«Golo ao Benfica foi um presente na minha carreira» – Entrevista BnR com Bruno Moraes

Bola na Rede: A partir dos teus 30 anos a tua carreira prosseguiu por ligas secundárias. Primeiro no Portuguesa (Série B do Brasil), Varzim (Liga de Honra) e ENP (2ª Liga Cipiriota). Porque é que em cada experiência que tinhas no estrangeiro, acabavas por voltar a Portugal na temporada seguinte?

Bruno Moraes: Isso coincidiu pelo facto de eu ter uma história cá em Portugal, eu quando joguei no FC Porto acabei comprando uma casa em Gaia e a minha vida passou sempre por Portugal. Eu já não ia mais para o Brasil, só de férias, acabei me mudando mesmo, adquiri nacionalidade portuguesa, os meus filhos nasceram em Portugal e todas as vezes que eu tive uma experiência fora sempre quis voltar para a minha base.

Bola na Rede: Ganhas uma segunda vida no campeonato de Portugal e mostras em campo a raça Vareira do Espinho apontando dez golos, naquela que foi a tua primeira época da carreira a chegar à dezena de golos na carreira. Como é que foi passar de jogar num Clássico frente ao SL Benfica com o Dragão lotado para um campo com condições difíceis como era o caso do Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas?

Bruno Moraes: Eu olhando positivamente posso dizer que sou um privilegiado. Há jogadores de alto nível que já começaram em clubes grandes e permaneceram por lá que nunca conheceram um pouco dessa raça Vareira do pessoal mais pobre e da terra, que fazem um ambiente espetacular para a equipa da casa. Foi muito bom para mim ter encontrado o Espinho no final da carreira. Em termos de condições, infraestruturas e material era muito fraco e difícil trabalhar ali nesse aspeto, mas no aspeto do tratar das pessoas, do ambiente de trabalho e a estabilidade que eles proporcionavam a nível de salários, tudo isso resultava num bom resultado em campo. Era uma mistura da raça, dos adeptos, de uma equipa competitiva e também tive a oportunidade de ter um treinador que acreditou em mim no final da minha carreira mesmo depois de tantas lesões e ele me ajudou a melhorar o meu jogo posicional.

 Bola na Rede: Tens a tua melhor época da carreira na temporada seguinte ao serviço do Trofense e és o segundo melhor marcador do Campeonato de Portugal com 17 golos. Como te sentiste no fim dessa época a olhar para esses números acima da média?

Bruno Moraes: Eu tenho até um quadro aqui que eu fiz nessa época, que era o quadro dos objetivos e eu estava muito motivado e focado. Acho que foi o ano em que tive mais focado em toda a minha carreira, aprendi até algumas fórmulas de como atingir objetivos e a verdade é que resultou e eu fiquei muito feliz no final da época. Infelizmente não conseguimos atingir o objetivo da equipa que era subir de divisão, mas isso não depende só dos jogadores, está relacionado com o clube e infelizmente nesse ano perdemos muitos jogadores importantes, principalmente da defesa, por má gestão e acabamos o ano com um lateral adaptado a central. Perdemos um central, o Asprilla, por problemas de saúde, mas os outros dois perdemos por opção e essa estabilidade faltou-nos no final. Nós tínhamos uma equipa forte, tínhamos tudo para ir aos playoffs e subir, mas infelizmente não fomos. Este ano também tive um castigo que foi uma coisa ridícula, fora do normal e atrapalhou a equipa, mas a nível pessoal foi um ano muito bom porque eu atingi as metas que estabeleci e para mim o mais importante é olhar para trás com orgulho para isso tudo e ver que não me deixei abalar pelas lesões, não atirei a toalha ao chão e tenho orgulho nisso. Posso deixar o esse legado para os meus filhos e para os meus fãs que me seguem, está aí o resultado de que é possível, mesmo com inúmeras adversidades, se tivermos a mente forte e estivermos focados, podemos alcançar coisas que nem imaginamos.

Bola na Rede: De que forma é que a pandemia afetou o campeonato do Trofense na época passada?

Bruno Moraes: Eu acho que a pandemia ajudou o Trofense. O Trofense fez uma má gestão no sentido em que tinha uma equipa forte, competitiva, já tinha a equipa montada e só ficou com dois jogadores de uma época para a outra. Um deles era reserva, era eu e era o Mika, o capitão, o resto foi tudo embora. Quiseram montar uma equipa do zero e entregou de bandeja os bons jogadores às outras equipas porque a maioria desses jogadores continuaram no CNS em equipas que pagavam igual ou menos. Nesse ano o Trofense fez uma época muito má, com muita instabilidade, tínhamos um balneário em que nem sabíamos quem vinha entrar para treinar, tivemos mudança de treinadores, treinadores que estavam do outro lado da porta à espera do outro ser despedido para entrar. Tivemos coisas assim que mostra toda a falta de competência dos administradores do clube. Infelizmente foi isso que aconteceu e quando é assim, quando a liderança já não passa os valores e a liderança, fica difícil saber para onde é que o barco vai. Era um barco à deriva do mar, era o Trofense na época passada.

Bola na Rede: Quem achas que é favorito a vencer o campeonato desta época?

Bruno Moraes: O favorito é o FC Porto por já ter uma equipa campeã e também pela demonstração que deu, não só pelo grupo de trabalho dentro de campo, mas também pela sua estrutura e isso no final deu para notar. O FC Porto se ajustar o plantel e fizer as contratações certas vai ser um forte candidato ao título.

Bola na Rede: Surpreende-te ver as mexidas no mercado de transferências neste ano? Desde o investimento do Benfica, as apostas para a frente de ataque no FC Porto, o Boavista a reforçar-se com nomes de peso, o Quaresma no Vitória, o Gaitán no Braga…

Bruno Moraes: Acho interessante, acho que o poder aquisitivo dos clubes aumentou. O facto de o Benfica ter investido muito vai obrigar o FC Porto e Sporting CP a reforçarem-se. O Braga e o Vitória também esticaram o seu orçamento para poderem fazer face a uma possível entrada na Liga dos Campeões ou a manterem-se na Liga Europa. Acho que é bom para o campeonato e vai ser bem atrativo esta época a nível de espetáculo, de jogadores e estamos todos à espera que volte o futebol com os adeptos nos estádios. Todo o mundo que gosta de futebol está na expectativa de voltar a ver os grandes jogos.

Bola na Rede: O que é que achaste da contratação do Taremi e do Evanílson? Achas que vão ser bons reforços para o ataque do FC Porto?

Bruno Moraes: Acho que sim. O Taremi destacou-se no Rio Ave, é raro ver um atacante com a frieza e a finalização dele, por isso acho que é uma boa aposta. O Evanílson vem do Brasil, talvez não tenha tanta experiência, não o conheço muito bem, não posso falar muito dele, mas é um jogador que pelo que eu ouvi é um jogador que se vai tentar afirmar no FC Porto, claro que precisa de uma adaptação, mas tem tudo para ser uma opção de qualidade no plantel.

Bola na Rede: Que mensagem é que o Bruno Moraes de 36 anos transmitiria ao Bruno de 17/18 anos? Terias feito algo diferente?

Bruno Moraes: Talvez um pouco mais de foco e resiliência no trabalho, principalmente nos cuidados com o corpo. Naquela época nós também não tínhamos tanta informação como tem hoje, mas era se eu tivesse esse tipo de cuidado era possível não ter tido tantas lesões.

Bola na Rede: O que podemos esperar do Bruno Moraes para esta temporada como treinador?

Bruno Moraes: Estou procurando a evolução, acho que é totalmente diferente o futebol para um jogador e para um treinador. Um jogador só se preocupa com as tarefas dele, procurar exponenciar isso ao máximo e mostrar para o treinador aquilo que tem de melhor. O treinador é ao contrário, tem de pensar em todos os jogadores, tem de pensar na equipa, no adversário, na organização do treino, na estrutura do clube, enfim, em várias outras coisas. É muito mais um trabalho mental e organizacional do que físico. Eu estou a gostar da experiência, sinto que estou a evoluir, quero continuar esse crescimento e evoluir sem pressa para estar preparado e adquirir outras competências até chegar a altura de aparecer uma oportunidade. Quero estar pronto para ser um treinador de nível altíssimo e de excelência.

Nélson Mota
Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.

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