Quem teme ser vencido tem a certeza da derrota

    eternamocidade

    “Paulo Fonseca acaba de chamar o último jogador para entrar em campo… e vai ser Licá a última aposta do técnico portista aqui na Madeira”.

    Não foi por acaso que decidi colocar esta citação, proferida por um jornalista da SportTV aquando do Marítimo-FC Porto, para começar o texto desta semana. Quando ouvi as palavras do repórter, e depois de 80 minutos de uma exibição a roçar o medíocre, pensei com os meus botões que a “última aposta do técnico portista”, de seu nome Licá, simbolizava bem aquilo que tem sido a época portista. Licá é apenas um exemplo da falta de opções que o FC Porto tem no seu plantel. A equipa, semana após semana, aparece amorfa em campo, sem um pensamento daquilo que quer para si. Atemorizado sempre que enfrenta um adversário com alguma qualidade, o FC Porto é uma equipa que não consegue reagir à adversidade. Bem sei que ainda na semana passada a reviravolta por 3-2 contra o Marítimo foi uma prova da crença dos portistas, mas esse triunfo pareceu-me sempre um acaso de circunstância.

    Não vou continuar a bater na tecla do treinador por duas razões: a primeira, porque parece-me óbvio que não é preciso repetir sempre o mesmo discurso para fazer alguém perceber que Paulo Fonseca não tem unhas para a guitarra que tem nas mãos; a segunda, porque acho que a culpa não é única e exclusivamente dele. Apesar de considerar Fonseca um treinador demasiado apático e inexperiente para a responsabilidade que o cargo envolve, também é preciso perceber que a guitarra que o treinador tem é de longe a mais fraca dos últimos anos no Dragão.

    Nos últimos anos, foram várias as “estrelas” que foram deixando uma marca que a história não conseguirá apagar. Falo de Lisandro López, de Lucho, de Hulk, de James, de Moutinho e até de Falcao. O FC Porto descobriu-os, desenvolveu-os e vendeu-os a preços milionários, tornando-se um dos clubes mais vendedores da Europa. A cada ano que passava, os títulos iam-se acumulando e, num efeito dominó, parecia sempre inevitável a saída das jóias da coroa portista.

    Apesar das saídas, de uma maneira ou outra, a equipa reergueu-se e nos últimos dois anos, Vítor Pereira conseguiu ir buscar dois títulos ao fundo do baú. Depois da época dourada de André Villas-Boas, os dois campeonatos conquistados por Vítor Pereira fizeram deste FC Porto um tri-campeão. Contudo, e como acredito que podemos sempre ver as questões em diferentes perspectivas, não posso deixar de referir que me parece óbvio que a equipa portista foi, ao longo dos últimos anos, cada vez substituindo de maneira mais insuficiente as perdas que foi tendo. Por essa razão, não me surpreendem as últimas campanhas na Liga dos Campeões, onde, nas últimas três participações, apenas por uma vez o FC Porto passou aos oitavos, tendo nessa mesma fase sido eliminado pelo “colosso” Málaga.

    Esta contextualização serviu sobretudo para demonstrar que, apesar dos sucessos internos nos últimos anos, o FC Porto não pode nem deve ser apenas isso. Sendo o clube europeu com mais títulos no séc. XXI, os azuis e brancos habituaram-nos a outros desempenhos e outros espectáculos. Contudo, e como diz o povo, “a qualidade paga-se”. No campeonato nacional, o FC Porto foi conseguindo moldar as debilidades no seu plantel, muito devido à pouca oposição de 80% das equipas da Primeira Liga. Na Europa, e como não podia deixar de ser, a manta encurtou.

    Não é preciso ser muito entendido para se perceber que o plantel deste ano é apenas mais um exemplo daquilo a que me refiro. Noutros tempos, questiono-me se jogadores como Josué, Licá e Ghilas teriam lugar no plantel do FC Porto. Noutras alturas, pergunto-me se Carlos Eduardo, Varela ou até Defour teriam classe para envergarem, enquanto titulares, uma camisola com aquela mística. Bem sei que os tempos mudaram, mas quero acreditar que a mentalidade ganhadora não.

    Por tudo isto, não acho nem por um segundo que a culpa apenas é de Paulo Fonseca. Apesar da influência que teve na contratação de determinados jogadores, parece-me óbvio que não é o único culpado pelo tormento que é ver esta equipa jogar semana após semana. Sem alma, sem garra, sem atitude, já faltam palavras para descrever uma equipa que de campeã nacional parece já só ter as memórias daquele mítico minuto 92 e o símbolo de campeão envergado na camisola.

    O jogo na Madeira foi apenas mais um exemplo que comprova as limitações do FC Porto. É portanto ainda mais incrível que, com todos estes equívocos, a equipa ainda consiga estar “apenas” a 4 pontos da liderança, e perfeitamente na luta pelo título. Com tantos erros acumulados, estar em quatro competições parece uma utopia para tamanha falta de qualidade na equipa portista. Não vale a pena falar do jogador A, B ou C em particular, porque a falta de espírito portista é geral.

    Pior do que perder é não querer ganhar. Em poucas palavras, o título que escolhi, retirado de uma citação de Napoleão Bonaparte, retrata numa frase aquilo que o FC Porto representa actualmente. Três derrotas em 17 jogos e uma falta de identidade que não conhece comparação nos últimos anos. Entre a falta de qualidade de grande parte do plantel até à apatia do seu treinador, parece difícil encontrar argumentos que façam justificar a esperança nesta equipa. Faltam 13 jogos no campeonato e, com o derby na Luz na próxima semana, o FC Porto até se pode aproximar da liderança.

    Ainda sou do tempo em que o tri-campeão não dependia de ninguém para mostrar a sua força e o seu domínio em Portugal. Bem sei que os tempos mudaram, mas quero acreditar que o FC Porto não. Ao olhar para o presente, é nisto que me resta acreditar.

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    Pedro Maia
    Pedro Maiahttp://www.bolanarede.pt
    Apaixonado pelo desporto desde sempre, o futebol é uma das principais paixões do Pedro. O futebol português é uma das temáticas que mais gosta de abordar, procurando sempre analisar os jogos e as equipas com o maior detalhe.                                                                                                                                                 O Pedro não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.