Philippe Gilbert: Memórias de um “matador” sem preferências

    MAIORES FEITOS PESSOAIS

    Em outubro de 2009, competia já Philippe pela equipa da Silence-Lotto (atualmente, Lotto Soudal), tendo iniciado esta sua gloriosa e inigualável passagem pela estrutura belga no início desse ano, após deixar o conjunto do deveras emotivo Marc Madiot, a Française des Jeux (ou FDJ), aonde se encontrava desde o final de 2002.

    Philippe Gilbert chegava às competições de outono de 2009 com um jejum de vitórias de quatro meses, com uma veia ganhadora adormecida, mas que se despertou revigorada no mês de outubro: as três corridas de um dia que antecederam o último monumento do ano, a Lombardia (Coppa Sabatini, Paris-Tours e Gran Piemonte), terminaram todas com Gilbert no lugar mais alto do pódio. Com a exibição deste sublime estado de forma, o ciclista belga passou a ser apontado como um dos principais favoritos à conquista do derradeiro monumento da temporada. Aí, não vacilou: desferiu um potentíssimo ataque em San Fermo della Battaglia e acabou por bater Samuel Sánchez num renhido mano a mano.

    2009, anunciação, 2010, confirmação. Numa Lombardia contemplada com chuva torrencial e com um percurso mais duro, que não favorecia Philippe Gilbert, o mesmo contrariou as probabilidades e não deu quaisquer hipóteses aos seus rivais, chegando a Como isolado, com o já falecido Michele Scarponi a chegar em segundo lugar.

    O RECORDE DA TRIPLA HISTÓRICA DAS ARDENAS

    2011 foi o ano de Gilbert e uma das principais razões que contribuiu para a chegada a esta conclusão foi a conquista da tripla histórica das Ardenas (vencedor da Amstel Gold Race, Flèche Wallonne e Liège-Bastogne-Liége, num período oito dias). A este feito absolutamente inacreditável, apenas alcançado também por um outro ciclista na história, o italiano Davide Rebellin, juntou ainda o triunfo na Brabantse Pijl, alcançado imediatamente antes da Amstel Gold Race, prova conquistada quatro vezes por Gilbert.

    Na campanha de clássicas das Ardenas dessa temporada, Gilbert demonstrou, através das suas exibições, o porquê de merecer a alcunha de “javali das Ardenas”: na Amstel, afirmou ser o rei do Cauberg; na Flèche, foi o mais forte no inclinadíssimo Mur de Huy; e na Liège, superou os dois irmãos Schleck com o sua a ponta de velocidade final superior.

    CAMPEÃO MUNDIAL DE ESTRADA EM 2012

    2012, até aos campeonatos mundiais, havia sido um ano bastante difícil para Philippe Gilbert, que vinha exibindo grandes dificuldades em adaptar-se à sua nova equipa, a BMC, e que contabilizava nessa época apenas 2 vitórias na Vuelta a España. Porém, tudo mudou, indubitavelmente, com a prova em linha dos campeonatos mundiais de estrada.

    A prova dos campeonatos do mundo disputou-se no país vizinho do ciclista belga, os Países Baixos, e contou com diversas passagens por aquele que é, porventura, o seu “muro” favorito, o Cauberg, nunca ausente da Amstel Gold Race. Cauberg incluído, espetáculo de Gilbert garantido, e assim sucedeu… Na última passagem pelo muro, Gilbert, guiado pelos seus compatriotas, arrancou desenfreado e desferiu nos adversários um dos mais duros golpes de toda a sua carreira. O ataque de Gilbert, a cerca de dois quilómetros da meta, foi tão potente que ninguém conseguiu sequer colar-se à sua roda na roda e o belga só parou quando verificou que a camisola do arco-íris iria ser envergada por ele durante um ano.

    O VALÃO REI DA FLANDRES

    Com 34 anos, o valão Philippe Gilbert, já com um palmarés invejável, decidiu que iria dedicar-se à conquista dos três monumentos do universo velocipédico qua ainda não faziam parte da sua vitrine de troféus, o Paris-Roubaix, a Volta a Flandres e a Milano-Sanremo. Para que esses seus três sonhos se tornassem realidade, teria de, na sua ótica, sair da equipa onde se encontrava, a BMC, e assinar pelo conjunto especialista nas provas de um dia, a Quick-Step, e assim aconteceu.

    Logo no primeiro ano na equipa de Patrick Lefevere, foi coroado vencedor, não só da Amstel Gold Race, mas também da Volta a Frandres. Esse triunfo na Volta a Flandres configura, garantidamente, uma das melhores exibições da última década nesse monumento: Gilbert, exímio puncheur, fez das fraquezas forças e, com um inalcançável ataque irrefletido, a mais de 50 km da meta, resistiu estoicamente e teve ainda tempo de desmontar da bicicleta e de a erguer orgulhosamente no risco de meta com a maillot de campeão nacional belga envergada, demonstrando ser um classicómano completo e um valão com um espírito de flandrien.

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    Miguel Monteiro
    Miguel Monteirohttp://www.bolanarede.pt
    O Miguel é um estudante universitário natural do Porto, cuja paixão pelo desporto, fomentada na infância pelos cromos de Futebol que recebia e colava nas cadernetas, considera ser algo indescritível. Espetador assíduo de uma multiplicidade de desportos, tentou também a sua sorte em algumas modalidades, sem grande sucesso, tendo encontrado agora na análise desportiva uma oportunidade para cultivar o seu amor pelo desporto e para partilhar com os demais as suas opiniões, nomeadamente de Ciclismo, modalidade pela qual nutre um carinho especial.