3.000 OBSTÁCULOS: KIPRUTO TEM SETE VIDAS. OU MAIS.
Se há alguém capaz de entrar num filme da série “Final Destination” e enganar o destino, esse alguém é Conseslus Kipruto! O queniano voltou a bater todos os prognósticos e renovou o título mundial ao sprint (e em photo-finish), numa época em que passou sempre longe do seu melhor, a lutar com lesões.
Anteriormente, o queniano já tinha contrariado o favoritismo adversário e na Diamond League de 2018 até descalço bateu o seu atual maior rival em pista! Quanto a esse rival – El Bakkali (MOR) – ele continua a sua complicada relação com finais, embora tenha voltado ao pódio, sendo, desta feita, Bronze. Atenção à Etiópia que cresce a olhos vistos no evento e que ameaça a absoluta supremacia queniana: Lamecha Girma (ETH) bateu o recorde nacional e já está próximo de baixar dos oito minutos.
20 KM MARCHA: DECOREM ESTE NOME – YAMANISHI
O japonês de apenas 23 anos já havia marchado muito (mas mesmo muito) rápido este ano. Apenas três atletas na história o fizeram mais rápido do que ele e todos os nomes falam por si: Yusuke Suzuki (JAP), Sergey Morozov (RUS) e Yohann Diniz (FRA). Muitos pensariam que o japonês iria pagar em Doha alguma da falta de experiência a este nível, mas foi bastante inteligente a gerir os ritmos de uma prova mais complicada do que talvez algum dia volte a encontrar e terminou mesmo com o seu 1.º título mundial. Em casa terá responsabilidades acrescidas, pois entrará como favorito.
50 KM MARCHA: A IMPORTÂNCIA DA INTELIGÊNCIA
Yusuke Suzuki (JAP) venceu, mas isso era algo assumido como natural. Apesar de tudo, o japonês tremeu, parou e teve que ter sangue frio para “saber terminar” a sofrer. Atrás de si ficaram dois homens que fizeram uma prova verdadeiramente impressionante, de trás para a frente, demonstrando uma inteligência e preparação brutal. João Vieira (POR), o nosso João, conquistou a única medalha nacional e que bem que ela soube! Foi um prémio de carreira para o atleta de 43 anos, que se tornou no mais velho atleta a conquistar uma medalha em qualquer evento de Mundiais. Evan Dunfee (CAN) terminou também muito forte e é um nome a ter em conta para os próximos anos.
4×100: A VELOCIDADE JAMAICANA CHORA A AUSÊNCIA DE BOLT
Sabia-se que a Jamaica iria sofrer com a saída de cena do homem mais rápido da história. Sabia-se que Asafa Powell também já não estava cá com a sua frescura dos 9.72 (parece mesmo que o final de carreira se aproxima para ele, que nem se qualificou para Doha…) e que Blake não é mais o homem dos 9.69. Ainda assim, não ver a nação caribenha sequer na final das estafetas 4×100 foi estranho. Os EUA venceram com grande categoria e com transmissões longe da perfeição, deixando no ar a sensação de que um ataque a recorde mundial pode estar para breve (poderá para o ano ser Coleman, Gatlin, Lyles e Baker?!).
4×400: OS NORTE-AMERICANOS IRÃO CONTINUAR A DOMINAR
A não ser que aconteça um milagre – por exemplo, a vitória de Trinidad em 2017 – este evento continuará a ser amplamente dominado pelos EUA, que até se deram ao luxo de não utilizar o seu atleta mais rápido da atualidade, Michael Norman (decidiu ir para casa depois da humilhação na prova individual). Ainda assim, mais de um segundo de avanço sobre a Jamaica, reafirmando as duas nações como potências do evento. Mas atenção: o muito merecido Bronze da Bélgica e o 4.º lugar da Colômbia, ambos abaixo dos três minutos, mostram que algo está a mudar no evento.
SALTO EM ALTURA: EM CASA É DIFERENTE
Mutaz Essa Barshim (QAT) tinha tido uma época para esquecer, nunca conseguindo apresentar um bom nível e a recuperar de grave lesão. Trazia um melhor do ano de 2.27 metros e na final da Diamond League tinha-se ficado pelos 2.20! No entanto, o atleta sabia que esta era a sua única oportunidade de ser campeão mundial ao ar livre em casa e deu tudo o que tinha e não tinha! Num dos eventos mais emotivos dos Campeonatos, Barshim chegou a incríveis (considerando a sua época) 2.37 metros e renovou mesmo o título mundial. No final, as lágrimas foram inevitáveis.
SALTO COM VARA: KENDRICKS AINDA MANDA
Depois da fabulosa entrada em cena de Mondo Duplantis (SWE) – no ano passado, com 18 anos, subiu aos 6.05 metros para vencer os Europeus de Berlim – muitos anteviam um domínio do circuito para o jovem sueco, mas o norte-americano Sam Kendricks (USA) tinha uma palavra a dizer. Este ano não só chegou a um novo recorde pessoal de 6.06 metros nos EUA, como venceu a final da Diamond League e a final dos Mundiais, mostrando uma enorme confiança nos momentos-chave. Renovou o título mundial e irá a Tóquio à procura do primeiro título olímpico da carreira.
SALTO EM COMPRIMENTO: OS CAMPEONATOS VENCEM-SE NAS… FINAIS
Muita expectativa havia para ver o que Juan Miguel Echevarría (CUB) poderia fazer na final do Comprimento em Doha. Teve uma época fantástica, venceu a Diamond League e na qualificação saltou logo 8.40 metros, o salto mais longo em qualificações, logo à primeira tentativa. Acontece que a final foi vencida Tajay Gayle (JAM), que nada de muito relevante tinha a assinalar na sua carreira. Saltou na final impressionantes 8.69 metros (subiu a 10.º de sempre), depois de na qualificação ter sido o último repescado para a final (!) com um melhor salto a apenas 7.89 metros. Trazia para estes campeonatos um melhor pessoal de 8.32 metros (já em 2019), aumentando incríveis 37 centímetros em Doha! Gayle tornou-se no primeiro jamaicano a sagrar-se campeão mundial num evento que não seja de corrida.