
O maior palco de futebol americano esteve, este ano, em Louisiana, com o reencontro entre os Philadelphia Eagles e os Kansas City Chiefs. De um lado, os Chiefs preparavam-se para fazer história e ser a primeira equipa de sempre a vencer três Super Bowls consecutivos. Do outro, a armada dos Eagles apresentava-se bem reforçada e pronta para vingar a derrota no SB LVII, por 38-35, também diante dos liderados por Andy Reid.
Pelo meio, Kendrick Lamar vinha impedir que a festa tivesse pausas. Para este, independentemente do desfecho, já tinha garantias que vinha para fazer história, tornando-se no primeiro rappera protagonizar a solo o half-time show. Ainda assim, K-Dot não deixou de enaltecer o cartaz com a companhia de SZA.
O caminho estava traçado para que os adeptos tivessem um grande espetáculo.
A águia voou a favor do vento
A história do duelo contou-se ao som do grito da águia. De facto, o domínio foi de tal forma avassalador que, a certa altura, esse grito começava a assemelhar-se a uma diss track. Os Philadelphia Eagles bateram com o pé, apontaram para os Chiefs e afirmaram diante de todo o estádio: “eles não são como nós”, ou como Kendrick diria, “they’re not like us”.
Os Eagles entraram de cabeça erguida, prontos para estragar a festa do tricampeonato. Isso verificou-se de tal forma que, na primeira drive, colocaram as cartas todas em cima da mesa e arriscaram num 4th down. Não fosse assinalada pass interference ao lance, AJ Brown teria mesmo concretizado a jogada.
Contudo, os riscos reservaram-se para a opening drive. A dinâmica ofensiva dos Eagles acabou por se revelar ponderada e bem controlada, muito graças à grande exibição de Jalen Hurts. Foi o próprio quem abriu a contagem, depois de atropelar os adversários na linha de uma jarda para, assim, concluir o touchdown. Seguiu-se um pontapé para colocar o resultado em 0-10 e, posteriormente, a drive do encontro.
Nas duas primeiras vezes em que teve a bola na sua posse, Mahomes sofreu dois sacks. Na terceira, fugiu do pocket, de onde não estava a conseguir respirar, e acabou por lançar para as mãos do rookie Cooper DeJean, que concretizou a pick-6.
A bola foi alternando de lado por várias ocasiões até ao intervalo. Pelo meio, Mahomes voltou a ver o seu passe ser intercetado, desta vez em zona de perigo (14 jardas do seu meio-campo defensivo), a menos de dois minutos da paragem, abrindo caminho para os Eagles dilatarem a vantagem. Hurts fez isso mesmo: abriu A.J. Brown na esquerda e fechou a contagem dos primeiros dois quartos em 0-24.
Ora, os contornos do resultado foram desenhados ainda na primeira parte. Concluída a metade do jogo, os Chiefs somavam apenas um total de 23 jardas, um único first-down, dois turnovers e metade do tempo da posse da bola do adversário. A justificação para todo este desastre ofensivo residiu num aspeto: o sucesso defensivo dos Eagles.
Ao longo do terceiro quarto, pairava a possibilidade de os Chiefs se tornarem na equipa a fazer menos pontos na história do Super Bowl. Afinal, o ataque dos Eagles era o único capaz de produzir. Voltaram a concretizar um field goal e, a pouco mais de dois minutos do fim do período, uma bomba, a partir das 46 jardas, de Hurts acabou nas mãos de DeVonta Smith para mais um touchdown. A vantagem era 34 pontos.
A fechar o quarto, Xavier Worthy demonstrou não querer que a sua equipa entrasse no livro de recordes negativos do Super Bowl. Na verdade, o rookie parecia o único a navegar contra a maré filadelfiana, sendo mesmo quem abriu a contagem da formação de Kansas no duelo.
O triunfo já vestia de verde. Faltava apenas saber por quanto. Jalen Hurts soube gerir o ataque, não correndo grandes riscos. Do outro lado, Mahomes apostou em jogadas mais verticais, numa tentativa de correr contra o tempo. Até ao fim, os Eagles marcaram dois kicks, enquanto os Chiefs aproximavam-se com dois touchdowns e duas two-point conversions. Já era tarde demais.
Nick Sirianni e os Eagles celebraram o segundo triunfo da franquia no Super Bowl.
As chaves para o resultado
A análise da prestação das equipas evidencia um aspeto no qual diferiram significativamente: a prestação da O-Line. De um lado, Hurts teve o palco perfeito para tomar a decisão certa. Do outro, Mahomes viu-se frequentemente em apuros. A pressão da D-Line dos Eagles era perfeita e equilibrada, de tal forma que, em 42 dropbacks, não precisaram de um único blitz para quebrara proteção adversária.
Patrick Mahomes não teve grandes chances no pocket e, quando por lá andou, fugiu à sua natureza ao demonstrar alguns sinais de insegurança, seja por “prender” a bola em demasia ou pelas tentativas de passe de elevado risco.
No ataque dos Eagles, Jalen Hurts cumpria um jogo afirmativo, controlando eficazmente as rédeas da offense. Mesmo com os Chiefs a negarem as tentativas de Saquon Barkley, foi o QB quem soube fazer a melhor leitura entre os espaços da defesa e, assim, liderar o jogo em jardas corridas (72 em 11 tentativas). No jogo de passe, somou 221 jardas e dois TD. No final, não restaram dúvidas: o MVP foi Jalen Hurts.
Destaque, também, para o recorde estabelecido por Barkley, que atingiu o maior número de jardas corridas numa época (regular e playoffs). Na sua temporada de estreia em Philadelphia, o running back contabilizou 2490 jardas. Saquon teve, assim, muitos motivos para celebrar aquele que, com certeza, será um aniversário memorável.
‘Big as the Super Bowl’
O Super Bowl não é apenas o palco de sonho de milhares de atletas. O mesmo aplica-se para artistas, que alvejam a oportunidade de manter a festa acesa durante o intervalo. No SBLIX, foi a vez de Kendrick Lamar fazer vibrar as bancadas, enquanto celebrou o seu ano de tremendo sucesso.
Durante os quase 15 minutos de atuação, K-Dot fez aquilo que bem sabe: trouxe entretenimento enquanto lançava uma mensagem para deixar os ouvintes a refletir. Lamar retratou a opressão à cultura do hip-hop, com a ajuda de Samuel L Jackson a simbolizar a figura de Uncle Sam, o caráter dividido que demarca a vida política norte-americana, com a bandeira a ilustrar isso mesmo, e, claro, o beef com Drake, que mexeu com a plenitude da cultura do rap. Não teve problemas em repetir todas as críticas ao artista canadiano, desta vez diante do mundo inteiro.
Pelo meio, o recém-vencedor de cinco Grammys trouxe SZA, DJ Mustard e Serena Williams para a festa.
Também os Eagles quiseram ouvir os êxitos de Kendrick. Como não tiveram a chance no intervalo, fizeram a festa do triunfo de domingo ao som de ‘Not Like Us’.