BnR: Quais acha que são os pontos fortes do treinador português? Temos vários exemplos de treinadores reconhecidos no estrangeiro, como Leonardo Jardim, Jorge Jesus, José Mourinho…
Beto: Eu acredito que a grande vantagem do treinador português é que é um treinador dedicado, que gosta de aprender também. E é um treinador que se sacrifica. Agora, como em tudo na vida, é preciso sorte. Eu acredito que o treinador português tem a sorte, mas também o mérito de trabalhar e de se dedicar à sua profissão.
BnR: Quais foram os treinadores mais especiais que teve ao longo da sua carreira?
Beto: Costumo dizer que todos os treinadores foram especiais, de uma forma ou outra. Mas se calhar quem mais me marcou foi o mister Octávio Machado porque, na altura, foi quando eu apareci. Depois todos os outros, de uma forma diferente… O mister José Peseiro, Fernando Santos, Laszlo Bölöni pelas suas posturas e maneiras de estar. O próprio mister Mirko Jozic, António Oliveira, Artur Jorge. Todos foram importantes, de uma forma ou outra. O mais humano que apanhei, sem dúvida, foi o mister Fernando Santos. Foi a pessoa mais humana que apanhei. Não quer dizer que os outros não o sejam, mas ele tem essa característica, como vocês já se devem ter apercebido também. É uma pessoa de fácil trato e tem uma excelente comunicação com o grupo de trabalho. E depois tem a tal parte humana e uma sensibilidade enorme, talvez por ter sido jogador também. Tem um conhecimento maior do balneário. Não quer dizer que os outros não o tenham, atenção. Mas ele dizia isto, e é verdade: há um conhecimento maior, e isso tornava-o mais desperto e mais comunicativo no balneário. Se analisarem bem, todos os jogadores falam bem de Fernando Santos.
BnR: Acha que isso tem muito que ver com a questão do Euro’2016?
Beto: Tenho a certeza. Eu acho que a imagem que ele transmitiu quando foi à conferência de imprensa e disse que só voltava dia 11 para Portugal, foi um voto de confiança ao grupo. Ele sabe que o grupo está com ele, e os jogadores sentiram que o treinador também estava com o grupo, que está ali para os bons e os maus momentos. Penso que essa união fez a força, sem dúvida alguma.
BnR: Numa escala diferente, Fernando Santos conseguiu fazer o que Scolari tentou fazer em 2004?
Beto: Não fez, não fez. Falando abertamente, Scolari fê-lo de forma mais mediática. Scolari passou a mensagem para fora, mas depois não a passou para dentro. Eu acho que é muito mais importante passar isso para os jogadores. Eu penso que o Fernando Santos, quando foi à conferência de imprensa dizer que só voltava para Portugal no dia onze de julho, já teria dito isso aos jogadores.