Segunda-feira, 22 horas e 20 minutos. Chego a casa vindo da aula de espanhol e começo a ver as notícias, como é meu costume, e é quando vejo que o António Félix da Costa não foi escolhido para o lugar que estava vago na Toro Rosso. Uma grande desilusão para mim, para o formiga e para todos os portugueses que assim veem novamente gorada a presença de um português na F1.
O português viu o lugar ser comprado pelo russo Daniil Kvyat. Comprado é mesmo a palavra certa, já que a escolha deveu-se mais ao dinheiro que o russo podia pagar – fala-se em 15 milhões de euros – do que à qualidade dos dois pilotos; apesar de não ser um mau piloto, como os resultados mostram, ainda está no início da carreira. Para o formiga, resta continuar a trabalhar, na esperança de conseguir o merecido lugar na F1, o que não vai ser fácil embora devesse acontecer já em 2014.
Mas não é só em Portugal que esta notícia “chocou”: em todos os meios de comunicação especializados nota-se o espanto dos especialistas por Félix da Costa não ter um volante na F1 na próxima temporada. Destaco esta frase de Will Buxton, comentador da NBC: “O Félix da Costa é o número 1 na lista de pilotos mais talentosos que vi na última década. Tem o tipo de talento que faz o teu coração palpitar… A primeira reação? Mais uma péssima decisão da Red Bull, que desafia qualquer tipo de lógica e deixa outro enorme talento no lixo…“. Esta é apenas uma das muitas mensagens do género que se encontram pela blogosfera.

Fonte: alvaroparentegp2.wordpress.com
De resto, não é a primeira vez que vemos um piloto português ficar de fora da F1: já em 2010 Álvaro Parente não entrou no grande circo por razões financeiras. Em 2008, Parente tinha feito um teste com a Renault F1, em que fez melhores tempos do que alguns pilotos consagrados da F1, como David Coulthard. De recordar que o piloto portuense em 2007 conseguiu vencer a World Series By Renault, campeonato de formação que teve entre os vencedores Fernando Alonso e Robert Kubica. O destaque deste título de 2007 é que foi ganho, entre outros, a Sébastien Vettel, que não fez o campeonato todo; o alemão é hoje tricampeão do Mundo de F1, devendo garantir o quarto título já este domingo. Quanto a Parente, na temporada 2013 corre na GT Series na classe Pro ao lado de Sébastien Loeb – sim, este mesmo. Para já, estão em quinto na competição, quando faltam duas provas para o final.
Em 2007 ficou outro português à frente de Vettel: falo de Filipe Albuquerque. O conimbricense, tal como Félix da Costa, também pertenceu à equipa júnior da Red Bull, tendo sido considerado em 2006 o melhor piloto da equipa júnior austríaca. Apesar disto, o máximo que conseguiu foi a participação em três sessões de demostração do Red Bull F1 e um teste na Toro Rosso, precisamente em 2007. Hoje em dia, o português corre no DTM (campeonato de carros de turismo da Alemanha), na equipa da Audi, tendo ficado em 18º na classificação, com 18 pontos.

Fonte: thecheckeredflag.co.uk
Já não temos um português no grande circo desde 2006, quando Tiago Monteiro saiu da Spyker F1 Team por não ter dinheiro para ir para uma equipa superior dentro da F1. O portuense, em 2005, então pela Jordan, tinha sido considerado o Rookie do ano. O português detém ainda dois recordes na F1: o de estreante com mais corridas concluídas (18) e o de mais corridas consecutivas terminadas no ano de estreia (16), ambos conseguidos em 2005. Monteiro conseguiu, ainda em 2005, o único pódio de um português na F1. Embora este pódio tenha sido obtido em condições muito especiais – as equipas que usavam pneus Michelin não puderam participar na corrida por razões de segurança –, não deixa de ter valor, pois teve de derrotar os dois pilotos da Minardi e o seu companheiro da Jordan. De relembrar que o portuense corre actualmente no WTCC (campeonato do mundo de carros de turismo), sendo que em 2014 vai continuar na equipa oficial da Honda.
Quando será que voltamos a ter um português na F1? Qualidade não falta a alguns pilotos portugueses, falta é o dinheiro para poder comprar um lugar numa equipa, já que hoje em dia esta é quase a única forma de se entrar nesta competição.