“São mais 3”.
Sentados em torno de uma mesa, assistíamos ao Estoril x FC Porto a contar para os quartos-de-final da Taça de Portugal. O fervor benfiquista ali nos tinha reunido para vermos o embate de Penafiel e quis a salutar conversa e o bom convívio que por ali ficássemos a ver o rival do norte enquanto os céus de Lisboa choravam desmedidamente. De entre os temas que confiámos àquela mesa nesse dia não faltou nunca o nosso Benfica, não fossem aqueles dois seres dois monstros vermelhos, dois homens que vivem e respiram Benfica como nunca conheci, dois verdadeiros benfiquistas. Entre os pregos que nos secavam a boca e a conversa que respirava saúde a olhos vivos, enfim chegaram as três loiras e a sede foi saciada.
Ao longo de toda a conversa conseguimos ir a dois extremos. Em virtude do acaso que ali nos juntou, falava-se da música dos UHF “Sou Benfica”. O Francisco disse que nunca cantaria essa música. Para além de uma incompatibilidade musical, aquilo que mais pesava era o ambiente em que essa música invadia o Estádio da Luz. As circunstâncias e as adversidades pelas quais o clube encarnado passava na transição do milénio, que foram desoladoras a nível nacional e europeu. O gigante de betão demasiado vazio para o espaço que tinha e para aquilo que era a instituição Sport Lisboa e Benfica.
Por outro lado, o João, uma verdadeira enciclopédia humana, falava dos ambientes da nova Luz em jogos em que o Benfica foi como tem que ser: enorme. Numa espécie de antevisão do dérbi deste fim-de-semana, o João lembrou que o Sporting não ganha na Luz desde Janeiro de 2006 (este que foi, de resto, tema de um artigo seu para o Bola na Rede e cuja leitura aconselho vivamente, pela arte de bem recordar e pela capacidade de analogamente reproduzir aquilo que é o seu génio benfiquista). Também neste capítulo, o Francisco, que com mais facilidade deixa de comer e de beber do que de ir ao Estádio da Luz, recordou triunfos europeus com o inferno ao rubro, como foi o caso do jogo com o Fenerbahçe da época passada.
Em vésperas de jogo contra o Sporting, que ambiente queremos na Luz? Porque somos nós que lhe damos cor, porque somos nós que desenhamos a catedral cheia e outrora a desenhámos quase vazia. O Benfica tem mais soluções, tem o factor casa, e uma força psicológica mais vincada nestes últimos anos sobre o eterno rival do que o contrário. Por outro lado, o Sporting está claramente acima das expectativas e tem essa “margem de erro” bem mais alargada do que o Benfica, o que faz com que o clube de Alvalade entre mais despreocupado para o jogo, ainda que sem William Carvalho. E, para todos os efeitos, quem tem o primeiro lugar ameaçado é o Benfica. No entanto, não tenho dúvidas de que haverá enchente no próximo domingo e de que, com o estádio a empurrar, o Benfica fará o que lhe compete.
A chuva não deu tréguas nessa noite e nós também não. Sem consciência das horas e com o Benfica a fazer-nos sempre companhia, a conversa tardou em morrer (ou melhor, em ser interrompida) e voltar para casa era compromisso último. Venham de lá mais três para estes bons benfiquistas!