Doping à Inglesa – De que vale a Ética?

    A primeira é de que é público o descontentamento – para não usar outros termos – de McQuaid por ter perdido a sua tentativa de reeleição na UCI para Brian Cookson, antigo líder do British Cycling. A outra é que apesar de todas estas declarações, McQuaid nunca agiu para controlar estes TUEs ou para colocar em causa a legitimidade das decisões do Dr. Zorzoli e o problema só começou a ser combatido já com Cookson na liderança da UCI.

    Wiggins e Brailsford são dos mais visados pelo Relatório Parlamentar
    Fonte: Team Sky

    Quanto a Wiggins, os TUEs foram admitidos para tomar Triamcinolone dentro de competição, já que se trata de uma droga legal fora desta, para tratar a asma do britânico. Sim, há um número enorme de atletas que dizem ter asma, no Reino Unido serão 20% dos atletas Olímpicos, contra os 8% da população em geral. Se, por exemplo, no caso da natação há um número anormalmente grande de asmáticos devido aos químicos usados para tratar a água das piscinas, em certos desportos há quem questione a veracidade destas doenças. Referir ainda que para vários especialistas no tratamento de doenças respiratórias, o recurso a este medicamento indica uma má gestão da condição médica do atleta, já que há alternativas tão eficazes e com efeitos secundários menos severos.

    O ex-ciclista David Millar, que foi a certa altura da sua carreira suspenso por doping e, a partir daí, se tornou uma das vozes mais fortes do pelotão no combate e prevenção a estas infrações, fala extensivamente sobre este tema no seu artigo do New York Times, “How to get away with doping”.

    Uma das histórias referidas no artigo é de quando recebeu um TUE para uma falsa lesão no tendão, bastando que um médico passasse uma receita médica de como precisava de ser tratado com certo medicamente através de injeção intra-articular. Millar revela ainda que recorreu por três vezes na carreira ao Triamcinolone, o medicamento mencionada nos leaks do Fancy Bears, uma por doença e as outras para melhorar o desempenho desportivo e descreve o efeito desta na forma como fazia o corpo perder peso sem perder potência. Isto pode, em parte, ir de encontro a uma dúvida lançada sobre a transformação de Wiggins ao longo da sua carreira, já que este perdeu peso para trepar melhor, mas, contrariando o saber comum, não perdeu poder no contrarrelógio, a sua especialidade.

    No entanto, o relatório aborda mal esta questão e coloca-a em termos longe do razoável ao comparar o seu peso de corrida na estrada de 70Kg com o da sua participação Olímpica de 2016 de 83Kg. Desde logo, porque estas mudanças provocadas pelo recurso a medicamentos são ganhos marginais, que influenciam a capacidade desportiva em atletas de elite, mas incapazes de operar perdas de peso de mais de uma dezena de quilogramas.

    Adicionalmente, tratam-se de períodos bem diferentes da sua carreira, já que após a sua tentativa falhada de disputar o Giro 2013, o britânico começou a ganhar peso com os objetivos de, primeiro, disputar o Paris-Roubaix e, seguidamente, voltar à pista para a Perseguição por Equipas nos Jogos do Rio, duas vertentes em que o ciclista precisa de muito mais peso do que quando disputa provas baseadas em subir montanhas.

    E o que dizem sobre tudo isto os protagonistas? Wiggins defende o uso, diz que necessitava da medicação e que esta não lhe deu vantagem, apenas voltou a nivelar o campo, permitindo-lhe alcançar o seu nível de forma normal se não estivesse a sofrer com a doença. Richard Freeman, o médico responsável, recorre no seu depoimento muitas vezes ao sigilo médico-paciente para dar meias respostas, falando do facto do facto muitas vezes esquecido de que os atletas profissionais raramente competem sem qualquer doença ou lesão, defende-se afirmando que só administra medicamentos para necessidades médicas e que o processo para os TUEs é transparente e independente.

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