Diamantino Miranda «Sporting ofereceu mais 20 contos mas preferi o Benfica» – Entrevista BnR

    – Regresso do futebol e os milhões da Liga dos Campeões –

    BnR: Sentes que se está a menosprezar a condição de saúde de jogadores e treinadores ao querer forçar este reatamento do futebol em Portugal? Sentes que o dinheiro está a falar mais alto?

    DM: Sim, sinto um bocadinho isso. Sinto que se os clubes portugueses tivessem uma saúde financeira diferente, se calhar poder-se-ia retomar o campeonato mas se calhar de uma forma mais segura. Por outro lado, se a retoma do campeonato vai ser só por pressão dos clubes e porque têm algum interesse político começar o campeonato, claro que não concordo. Não vou entrar aqui na fácil demagogia da maior parte dos adeptos do futebol, que é falar no dinheiro que os jogadores ganham, mas há uma coisa que temos que reconhecer. Se quem ganha muito pouco tem que correr riscos para exercer a sua profissão, quem ganha muito dinheiro tem a responsabilidade de dar ao público a alegria de voltar a ter o melhor espetáculo do mundo.

    BnR: Achas que os jogadores correm mais ou menos riscos que um “cidadão normal”?

    DM: Acho que correm menores riscos do que o trabalhador comum porque têm tudo aquilo que o trabalhador comum não tem: podem estar em academias fechadas, com testes todos os dias, equipas médicas ao seu redor, com tudo e mais alguma coisa, também não me parecia bem os jogadores e os treinadores defraudarem o povo, que está sedento por futebol. Concordo quando dizem que os jogadores estão a ser “carne para canhão”. Agora, também não concordaria que os jogadores e os treinadores se pusessem de parte numa fase tão difícil, tipo “Nós somos uma espécie completamente diferente daquela que anda nos transportes públicos, restaurante, numa farmácia ou num supermercado”. Não são e por isso têm que correr alguns riscos, riscos muito menores que um cidadão comum corre. Acho que o campeonato deve ser retomado dentro desses parâmetros. Se se chegar à conclusão que é arriscado demais, porque começa a haver mais infeções, não há nada a fazer, é acabar.

    O futebol em Portugal regressa dia 4 de junho
    Fonte: Bola na Rede

    BnR: Na tua opinião, o campeonato mesmo sendo retomado já está desvirtuado, porque as equipas não estão nas melhores circunstâncias e não têm as mesmas condições face a uma situação que é excecional?

    DM: Sim, mesmo com esta retoma as equipas não estão em pé de igualdade. Não é igual para todos, não acredito que o Tondela tenha uma academia onde os jogadores são confinados nos seus quartos que vão ser desinfetados, vão ter um staff médico como têm os três grandes. Agora quanto ao risco, não concordo com aquele alemão que disse que se deve tratar uma infeção como uma lesão. Não é igual. Se for só um ou dois jogadores de uma equipa infetados, muitas vezes há equipas que têm sete lesionados ao mesmo tempo. Agora, se isso vai pôr em risco todos os colegas e todos os que trabalham no campo, aí não concordo. Começa-se a desvirtuar porque são sete, oito ou nove com infeções, vão para isolamento e o clube tem que jogar com os que sobrarem. Acho que aí há um grande desvirtuamento.

    BnR: E o que pensas sobre as escolhas dos estádios para os jogos?

    DM: Uma situação excecional, por exemplo, é o caso do Marítimo. O Santa Clara concordou vir para Lisboa porque está no meio da tabela, não chegará às competições europeias mas também não irá descer de divisão. O Marítimo acha, e bem na minha opinião, que é prejudicado por não poder jogar no seu campo. Assim como eu acho que o Benfica, por exemplo, tem maiores problemas de fazer vários jogos no Estádio do Dragão neste momento. Se estivéssemos num ambiente saudável, das rivalidades saudáveis, tudo bem. O problema é que o ambiente que se vive no futebol não é esse e portanto não concordo absolutamente nada, acho que há um grande desvirtuamento da competição se o Benfica tiver que fazer mais jogos no Estádio do Dragão sem ser contra o Porto. São situações excecionais por isso pedem medidas excecionais. Agora, as medidas excecionais não podem é beneficiar uns e prejudicar outros.

    BnR: No caso de não se completar as jornadas que estão por jogar, achas que é justo atribuir um título de campeão?

    DM: Não, não acho justo, porque não sabemos aquilo que se iria passar nos jogos. Dá-me a sensação que a única coisa que está em jogo é, no caso de ser campeão, os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Acho que a Federação, a Liga Portuguesa e depois o Benfica e o Porto, se isso vier a acontecer, deviam chegar ao consenso: ninguém é campeão e dividem os 40 milhões entre os dois. Claro que todos sabemos as dificuldades que o Porto atravessa neste momento e, ao contrário, a saúde financeira que o Benfica apresenta e a forma como pode enfrentar esta dificuldade mesmo sem esse dinheiro. O Porto já não tenho tanta certeza, segundo se vai ouvindo falar e for verdade, parece que terá grandes problemas se não conseguir mais uma vez os 40 e tal milhões da Liga dos Campeões. Daí também me custar aceitar aquela frase do Pinto da Costa a dizer “Bem, se tiver que acabar, quem vai à frente ganha.” [Volta a gargalhada de Diamantino].

    BnR: É natural quem vai à frente achar isso…

    DM: Sim, é entendível mas acho que todos os jogadores e todos os treinadores querem é jogar e ganhar dentro do campo, os dirigentes é outra coisa. Os jogadores e treinadores do Porto ou do Benfica, se lhes for atribuído o título sem jogar, acredito que não terá sabor nenhum. É bom para o clube, é bom para alguns adeptos, não para todos, para aqueles que gostam de futebol também não é bom porque esses gostam de ganhar no campo e de ver os jogos. Não sei qual será a solução mas acho que a pior solução será entregar o campeonato a quem não o ganhou.

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