta vez a prova tática tenha beneficiado Faith Kipyegon, que fez uso de um enorme kick final para bater Genzebe, que se viria a ter que se contentar com a Prata.
2017 estava a ser outro ano marcado por alguma inconsistência, tendo a atleta começado bastante bem em a época ao ar livre, mas perdendo fulgor na chegada aos Mundiais de Londres, tendo uma dececionante prestação. Na final dos 1.500 metros, totalmente irreconhecível, foi a mais lenta das que terminaram a prova, no 12.º lugar. Não se sentindo nas melhores condições acabaria por abdicar de participar na prova dos 5.000 metros.
Por fim, tivemos 2018. Um ano daqueles que os atletas não-europeus gostam de apelidar como “ano-off” devido à ausência de grandes eventos globais. Tal facto não parecia ser motivo de incómodo para Genzebe. Afinal a etíope teve um dos seus melhores anos da carreira em 2014, sem eventos globais ao ar livre.
Depois de uma irrepreensível temporada em pista coberta, poderia pensar-se que a atleta iria arrancar para um ano muito rápido ao ar livre e os 3:56.68 nos 1.500 metros de Chorzów – que acabaram mesmo por ser a marca líder mundial do ano – pareciam também indicar isso. Venceu os 5.000 em Eugene, mas terminou a época de forma muito tímida com desapontantes prestações nos 5.000 metros de Rabat (6ª) e depois na final da Diamond League em Zurique, onde também foi apenas 6ª em 14:50.24.