Portugal e a Champions

    Os clubes dos principais campeonatos europeus têm mais e maiores fontes de receitas. As suas receitas em publicidade, markting e direitos televisivos chegam a cobrir cerca de 30 vezes o orçamento dos clubes portugueses. Só para se ter uma ideia, antes dos contratos milionários com as operadoras televisivas, os três grandes juntos lucravam menos dinheiro em direitos televisivos que o último classificado da Premier League.

    Tendo os clubes dos principais campeonatos europeus maior poder financeiro, têm, consequentemente, maior capacidade para contratar – e acima de tudo para manter – jogadores de grande qualidade. Assim, as equipas-base dos clubes de topo sofrem alterações, perdendo menos rotinas e menos entrosamento.

    No nosso caso não é assim. Derivado à situação sócio-económica dos clubes portugueses – e do país em geral – estes estão literalmente obrigados a vender jogadores importantes todos os anos. E assim, os treinadores dos clubes como o SL Benfica e o FC Porto são recorrentemente forçados a reconstruir a equipa e a estabelecer novas rotinas de jogo e de trabalho.

    Outro factor que aumenta ainda mais este fosso financeiro é a enorme carga fiscal a que o nosso país é submetido. Um clube português tem de desembolsar um valor entre 2 a 2,5 milhões de euros para pagar um ordenado líquido de 1 milhão de euros por ano a um jogador. Enquanto que um clube turco, para pagar o mesmo valor de ordenado, tem de desembolsar cerca de 1,2 milhões de euros.

    Aubameyang acabou com o sonho dos encarnados. Fonte: SL Benfica
    Aubameyang acabou com o sonho dos encarnados
    Fonte: SL Benfica

    Depois, com o novo formato da Liga dos Campeões, em 2018/2019, os quatro primeiros classificados das ligas dos quatro primeiros países do ranking da UEFA terão entrada directa na Fase de Grupos da competição; ou seja, metade dos clubes participantes na Fase de Grupos representam os quatro primeiros classificados do ranking da UEFA.

    Nas últimas dez temporadas, apenas clubes dos “Big-Five” (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália) marcaram presença nas meias-finais da Champions e apenas 7 equipas fora dos “Big-Five” conseguiram estar entre as oito melhores equipas da Europa.

    E, vendo bem as coisas, os adeptos do SL Benfica e do FC Porto até nem têm grandes motivos para se queixarem, visto que o SL Benfica e o FC Porto foram as únicas equipas fora dos “Big-Five” que chegaram aos quartos-de-final da competição duas vezes nos últimos dez anos. Situação que mostra o trabalho e a qualidade de ambos os clubes, que conseguem manter-se competitivos perante a necessidade de vender jogadores todos os anos, e de quem os representa.

    Sonhar não paga imposto e, para nós, enquanto adeptos, é legítimo sonhar e acreditar na conquista do maior título europeu, mas enquanto existir este fosso e esta desigualdade, a “Orelhuda” será praticamente uma miragem. Aos clubes portugueses, resta abordar jogo a jogo e ver o que pode acontecer.

    Foto de capa: UEFA

    Artigo revisto por Mafalda Carraxis

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    Tiago Serrano
    Tiago Serranohttp://www.bolanarede.pt
    O Tiago é um jovem natural de Montemor-o-Novo, de uma região onde o futebol tem pouca visibilidade. Desde que se lembra é adepto fervoroso do Sport Lisboa e Benfica, mas também aprecia e acompanha o futebol em geral. Gosta muito de escrever sobre futebol e por isso decidiu abraçar este projeto, com o intuito de crescer a nível profissional e pessoal.