Durante anos, o Rali de Portugal e a Volta a Portugal em bicicleta competiam para ser o maior marco desportivo anual português. Eram dias de festa – o povo saía à rua para ver passar os carros e os ciclistas à porta de suas casas.
Hoje, o rali está concentrado no Algarve, região com menos tradição nestas andanças, mas considerada ideal para a sua realização, por haver menos público nas estradas do que no Centro e no Norte do país. De facto, esta opção pelo Algarve pode considerar-se positiva; voltámos a ter o WRC cá graças a isso.
Mas vamos voltar às origens. As tardes e noites de Sintra e Fafe ainda hoje deixam saudades, e, ao mesmo tempo, fazem desejar o seu regresso; a prova é o Fafe Rally Sprint, que se vai disputar pelo terceiro ano seguido. Esta é uma prova que reúne os principais pilotos e equipas que participam no Rali de Portugal, e também alguns pilotos que tenham interesse em tal. São milhares de pessoas, que não vêm só de Portugal para ver esta prova. Uma verdadeira multidão que não deixa ninguém indiferente e que cria um ambiente melhor do que na grande maioria dos estádios de futebol. Uma prova de fidelidade e amor à modalidade por parte dos nortenhos. Adruzilo Lopes disse, em entrevista ao Autosport, que “no Confurco, ver aquelas bancadas naturais a ganhar vida… é impossível descrever o que isto faz a um piloto”. Esta é apenas uma de muitas centenas de declarações do género, que os vários pilotos deixam depois de fazer esta especial.
Mas não existiam só coisas boas, nesta que foi por várias vezes considerada a melhor prova do mundial. Os pilotos queixavam-se, frequentemente, da irresponsibilidade dos espetadores portugueses. O público, de facto, era irresponsável. Era frequente ver pessoas no meio dos troços; mais frequente ainda era só saírem da estrada mesmo no último segundo. O ano de 1986 mostra o episódio mais triste desta irresponsabilidade. Joaquim Santos, no seu Ford RS 200, ao fugir de uns espetadores mal posicionados, despistou-se e colheu várias pessoas, matando duas logo nesse momento e ferindo dezenas. Foi mais um passo para o fim do grupo B, os melhores carros de sempre no mundo dos ralis. Mas vejamos o lado positivo deste acidente: deu-nos a única vitória portuguesa no WRC. Joaquim Moutinho e o seu Renault 5 Turbo foram os protagonistas.