5.000 METROS: ONDE ANDA O QUÉNIA?
Era já previsível que o Quénia iria sentir dificuldades no evento masculino, mas dói sempre à nação africana ver três etíopes à frente do seu melhor homem (Jacob Krop foi apenas 6.º, apesar do recorde pessoal) e até ver um europeu a chegar primeiro (Jakob Ingebrigtsen foi 5.º). Num ano em que a distância terá ainda menos exposição mediática – a prova deverá cair do programa da Diamond League, substituída por provas de apenas 3.000 – poderemos chegar a Tóquio envoltos em grande incerteza.
Apesar de tudo, Muktar Edris (ETH) renovou o título de forma totalmente inesperada (tinha zero marcas de registo assinalável, este ano) e desta feita já ninguém o retirará da equação. A saída de cena da Diamond League pode ainda levar a uma maior debandada queniana, uma vez que os atletas percebem que o dinheiro está (cada vez mais) na estrada.
10.000 METROS: O CORTA-MATO NÃO ATRAPALHA. PONTO.
Nos últimos anos, alguns “experts” têm afirmando que, com as exigências do desporto atual, não é realista exigir aos atletas picos de forma na temporada de Crosse e depois nos Mundiais em pista. Joshua Cheptegei (UGA) provou, mais uma vez, que os teóricos não passam de isso mesmo, tendo-se sagrado campeão mundial de Corta-Mato em Março, vencedor da Diamond League (5.000) em Agosto e campeão mundial dos 10.000 em Outubro. Hellen Obiri (KEN) fez algo semelhante no feminino e isso só pode ser positivo para incentivar mais e mais atletas a apostar nas provas de corta-mato.
MARATONA: OS FAVORITOS MESMO MAIS LENTOS, SÃO FAVORITOS
Poucas ilações se pode retirar de uma prova que todos os dias é diferente e que terá com certeza um elenco totalmente diferente em Tóquio (ou… Sapporo!). Ainda assim, o pódio de Doha, apesar de mais lento (todos na casa dos 2:10), foi todo composto por favoritos, provando que uma boa preparação é o mais importante para enfrentar condições adversas, não sendo uma roleta russa, como muitos apregoam. Venceu Lelisa Desisa (ETH), mas os quenianos esperarão que o Ouro olímpico do próximo ano volte para o Quénia, depois da provável alteração da prova para Sapporo (a 800 km de Tóquio e bastante menos quente e húmido que a capital) e a muito aguardada inclusão de Eliud Kipchoge nessa competição.
110 BARREIRAS: GRANT HOLLOWAY IRÁ SER UM FENÓMENO
Fizemos um especial sobre ele quando brilhava em Janeiro, o que prova bem a longevidade da sua época. Depois disso, Holloway caiu (perdeu o título nacional e não brilhou na 1.ª experiência na Diamond League), mas soube-se levantar para ir a tempo de conquistar o título mundial na sua 1.ª oportunidade, aos 21 anos, em Doha. Correu em 13.10 nesse dia, mas já o havia feito em 12.98 segundos, tendo sido o único homem a baixar dos 13 segundos em 2019. Para o próximo ano já será profissional e, portanto, sem o excesso de competições dos Universitários norte-americanos, é com muita curiosidade e expectativa que se aguarda o que poderá fazer. Para 2019, o jovem que preteriu os milhões do futebol americano pelo atletismo (não quer chegar aos 40 com contusões na cabeça, diz ele!), tem o grande sonho de conquistar o primeiro Ouro olímpico da sua – ainda curta – carreira.
400 METROS BARREIRAS: NÃO PERCAM OS PRÓXIMOS EPISÓDIOS, PORQUE NÓS TAMBÉM NÃO
A aguardada batalha dos 400 barreiras de Doha soube a pouco. Abderrahman Samba (QAT) chegou a Doha visivelmente limitado pela lesão que assombrou quase toda a sua temporada, Rai Benjamin (USA) também passava por problemas físicos e só Karsten Warholm (NOR) foi capaz de manter um nível monstruoso durante toda a temporada.
O norueguês, que até começou o ano a sagrar-se campeão europeu sem barreiras em pista coberta, está melhor do que nunca e já ninguém assume que um dia pensou que a sua vitória nos Mundiais de Londres se deveu a um improvável alinhamento dos astros. Este ano correu em 46.92 segundos, subiu a 2.º mais rápido de sempre e mereceu inteiramente renovar o título mundial. Para o ano pode ser o ano da queda de um histórico recorde mundial numa altura ímpar da história, em que temos três (!) atletas abaixo dos 47 segundos.