3. Pepa
O atual treinador do Vitória SC tem história de vida para dar e vender. Prodígio futebolístico, descobre-o o SL Benfica em 1994, com 13 anos. De Torres Novas muda-se para Lisboa, com os ares metropolitanos da capital a provocar no jovem Pepa um entusiasmo que não o ajudaria.
Muito menos quando aos 15 anos passa a receber 120 contos por mês. Agravaram-se então os problemas do deslumbramento, com os caminhos sinuosos das tentações terrenas a multiplicarem-se fora de campo. Aos 18 anos, o cenário piora.
Já depois de ser campeão europeu de seleções desse escalão etário e melhor jogador, o SL Benfica torna-o no júnior mais bem pago de sempre do futebol português: 1000 contos mensais. Um balúrdio para tão pouco juízo. Festas, álcool, prazeres da vida e «amigos da onça» sugavam-lhe a carteira.
Dentro de campo, a saúde e frescura juvenil permitia continuar a somar sucessos. Estreia-se em janeiro de 1999, num Benfica-Rio Ave. Rende Nuno Gomes já perto do fim, mas ainda vai a tempo de assinar na folha de marcadores. Aliás, nem pediu muito relógio: em 15 segundos e ao primeiro toque na bola, faz golo.
Num Terceiro Anel sedento de ídolos numa fase de pouco palmarés, estava encontrado o novo Eusébio. Mais holofotes virados para Pepa, que não tinha arcaboiço nem responsabilidade para tanta atenção. Lierse, Varzim, lesão grave pelo meio, Paços e Olhanense – e pronto, com 26 anos arruma as chuteiras, resultado de uma ‘bola de neve’ de consequências derivadas das loucuras dos primeiros anos.
Momento de reflexão para renascer das cinzas, torturado e sábio pelas memórias das oportunidades perdidas à custa das próprias más decisões. A partir daí, subida a pulso como técnico principal, dos distritais à Primeira Liga, onde é por estes dias dos treinadores mais promissores da nova vaga. Redenção total.