Maratona de Berlim (1/2) – Kipchoge já está no topo do mundo e por lá continuará
Muito se dizia que era uma inevitabilidade. Mais dia, menos dia, Eliud Kipchoge iria fazer aquilo que lhe faltava fazer: bater o recorde mundial. Em Berlim, pareciam estar reunidas todas as condições para tal, tal como fizemos referência no nosso artigo de antevisão. O tempo estava próximo do ideal: os pacers, que em Berlim já têm a fama de se comportarem bem, estavam entre os melhores do mundo e tínhamos o melhor maratonista da história ultra motivado. Bem, por esta altura, para alguns, Kipchoge ainda precisaria de bater o recorde mundial para ser considerado o melhor da história. E fê-lo, claro. Mas fê-lo de uma forma que nunca será alvo da mínima contestação ou discussão sobre quem é, à data de hoje, o melhor da história. Correu em 2:01:39, tirou 1 minuto e 18 segundos ao anterior recorde, uma marca que certamente durará muitos anos a ser atualizada. A não ser que o próprio Kipchoge a bata.
Quanto à prova, o ritmo que o queniano pediu às 3 lebres, que tinha exclusivamente para si, foi quase seguido ao segundo. Pediu 61 minutos de passagem à Meia, deram-lhe 61:06. Por volta dos 25 km, a última lebre que o acompanhava cedeu ao ritmo e Kipchoge enfrentou sozinho quase toda a segunda metade da prova. Imaginem lá: ainda o fez mais rápido! Correu a “segunda Meia” em 60:33, voltando a conseguir um split negativo na carreira! A parte mais lenta da prova de Kipchoge foram os 10 primeiros km (29:01), altura em que muitos de nós levantavam a sobrancelha, pensando que estava a ir num ritmo demasiado elevado.
Com apenas 18 anos, Kipchoge venceu o título mundial nos 5.000 metros. Com 33 anos, esmaga o recorde mundial da Maratona. Sabem qual era a melhor da Maratona no dia em que foi campeão mundial em pista? Era 2:05:38! No final da prova de Berlim, Kipchoge, que durante a prova foi sempre dando a ideia de que estava fresco e iria mesmo bater a marca, mostrou-se como só os verdadeiros campeões da vida se sabem mostrar. Festejou, claro, mas festejou emocionado, primeiro com o seu técnico de longa data (Patrick Sang), agradecendo também a todos os que o apoiaram e fizeram este percurso, mostrando a humildade de sempre. Kipchoge correu onze maratonas na sua carreira (mais a do projeto Breaking2), venceu dez e não perde desde abril de 2014. No final da prova de ontem, um jornalista perguntou-lhe se ele se sentia um herói depois da fantástica marca e prova. Kipchoge respondeu: “sinto-me agradecido”. Esta resposta de Kipchoge resume bem a personalidade do queniano, que é uma estrela dentro e fora de competição.
Já se sabia que iria ser uma batalha contra o relógio e duvidávamos que alguém pudesse rivalizar com o novo recordista mundial. E assim foi. Seguindo sempre um grupo de lebres mais atrasadas, o segundo e o terceiro classificados também foram quenianos: Amos Kipruto terminou em 2:06:23 e Wilson Kipsang em 2:06:48. Destaque ainda para o primeiro grande resultado na Maratona para o recordista mundial da Meia-Maratona: Zersenay Tadese (ETH) correu em 2:08:46 para o quinto lugar.