A história da 4.ª Taça de Portugal Feminina
O Circuito de Ciclismo da Maia recebeu a 4ª e penúltima prova da Taça de Portugal Feminina. A Glassdrive-Chanceplus-Alegro partia com o objetivo de consolidar as lideranças em sub-23, depois da participação histórica na Volta à Andaluzia que culminou com o 27º lugar de Cristiana Valente, ciclista de 37 anos que lidera a Taça em elites desde a primeira prova, em Cantanhede. Nádia Henrique, líder em sub-23, também alinhou na prova espanhola.
PRÉ-CORRIDA
Valente reconheceu ao BnR que a rodagem em Espanha podia fazer a diferença na corrida.
“Sim, pode fazer alguma diferença, de uma forma positiva. Foi uma prova bastante exigente com um pelotão muito mais nervoso e até agressivo do que aqueles a que estava habituada. Isso dá-me mais, penso que posso dizer performance e até do aspeto técnico e tático, mas cada prova é uma prova e, como eu digo, não há vencedores antecipados, portanto mantenho o foco e mantenho também o respeito pelas adversárias” disse Cristiana Valente em declarações antes da partida.
Valente acrescentou que o próximo objetivo passa pelos campeonatos nacionais, mais concretamente para a prova de fundo, que decorre no dia 24 de junho.
Muito holofote também sobre a equipa da Maiatos, que corria em casa e com um número avultado de corredoras em prova. Ana Caramelo e Johana Luque partiam no segundo lugar em elites e sub-23, respetivamente, pelo que o incentivo de estar a correr em casa era um claro fator de motivação para as corredoras.
Também Liliana Jesus, da Extremosul, partia com a possibilidade matemática de disputar a Taça em elites, mas destacou o objetivo da classificação por equipas, que a formação algarvia lidera.
“Primeiramente, aqui enquanto equipa Extremosul é nós mantermos a liderança enquanto equipa. Para nós, equipa em si, é muito importante o resultado coletivo. Depois para a categoria de cadetes, é um momento mais de aprendizagem, visto que a Mariana Resende é uma atleta que se está a iniciar agora na estrada com mais regularidade. Para as juniores, é manter a camisola de líder de Taça e nós elites é manter aqui uma corrida defensiva, mas ao mesmo tempo que nos permita fazer alguma luta pela classificação geral também” Palavras de Liliana Jesus ao Bola na Rede.
Liliana rejeitou ainda sentir pressão, relativamente à potencial coroação antecipada de uma vencedora da Taça em elites e sub-23. Frisou, todavia, que acreditava que as classificações de cadetes e juniores ficassem mais definidas e apontou a Volta a Portugal como o próximo objetivo.
Nas juniores, Marta Carvalho chegava em grande forma, depois de ter ganho as duas últimas provas da Taça no escalão e também uma corrida a 3 de junho em Espanha (esta última ao serviço da Seleção Nacional) A ameaça mais direta estava em Daniela Simão, jovem de 16 anos que representa a Academia de Ciclismo Efapel e que se encontrava apenas a 25 pontos do primeiro posto.
Daniela Simão falou ao BnR antes de arrancar para a penúltima prova da Taça e destacou o objetivo de manter o seu segundo lugar na geral.
“O objetivo para o dia de hoje seria manter o meu segundo lugar na Taça, vamos ver como é que corre” afirmou a corredora da Efapel.
Daniela negou também sentir-se pressionada pela possibilidade de Marta Carvalho selar a vitória na Taça já naquele dia.
“Não, tenho trabalhado como trabalhei desde o início da época, e agora vamos ver se tirei frutos da minha preparação”
O percurso tinha algum “sobe e desce”. mas o maior destaque ia para a existência de algumas zonas com empedrado. Um dos destaques do dia foi a presença de Beatriz Roxo, ciclista que corre ao serviço da Riomiera C.C. Meruelo, equipa espanhola, sendo que a portuguesa alinhou na Vuelta, que decorreu em abril. Roxo falou ao BnR sobre o que sentia em relação ao regresso às corridas portuguesas.
“É um misto de emoções voltar depois de bastante tempo sem correr aqui, voltar a este pelotão nacional, será bom de certeza” disse a antiga campeã nacional de juniores que apontou ainda os Campeonatos Nacionais, daqui a duas semanas, como o seu principal objetivo.
A CORRIDA
A corrida teve um início muito calmo, com apenas Mariana Britos, uruguaia da Maiatos, a lançar-se para a fuga, sem que ganhasse uma vantagem muito superior a um minuto para um pelotão encabeçado pela Efapel, com Beatriz Roxo e a Maiatos sempre muito bem colocadas. A Glassdrive estava mais espalhada no pelotão, mas Cristiana Valente permanecia próxima da frente e a Xtremosul mantinha-se também próxima da dianteira.
As decisões começaram logo na segunda volta, momento que marcava o final da prova para as cadetes, quando Leonor Casimiro arrancou para não mais ser alcançada, reforçando a vantagem para Emília Baía que ficou na terceira posição do dia (dentro do escalão). Casimiro tem agora uma vantagem de 42 pontos para Baía e precisa apenas de 8 pontos (equivalente a qualquer posição no top 5) na 5ª prova da Taça para confirmar o título.
E foi quando chegou a 3ª volta que a corrida ficou completa para as juniores, quando Daniela Simão aproveitou o final em subida para “explodir” apenas com Natalie Revelo (que se estreou a correr em Portugal), da Maiatos, na roda. Marta Carvalho chegou a poucos segundos na terceira posição, pelo que as corredoras da Extremosul e da Efapel partem para a última prova da Taça de Portugal, com os mesmos 125 pontos.
A colega de Carvalho, Raquel Dias, está a 45 pontos das duas primeiras pelo que ainda tem hipóteses matemáticas de ganhar a Taça de Portugal em juniores. Agora, seria necessário que Dias vencesse a última corrida da Taça e que tanto Marta Carvalho, como Daniela Simão, falhassem a presença nos 7 primeiros lugares.
Entretanto, nas elites, Mariana Britos não era alcançada, até à terceira volta quando a corrida começou a mexer. Ao fim da 3ª volta, já se isolava um grupo de 5 ciclistas: Cristiana Valente, Ana Caramelo, Beatriz Roxo, Liliana Jesus e Augustina Reyes. Destaque para a presença de duas ciclistas da equipa da casa, com Caramelo a ter o apoio de Reyes.
Cristiana Valente não teve medo de se expor e lançou-se ao ataque dentro da última volta, aproveitando a subida em empedrado, para se afastar do duo da Maiatos. Apenas Ana Caramelo foi capaz de se chegar à frente, tendo mesmo de fazer a ponte sozinha, uma vez que Reyes passou dificuldades.
Cristiana Valente parte para a última prova da Taça de Portugal com o título de elites praticamente garantido. Tem 170 pontos para 120 de Ana Caramelo, pelo que precisa apenas de pontuar ou então de que a rival direta não vença a última corrida da competição para confirmar o título no ano de estreia da Glassdrive no ciclismo feminino
Nas sub-23, a corrida foi completamente dominada por Beatriz Roxo, com a jovem corredora a fechar na 4ª posição, atrás de três elites. Laura Simão sprintou para ser a segunda melhor sub-23, com Johanna Luque, da Maiatos, a fechar no 3º lugar da categoria. Com isto, a mexicana vai para a última prova da Taça de Portugal com a luta pelo primeiro lugar no escalão sub-23 em aberto. Isto porque Nádia Henrique foi ao chão e “apenas” conseguiu 1 ponto ao fechar no 10º posto do escalão. As duas corredoras estão separadas agora por 16 pontos, com Laura Simão a 46 do primeiro lugar, pelo que a corredora da 5Quinas tem ainda uma chance muito ténue de vencer em sub-23. Para Henrique confirmar a vitória final, sem depender de Johanna Luque, necessita de acabar a última corrida, pelo menos, no segundo posto do seu escalão
Em equipas, a luta é a três: a Maiatos venceu o dia coletivamente, mas é a Extremosul que lidera a geral com 85 pontos, mais do que a formação da Maia e mais 20 do que a Glassdrive.
PÓS-CORRIDA
Após a cerimónia protocolar no pódio, o BnR falou com Marta Carvalho, com a líder da classificação de juniores a apontar a subida final para a meta como o momento decisivo da corrida, abordando ainda o que faltou para não conseguir a vitória.
“Hoje não estava nos meus dias, faltou pernas e também cabeça, mas a vitória foi muito bem entregue e hoje não deu” apontou a corredora da Extremosul que, de resto, apontou um bom resultado campeonato nacional de fundo como o próximo objetivo. A jovem de 17 anos falou ainda sobre a vitória alcançada a 5 de junho numa prova a contar para a Taça de Espanha.
“Quando acabei a corrida, ainda estava assim um pouco abesbílica porque não tinha a noção que tinha ganho, fiquei super contente, foi maravilhoso.”
O BnR tornou a ir ao encontro de Cristiana Valente que falou do momento decisivo da corrida.
“O nosso objetivo era, de facto, vencer a corrida, conseguir manter esta camisola. Não vínhamos de facto com nenhum plano, deixámos a prova rolar. Tentei atacar algumas vezes para sentir como estavam as minhas adversárias. Senti a meio da corrida que era possível ganhar hoje, que estava bem. Tenho uma adversária direta que eu sei que também estava muito bem, a Ana Caramelo que respondeu muito bem aos ataques que eu ia tentando impor, consegui durante alguns quilómetros manter-me isolada e destacada. Poderia dar para vencer isolada, não deu, mas também estava confiante para um sprint, achava que era possível vencer e assim foi. Viemos juntas até à meta e consegui vencer ao sprint. Estou bastante satisfeita” descreveu Cristiana Valente.
Já Daniela Simão, abordou também aquele que entendeu ser o momento decisivo da corrida
“Foi na última volta, na última subida em empedrado. Eu tentei dar tudo para partir o grupo ao máximo e depois vir a trabalhar até esta parte final que também era em empedrado” disse a corredora da Academia de Ciclismo Efapel que abordou também as ambições para a geral, perante a igualdade pontual com Marta Carvalho e o segundo lugar muito bem encaminhado.
“Continuamos sempre com a ambição de fazer melhor, mas gostava de manter o meu lugar e, se for possível ir ao primeiro lugar”.
A última corrida da Taça de Portugal Feminina ainda não tem data oficial, depois de ter sido cancelada a prova em Santarém, agendada para maio.
