Recordar é Viver: Agostinho e a Volta que não contou

Agosto de 1975. Não é só na temperatura que o verão português é quente. Sedes de partidos são vandalizadas, jornalistas saneados, o Emissor Regional da Madeira é parcialmente destruído num atentado. E, no meio disto, onde fica a festa do povo?

Parada, porque a Volta a Portugal não vai para a estrada. O problema começa a desenhar-se em fevereiro. Fruto da instabilidade revolucionária, as equipas Ambar e FC Porto já não vão para a estrada, o SL Benfica equaciona deixar o profissionalismo e só Sporting CP e Coelima são presenças assíduas no estrangeiro.

Nos meses seguintes, a organização da Volta envia cartas à Federação a requerer esclarecimentos, mas não recebe respostas. O Secretário de Estado dos Desportos, Luís Casanova, cria um grupo de trabalho para estabelecer regras para a Volta e, entre desrespeitos aos regulamentos UCI ou a definição de burocracias como hora limite para o termo das etapas (17 horas), é demonstrada uma total alienação da realidade da modalidade.

Por fim, a meados de julho, a Federação anuncia o cada vez mais esperado cancelamento da Volta a Portugal, invocando «inúmeros obstáculos surgidos, por banda de entidades oficiais e particulares».

Contudo, tal como em Itália na II Guerra Mundial, em que o cancelamento do Giro d’Italia fez surgir os chamados Giri di Guerre, os homens do pedal não se fecham em casa. Há uma solução para levar a bicicleta para os caminhos de Portugal. A cerveja Clok chegou-se à frente e patrocinou um Grande Prémio com o seu nome nos últimos dias de agosto.

Terá João Rodrigues a oportunidade que Fernando Mendes não teve de defender o título da Volta?
Fonte: José Baptista/Bola na Rede

Um prólogo e mais oito etapas (algumas divididas em setores) pela zona sul do país fazem o percurso desta “Volta” alternativa. O Sporting venceu o crono coletivo inaugural a jogar em casa, na Pista de Alvalade, e José Amaro triunfou nas duas etapas seguintes para manter os leões no controlo.

A terceira etapa começa a definir a Geral. É o benfiquista Fernando Mendes, campeão nacional em título e vencedor da Volta em 1974, o primeiro a cruzar a meta, mas Joaquim Agostinho, que tinha um mês antes participado sem grande brilho na sua sétima Volta a França e alcançado a pior classificação da carreira na Grande Boucle, é quem assume a liderança, continuando assim o topo da Geral a ser ocupado por um sportinguista.

No dia seguinte, Álvaro Ramos deu um triunfo ao Louletano, mas daí para a frente voltaria a só dar Sporting. Mais três vitórias de Agostinho, incluindo no contrarrelógio individual final, selaram a conquista da prova pelo mais galardoado ciclista português, que seria acompanhado no podium final por Fernando Mendes e ainda José Martins, o líder da Coelima.

Poderá dizer-se que o PREC tirou a Agostinho uma vitória na Grandíssima. Mas a 25 de novembro deu-se o início do fim e, a partir daí, nunca mais nos faltou a Volta a Portugal. Até quando?

Foto de Capa: Sporting CP

Artigo revisto por Mariana Plácido

José Baptista
José Baptista
O José tem um amor eclético pelo desporto, em que o Ciclismo e o Futebol Americano são os amores maiores. É licenciado em Direito (U. Minho) e em Psicologia (U. Porto).

Subscreve!

Artigos Populares

Fechado: Pedro Russiano vai ser o novo treinador do Penafiel, sabe o Bola na Rede

As negociações entre o treinador Pedro Russiano e o Penafiel foram concluídas com o sucesso e o técnico assume a equipa da Segunda Liga.

José Boto pode apresentar demissão no Flamengo: eis o motivo

O futuro de José Boto no Flamengo pode estar a chegar ao fim. Em causa está uma contratação cancelada pelo clube brasileiro.

Alvo do Benfica falha apresentação aos trabalhos no Lyon

Thiago Almada não se apresentou aos trabalhos junto do Lyon. Médio não integra lista divulgada pelo conjunto francês.

Nápoles chega aos 55 milhões de euros por antigo avançado do Benfica

O Nápoles ataca com força o mercado com vista à próxima época. Darwin Núñez é um dos objetivos do emblema italiano.

PUB

Mais Artigos Populares

Kika Nazareth: «Foi um jogo à Portugal»

Kika Nazareth falou após o desafio entre Portugal e a Itália, relativo à segunda jornada da fase de grupos do Euro 2025 Feminino.

Eis as contas de Portugal para se apurar para os quartos de final do Euro 2025 Feminino

Portugal empatou com a Itália ao cair do pano e continua vivo na luta pelos quartos de final do Euro 2025 Feminino. Eis as contas do apuramento.

Assinatura de Jorge Jesus pelo Al Nassr foi adiada

Jorge Jesus está muito perto de assinar pelo Al Nassr. O técnico vai ser assim o novo treinador de Cristiano Ronaldo e Otávio.