«Devíamos investir mais porque temos muito talento em Portugal» – Entrevista BnR com Henrique Chaves

– A relação de Portugal com os Desportos Motorizados –

«Já não há muito interesse da parte da Fórmula 1 em vir a Portugal, porque, realisticamente, somos um país pequeno em dimensão».

Bola na Rede: Vivemos num país que tem o futebol como o maior destaque. Assim, pergunto-te, o que achas que Portugal tem feito para que o Desporto Motorizado se torne mais eficiente no nosso país, no que concerne a formação de novos atletas e à melhoria de resultados destes atletas a nível nacional e internacional? Achas que a influência de pilotos portugueses bem sucedidos no panorama internacional como o António Félix da Costa, o Filipe Albuquerque, ou mesmo tu, poderia ajudar nessa possível eficiência?

Henrique Chaves: Acho que não estou muito dentro do assunto, nem quero estar, porque, por vezes é algo que me chateia – o foco todo no futebol – mas eu acho que se tem feito muito pouco. Obviamente que há iniciativas, há pessoas a tentar divulgar mais, dar mais visibilidade, promover mais o Desporto Motorizado, mas acho que se tem feito pouco. Nós [pilotos] tentamos, ganhando Le Mans (…), ainda o Filipe Albuquerque esteve há pouco tempo perto de vencer o Campeonato de Resistência dos Estados Unidos [IMSA], o António [Félix da Costa] ganhou o Campeonato de Fórmula E recentemente, portanto, todos esses pilotos, não só nas quatro rodas, por exemplo, o Miguel Oliveira, que este fim de semana [1-2/10] ganhou uma corrida no MotoGP, que, no fundo, é a Fórmula 1 do Motociclismo.

Ainda assim, acho que ainda há muito pouca divulgação, incentivo, muito pouco apoio. Honestamente, acho que temos muito talento em Portugal – nós somos poucos, mas somos muito bons – e até estou farto de dizer isto, corri contra pilotos no karting que eram muito bons e com muito talento – talento sem trabalho não vale de muito – mas, com mais apoio, mais incentivos por parte do país, ou mesmo divulgação, porque se não houver divulgação, não há interesse dos patrocinadores, e se os patrocinadores não tem interesse, não há dinheiro, e é um desporto que, por si só, é caro. Não é comprar um par de botas e uma bola e jogar. É preciso, de facto, investimento, e se calhar, esse é um dos maiores problemas. É preciso investimento para mostrar resultados, e não o contrário.

Mas, acho que devíamos investir mais porque temos muito talento em Portugal. Por exemplo, no campeonato que faço do European Le Mans Series [ELMS], temos um miúdo – o Guilherme Oliveira – que está muito bem, está a liderar o campeonato na categoria dos LMP3. Mas, lá está, é mais um que teve que fazer o percurso nos karts, passar para o Automobilismo, e tudo isso é muito difícil, e se calhar, de um lote nos kartings que temos de 10, 20, 30 pilotos, sai um. Não há investimento, não há esse interesse. A Federação tenta fazer algumas coisas, mas não tem capacidade para mais. E é uma pena, porque temos grandes pilotos, que estão escondidos ou não podem mostrar aquilo que valem porque não há esse financiamento, esse apoio de Portugal.

Bola na Rede: Agora, faço-te a mesma pergunta, mas em relação aos campeonatos e à organização de novos eventos. Achas que, em Portugal, tem havido alguma melhoria e maior incentivo à realização destes eventos?

Henrique Chaves: Tenho que ser 100% honesto, eu não sigo Desporto Motorizado em Portugal. Não sei se isso já responde, de certa forma, à tua pergunta. Obviamente que sigo algumas coisas, mas, se calhar, quando há 12 ou 13 carros inscritos, mas depois fazem seis categorias para dar um pódio a todos os carros, acho que não é assim que crescemos. Acho que deve haver uma categoria, ou duas, claro que depois há certas diferenças, mas acho que temos que fazer com que as pessoas que lá estão lutem para melhorar, e só assim é que podemos chegar aos grandes palcos, na Europa, no Mundo.

Tem vindo a haver progressos, naquilo que é a organização de Campeonatos Nacionais, mas acho que é preciso fazer mais. Por exemplo, é preciso melhorar na promoção deles [campeonatos]. Acho que os Ralis sempre foi algo com muita visibilidade em Portugal, temos tido boa promoção, pois os ralis, em si, têm uma História em Portugal, e por isso, também tem bons campeonatos. Mas há outros campeonatos, outras categorias em que é preciso inovar, é preciso melhorar, e por vezes, copiar exemplos que hajam além-fronteiras, não é mal de todo. Ou seja, se há uma solução do outro lado que funciona, não há problema nenhum em copiar a ideia. Ainda agora a Fórmula 1 introduziu as sprint races, e acho que a MotoGP vai introduzir também umas corridas de sprint. Não quer dizer que seja uma cópia. Se é um produto que funciona, vamos tentar buscar aquele produto para aqui, a ver se funciona. E acho que Portugal devia fazer mais isso, e não ter aquele pensamento de «vamos fazer nós, vamos fazer assim», porque, por vezes, sai furado.

Em 2023, está confirmado o regresso da WEC em Portugal, para as 6 Horas de Portimão.
Fonte: TF Sport

Bola na Rede: Portugal tem conseguido assegurar grandes eventos de Desporto Motorizado como o Rali de Portugal, da WRC; o Grande Prémio de Portugal, da MotoGP; as 4h de Portimão da ELMS e, em 2023, as 6h de Portimão, da WEC. Quais mudanças seriam necessárias para Portugal conseguir assegurar o Grande Prémio de Portugal da Fórmula 1, tendo em conta que só o conseguiu, nos anos de pandemia?

Henrique Chaves: A Fórmula 1 está a mudar. A Fórmula está muito baseada no dinheiro, e, no fundo, aquilo é um negócio, e o negócio tem que dar lucro. Já não há muito interesse da parte da Fórmula 1 em vir a Portugal, porque, realisticamente, somos um país pequeno em dimensão, ou seja, em termos de área, somos pequenos. Apesar de, se formos colocar o oceano com as ilhas, somos bastante grandes em dimensão, mas, nem sempre é visto assim. E acho que, por isso, é um mercado pequeno para a Fórmula 1, é um mercado pequeno para as marcas, que, por vezes, tem mais interesse em ir aos Estados Unidos porque podem vender mais carros ou mais latas de Red Bull, ou se calhar, aos Emirados, onde podem pagar 40 ou 45 milhões por um Grande Prémio, e Portugal não tem dimensão nem capacidade para trazer um Grande Prémio, nas condições normais. Obviamente que, no COVID-19, foram situações extraordinárias, mas, em condições normais, não temos capacidade para o fazer.

Se calhar, se houvesse uma História mais abrangente no Desporto Automóvel em Portugal, noutras categorias – por exemplo, vamos trazer o WEC [2023]. Se conseguirmos manter o WEC no calendário, ir a Portimão, no próximo ano, e manter para os próximos anos, pode criar aqui alguma tendência, e poderá haver mais interesse por parte da Fórmula 1 em dizer «se calhar Portugal faz sentido aparecer no calendário». Talvez não como uma prova para aparecer todos os anos, mas talvez uma rotatividade – aparecer um ano, e voltar passados dois anos – mas, estar cativo, digamos assim, no calendário de Fórmula 1, acho mesmo muito complicado. E eu, pessoalmente, não sei o que é que Portugal poderia fazer para ter. Não é realista, acho que a solução seria encontrar um poço de petróleo infinito, sermos riquíssimos, e só aí é que a Fórmula 1 poderia ter interesse (risos). Mas, acho que não, acho muito difícil que a Fórmula 1 venha a Portugal mais recorrentemente.

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Angelina Barreiro
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Natural de Monção, a Angelina é Licenciada em Relações Internacionais e, Mestre em Economia Social pela Universidade do Minho. Vê o desporto como um dos bons lados da vida, que forma uma boa parceria com a escrita e o jornalismo. O seu interesse pelo desporto surgiu cedo, tendo como principal área de interesse o Futebol, o Ténis e a Fórmula 1.

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