Competir sem público
Com muito pouco público, as competições seniores nacionais e internacionais contrastam com o que se vai passando na formação, onde, por todo o país, reina o entusiasmo nas denominadas fases finais.
Porque razão o público não adere à modalidade nos mais velhos? É um questão que a todos preocupa e que tarda em ter uma solução. O público encara a competição dos seniores como um espectáculo com o qual não se identifica minimamente e não lhe reconhece grande qualidade.
Efectivamente, os números não mentem. Se anteriormente analisámos a modesta participação dos clubes na Europa, se olharmos com atenção o Ranking FIBA actual, onde ocupamos o 84º lugar a nível mundial, atrás de Madagáscar e à frente do Sri Lanka. No Ranking Europeu somos os últimos (29º).
Claro está que o passado internacional do nosso basquetebol nestas provas não é brilhante. A grande excepção foi no século passado, com a equipa de Lisboa: Mike, J. Jacques e outros que encheram pavilhões e deram vitórias históricas ao clube. A primeira vez que uma equipa nacional conseguiu ultrapassar a fase inicial data já de 1972, e ninguém melhor do que eu se lembra do feito: o SL Benfica eliminou os ingleses do Sutton, na Taça Clubes dos Campeões Europeus. Nos últimos anos, as equipas masculinas abandonaram as competições internacionais, ficando o basquetebol reduzido às competições locais, neste “canto à beira mar plantado”. O FC Porto esteve 12 anos sem participar internacionalmente, enquanto o Benfica já tinha regressado mais cedo.
A nível selecções também não somos brilhantes, com a excepção do EuroBasket 2007, disputado em Espanha onde obtivemos o nono lugar, a melhor participação portuguesa de sempre em provas internacionais.
Temos poucos jogadores de qualidade e a renovação está demorada e complicada. Uma simples análise da estatística nacional confirma o anterior. O MVP é novamente Nuno Marçal (Maia Basket), que aos 44 anos continua a ser uma referência (tem 25,1 de eficiência). Nos 20 primeiros aparece apenas o internacional Fábio Lima (CAB).
Mesmo com limitações financeiras, a opção só pode ser a continuidade da aposta internacional. Que o digam José Silva, Pedro Bastos e Miguel Queiroz, do FCP, e Mário Fernandes, João Soares e Tomás Barroso, do SLB, entre outros que muito ganham com o confronto internacional.
Mais do que regulamentar e proibir os estrangeiros de participarem nas nossas provas, o que temos de promover é o contacto internacional e melhorar claramente a formação de jogadores. Os bons jogadores nacionais acabam sempre por jogar e por sobressair, como agora ficou claramente provado. A ganhar ficou também a selecção nacional: temos agora um leque mais alargado de jogadores com alguma experiência internacional, o que pode ser útil para os próximos confrontos. Também aqui o isolamento não leva a lado nenhum…