
Para quem gosta de desporto de duas ou quatro rodas, estes últimos meses foram de euforia com as novidades e possibilidades para o futuro. Sem pensarmos noutros intervenientes, temos dois circuitos a lutar pelas maiores categorias do desporto. Ou será que a resposta é mais simples do que se pensa? Com a possibilidade da Fórmula 1 regressar a Portugal em 2027, anunciada pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro em agosto de 2025, muita coisa se tem falado e discutido. Mais recentemente, e em campanha para as eleições autárquicas, o candidato da coligação PSD/CDS-PP e ainda vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais (CMC) Nuno Piteira Lopes admitiu que estaria nos seus planos regressar com as duas categorias rainha (F1 e MotoGP) ao Circuito do Estoril (CE), em Cascais, já a partir de 2027.
Mas a realidade não é assim tão simples. O circuito ainda não pertence à Câmara apesar de, em 2015, ter chegado a acordo com a empresa que detém o mesmo, mas a compra foi chumbada pelo Tribunal de Contas. Este ano, a CMC voltou às negociações em janeiro, com vista a adquirir e a ser gestora do Autódromo. Paralelamente, o CE tem sido alvo de processos judiciais sobre o ruído em track days que emite da sua propriedade para os moradores locais, que tem provocado bastante discórdia nas redes sociais.
Em termos de mudanças, primeiramente, uma manutenção de raiz às boxes seria o ideal. Não se encontram em forma de receber os maiores manufatores seja de que categoria for. Depois, o sistema de som, que apesar da melhora, continua sem se conseguir ouvir nem entender o que se é dito no microfone. Existe ainda a falta de um ecrã gigante para quem acompanha a corrida das bancadas. E por falar em bancadas, a clara manutenção das bancadas A e B, e a abertura e manutenção das que se encontram espalhadas pelo circuito (sem falar da desmontagem da bancada VIP da curva 1).
Infelizmente, não é um projeto fácil e rápido. A atenção que se devia ter sido dada ao CE já vem desde há muito tempo e a degradação do mesmo vê-se constantemente.
Portimão, por outro lado, recebe hoje quase todas as provas internacionais que passam por Portugal – MotoGP, WorldSBK (que também passa pelo CE), ELMS, GT Open, F1 em 2020/21 e WEC em 2023. O circuito algarvio também se encontra numa zona afastada da população e tem vindo a receber cada vez mais elogios, sendo o mais reconhecido de “montanha-russa” pelos seus altos e baixos. Mas também não é um mar de rosas – tem problemas que incomodam os visitantes do mesmo.
Não são problemas estruturais, até porque consegue cumprir com aquilo que é pedido para ser um circuito atualizado por parte da Federação Internacional do Automóvel (FIA); os problemas acontecem do lado de fora. Começando pelas longas filas de carros que se formam para uma prova grande, ou a distância das bilheteiras ao paddock, e a própria entrada, que passa por uma subida bastante ingreme. Contudo, as suas infraestruturas são mais atualizadas e elegantes.
E neste contexto, nem a FIA consegue desempatar estes dois. Ambos têm Grau 1 – que significa que cumpre os requisitos mais elevados para a realização de corridas de automobilismo de alto nível, como por exemplo… a Fórmula 1.
Apesar da promessa do candidato em trazer tudo já partir de 2027, todos aqueles que passam pelo circuito sabem que teria de haver muitas mudanças. Os novos autódromos são muito diferentes daquilo que o Fernanda Pires da Silva apresenta. Desde 2000 que nunca mais foi cuidado para se manter atual com a realidade do desporto, mas sim para se manter vivo e reconhecível. Mas mudar a imagem dele será prioritário se quiserem lutar com circuito mais atualizado de Portugal.
Acredito que regressar com o desporto automóvel não seja complicado, mas é preciso bastantes investimentos. Investimento financeiro para receber as grandes categorias (que não é nada barato, estimado em 34,4 milhões de euros entre taxas e custo de organização só para a F1), investimento nas infraestruturas dos circuitos e investimentos em patrocinadores ou investimento privado para gerir todo este dinheiro que tem de entrar. Atualmente, o financiamento para manter o MotoGP em Portugal é de dois milhões de euros, com um retorno estimado nos 87 milhões de euros.
Em suma, ainda há muito trabalho para fazer. Apesar de não querer misturar política com desporto, ambos estão juntos e dificilmente os separamos. É bonito pensar que tanto a Fórmula 1 como a MotoGP poderiam voltar ao circuito histórico de Portugal. Se eventualmente regressar mesmo em 2027, Portimão tem todas as condições para receber novamente o GP, tal como assume as motas. E se o Governo, em conjuntos com ambos os circuitos, conseguissem manter o GP em Portugal durante alguns anos, poderiam acabar por ir variando de um ano para o outro para também vermos que tipo de corrida o Estoril nos conseguiria proporcionar, tendo em conta os novos carros de 2026. Faria sentido, lá está, a MotoGP regressar a Cascais para percebermos que tipo que corrida nos dariam.
O circuito do Estoril não recebe uma prova de F1 desde 1996; de MotoGP, a última foi em 2012. Em Portimão, a corrida ainda se mantém, com a MotoGP a etapa nº 21 no dia 09 de novembro.