Ferrari: Um caso sério de consistência… em má estratégia

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    Chegámos a meio da temporada da Fórmula 1, mas uma coisa já conseguimos perceber: a Scuderia Ferrari e as estratégias bem aplicadas não jogam no mesmo campeonato.

    Voltemos ao Bahrain. Ainda em março, a Scuderia Ferrari mostrava-se algo brutal. Charles Leclerc teve um fim de semana fantástico, naquele que foi o primeiro da temporada, com Carlos Sainz a segurar a segunda posição. Existia uma equipa quase que a renascer daa cinzas que foram os últimos anos. Também na Arábia Saudita e na Austrália, as coisas soavam de feição para a equipa de Maranello, mas acabou por se tornar, tudo, fogo de vista.

    As expectativas dos tiffosi estavam claramente em alta depois deste arranque de temporada e, principalmente, depois dos últimos resultados no campeonato de construtores – a Ferrari alcançou o terceiro lugar em 2021 e o sexto em 2020.

    Depois dos três primeiros grandes prémios de 2022, foi um festival de más escolhas e de más estratégias que levaram a quase tudo possível e imaginário dentro daquilo que pode acontecer de mau a uma equipa e aos seus pilotos em corrida.

    Depois de liderar o campeonato de construtores, tendo quase o dobro dos pontos da Red Bull, a Ferrari já foi alargamento ultrapassada pela equipa de Milton Keynes e até mesmo Charles Leclerc leva uma toada de avanço pela parte de Max Verstappen (levando até muitos a pensar que o campeonato está entregue e resolvido depois do último Grande Prémio da Hungria).

    Todos sabemos que dentro da cabine italiana as coisas nem sempre correram assim tão bem, nomeadamente os casos de Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Pelos vistos, Charles e Carlos estão a sofrer dos mesmos e outros problemas que os campeões mundiais que passaram pela equipa sofreram outrora.

    São erros atrás de erros que vão fazendo com que a Ferrari fique cada vez mais para trás na classificação. Tudo começa na Austrália, com os problemas no carro de Carlos Sainz logo no começo da corrida. Se pensávamos que tudo ficava por aí, o GP de Ímola também não foi amigo da Ferrari e, mais uma vez de Sainz, que ficou pela gravilha na primeira curva. Se tudo estava a correr mal, apareceu mais um azar e, desta vez, para Charles Leclerc. A culpada? A estratégia. A Ferrari decidiu parar o monegasco para colocar pneus macios e, na Variante Alta, Leclerc foi conhecer o muro. Tudo correu bem para o piloto a nível físico, pois o possível pódio ficou pelo caminho, pois a equipa voltou a parar o piloto para um novo jogo de pneus.

    Já em terras catalãs, no GP de Espanha, Leclerc tinha tudo para vencer. Arrancou da pole position e Max Verstappen mostrava problemas no DRS. O monegasco estava praticamente a correr sozinho – esqueceu-se que o próprio carro era também um adversário, depois de uma perda de potência “imprevisível” que o fez abandonar. Já Carlos Sainz não teve, propriamente, uma corrida feliz “em casa”, dado ter tido um mau arranque e ainda fez um pião. No fundo, a Ferrari andava às voltas nas voltas que a vida dá. Era o início de um enorme pesadelo em Maranello.

    Mónaco foi algo semelhante a inferno onde tudo correu mal. A estratégia da Ferrari foi só inconsequente para aquilo que era supostamente o objetivo – a vitória. A pista estava molhada e, automaticamente, pensava-se em usar intermédios até secar. O dilúvio foi intenso, houve uma grande pausa até ao retorno e a Ferrari decidiu, à 22ª volta, parar os dois pilotos para duros, em trocas que demoraram uma eternidade e que fizeram os pilotos cair na tabela. A maldição de Leclerc no Mónaco permanece e teima em não desaparecer.

    Baku traduziu-se em mais do mesmo, com os F1-75 do monegasco e do espanhol. O último, depois de vir embalado pelo fim de semana fora, durou umas incríveis oito voltas até o carro decidir dizer que não lhe apetecia estar mais ali e se revelar um problema hidráulico. Quanto a Charles Leclerc, foram precisas mais 13 voltas do que Sainz para abandonar, quando o motor quebrou novamente. Depois disto, Mattia Binotto mostrava-se como a população mundial durante o auge da pandemia em que “vai ficar tudo bem” e muitos arco-íris.

    Em Silverstone, Sainz venceu, mas a estratégia saiu por cima… e pela culatra. A corrida começou com um grande susto e muita confusão, depois do acidente de Zhou e algumas batidelas pelo meio. Leclerc tinha a asa danificada e Sainz estava a voar perante um Max Verstappen com dificuldades. Depois de uma troca de pneus no monolugar do espanhol, Leclerc mostrava-se mais rápido que o colega de equipa, mas a Ferrari – depois de demasiadas voltas de insistência depois da troca – disse a Sainz para deixar o monegasco passar para a sua frente. O problema reside na volta 40, quando existe um Safety Car chamado à pista e Sainz troca para pneus amcios, mas Leclerc permanece… com pneus duros. Não sendo preciso pensar muito, tendo os dois pilotos em boa posição na pista e Leclerc a lutar pelo campeonato… a Ferrari decidiu fazer exatamente o contrário do óbvio e custaram o pódio ao monegasco, perdendo, igualmente, pontos importantes para a equipa.

    Já não falamos de motores há muito tempo, não é? Pronto, o de Carlos Sainz no Grande Prémio austríaco quis aparecer e fazer o espanhol desaparecer da corrida. Mais uma moedinha, mais um motorzinho, mais uma puniçãozinha para a corrida seguinte. O pânico ainda se instalou por momentos, enquanto se deu um pequeno incêndio no monolugar, mas tudo acabou em bem. Leclerc venceu – mesmo com um problema no acelerador (pensavam mesmo que não ia haver qualquer problema no carro durante a corrida?), para não ser tudo extraordinariamente péssimo para a equipa como estava a ser até então.

    Mas em França, os problemas disseram “ici” (presente, na tradução). Lembram-se do acelerador de Leclerc na Áustria? Ficou preso até chegar a Paul Ricard. Na volta 18, o monolugar foi dizer “bonjour” às barreiras e se há coisa que não se esquece foi o berro do piloto no rádio com a equipa. No que concerne a Sainz, partiu de 19º depois das trocas de componentes e acabou em quinto lugar. Foi uma corrida de senhor do espanhol, mas a equipa decidiu estragar a festa. Carlos, já depois de ser penalizado devido a sair de forma insegura das boxes, estava a tentar ultrapassar Pérez quando a equipa o chamou para trocar de pneus. O piloto ainda ignorou, mas acabou por aceder ao pedido. Já para não falar das vezes em que teve de corrigir o engenheiro nas comunicações por rádio.

    Para finalizar esta consistência da Ferrari, chegamos à Hungria. George Russell foi implacável ao conseguir a pole position à frente dos pilotos de Maranello e, no domingo, havia muito a provar. Na segunda metade de uma corrida que corria bem para a equipa, a Ferrari decidiu estragar tudo, mais uma vez, com… a estratégia. Charles Leclerc foi chamado às boxes e trocou para pneus… duros. No fundo, isto diz tudo. O monegasco estava na luta pelos pontos, pelo pódio e com um piloto a lutar pelo título. Numa troca, tudo parece inalcançável. Carlos terminou a corrida em sexto lugar, Charles em quarto. No final da corrida, o pódio juntou-se na cooldown room e foi percetível o quão estupefactos Lewis Hamilton, Max Verstappen e George Russell ficaram com esta decisão.

    Em jeito de comparação, a evolução da Mercedes ao longo de cada Grande Prémio é notória e notável. George Russell e Lewis Hamilton voltam ao pódio na Hungria. Com um défice maior, depois de terem começado a temporada de forma (podemos chamar) quase miserável, onde os problemas no monolugar pareciam não desaparecer, conseguem sobrepor-se àquilo que a Ferrari tem demonstrado. São as estratégias desalinhadas, os notórios desentendimentos entre pilotos e engenheiros, fora tudo o resto que vemos ao longo de cada fim de semana.

    Espera-se mais da equipa de Maranello para o que resta de uma temporada que parece resolvida, mas em que os fãs da modalidade esperam que ainda haja emoção.

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    Andreia Araújo
    Andreia Araújohttp://www.bolanarede.pt
    A Andreia é licenciada Ciências da Comunicação, no ramo de Jornalismo. Depois de ter praticado basquetebol durante anos, encontrou no desporto e no jornalismo as suas maiores paixões. Um dos maiores desejos é ser uma das vozes das mulheres no mundo do desporto e ambição para isso mesmo não lhe falta.