O Treinador das Subidas de Divisão – Entrevista a Miguel Ferreira

    BnR: Ao longo do tempo em que lá trabalhou, a equipa competiu na 1.ª Divisão. Recorda-se de algum jogo que o tenha marcado até hoje?

    M.F.: Recordo-me de vários. Nos dois anos em que lá estive, as nossas prestações foram muito boas. Atingimos as meias-finais do campeonato por duas vezes, tendo sido eliminados por Sporting (2-0 no total) e Benfica (2-1 no total). Mas houve um jogo que nunca esquecerei: foi na Fase Regular, e recebemos o Benfica. Cerca de 1h antes, fiquei sozinho com o Nuno, no campo, a falar de algumas coisas, e veio à conversa o facto de as redes das balizas estarem velhas e rotas em alguns sítios. Ele comentou que alguma bola ainda ia entrar por fora, e o árbitro ia marcar golo. Eu respondi-lhe que não haveria problema, porque isso ia ser no nosso sexto golo. Curiosamente, ganhámos esse jogo por 6-2 e ainda nos rimos um bocado no fim à conta dessa conversa. Mas o mais importante nesse dia foi que provámos que podíamos dar luta aos grandes, ganhando-lhes e sendo melhores que eles.

    O técnico em conjunto com a sua equipa técnica (Sérgio Silva à esquerda e Cláudio Moutinho à direita), nos festejos do Campeonato Distrital da A.F. de Santarém 2016/2017, que permitiu ao Ferreira do Zêzere assegurar a subida à 2.ª Divisão Nacional
    O técnico em conjunto com a sua equipa técnica (Sérgio Silva à esquerda e Cláudio Moutinho à direita), nos festejos do Campeonato Distrital da A.F. de Santarém 2016/2017, que permitiu ao Ferreira do Zêzere assegurar a subida à 2.ª Divisão Nacional

    BnR: Já passou por Bidoeirense, União de Leiria, Igreja Velha, Vidigalense, Pocariça, entre outros, e atualmente está no Ferreira do Zêzere. Tendo a perfeita noção de que os clubes onde trabalhou pertenciam a divisões inferiores, alguma vez sentiu que a exigência e o compromisso dos mesmos eram tão elevados quanto os de uma equipa da principal divisão?

    M.F.: Sim, passei por vários projetos – 13 clubes no total. Treinei em todas as divisões distritais e nacionais e, ainda, no Desporto Escolar (Masculinos e Femininos). Treinei equipas más, razoáveis, boas e muito boas, com alguns atletas formados em futsal e outros em futebol de 11. É uma experiência muito vasta, com algumas frustrações, mas, felizmente, também com muitas conquistas e alegrias. Para se estar nestes sítios todos tão heterogéneos, e manter a sanidade mental, tem de haver alguns princípios comuns no trabalho que faço. O principal é que a exigência tem de ser a mesma em todo o lado, o que às vezes não é muito bem compreendido. A forma de respeitar o meu trabalho e o esforço dos jogadores, por melhores ou piores que eles sejam, é exigir-lhes o máximo nos treinos, tal como se jogassem no melhor clube do mundo. Essa tem de ser a base de trabalho. E as pessoas inteligentes respeitam isso e gostam disso. Costumo dizer-lhes que no desporto coletivo, para se ter sucesso, existem 3 aspetos fundamentais:

    1-      QUALIDADE, que se vê com a bola nos pés.

    2-      ATITUDE, que se vê quando não se tem a bola nos pés, quer a atacar quer a defender.

    3-      INTELIGÊNCIA, que é a forma com cada jogador consegue interpretar o jogo tendo como base os dois pontos anteriores. Ou seja, se um jogador perceber quais são as suas limitações/atributos técnicos e físicos, perceberá muito melhor a forma de jogar que será mais útil para a equipa e, dessa forma, até um jogador com menos qualidade pode ser útil se tiver a atitude certa.

    Muito poucos podem aspirar a serem os melhores do mundo em termos de qualidade, mas TODOS podem e devem tentar ser os melhores do mundo na atitude. Para esse aspeto, não há limitações. E um dos meus trabalhos mais importantes enquanto treinador, é perceber e explicar a cada jogador qual o melhor contributo que ele pode dar à equipa.

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    Guilherme Costa
    Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
    O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.