BnR: Há pouco falou do seu filho e dessa experiência atual. Anteriormente, víamos os jogos no pelado, íamos para a Nave de Alvalade e depois para o jogo dos seniores no futebol. Dava para estar desde manhã até ao final da tarde nas imediações do estádio a acompanhar o clube…
Beto: Exatamente, era o dia todo. Mesmo quando eu era juvenil, tínhamos jogo às onze horas, depois havia outro jogo, à tarde havia basquetebol, andebol, hóquei em patins na Nave e ficávamos ali até às oito da noite, até ir para casa. Atualmente, existem as academias. As academias são muito boas, com condições de trabalho fantásticas para quem as utiliza. Mas a realidade é que existe um afastamento perante os sócios. Quando treinávamos em Alvalade, eu lembro-me de treinos com cinco ou seis mil pessoas a assistir, às vezes à chuva. E na altura, era com as mínimas condições. Agora acaba por haver um afastamento e isto é a realidade. As equipas estão bem e as pessoas assim vão aos jogos. Se a equipa estiver menos bem, não vão ver. O Sporting felizmente está bem, mas acreditas que, se estivesse numa fase menos boa, teria uma média de quarenta mil espetadores?
BnR: Vemos isso pelos bês. O Sporting B, na época passada, era a equipa que tinha a menor assistência média na Segunda Liga. É certo que é muito longe, mas o Seixal é tão longe para um benfiquista como Alcochete para um sportinguista.
Beto: Acaba por haver um afastamento. Eu culpo muito o facto de não aparecerem os jogadores. Não é por culpa dos jogadores, atenção. Culpo muito o protagonismo que todos têm, menos quem devia ter.
BnR: Até porque, atualmente, as palavras que são ditas por um jogador são muito mais escrutinadas do que há uns anos atrás…
Beto: São muito mais controlados. Antigamente, e falando por mim, eu tinha a minha liberdade de expressão. Havia uma ou outra coisa em que eu tinha de ter cuidado a falar, mas isso vai de cada um. Agora já vês que há jogadores que têm um discurso programado, como o “Levantar a cabeça” ou “Vamos fazer melhor na próxima semana”. Não quer dizer que nós não o disséssemos, mas eu acho que agora é muito mais controlado aquilo que um jogador diz à imprensa, seja antes ou depois de um jogo, ou numa zona de entrevistas rápidas.
BnR: Nessa questão dos espetadores, ainda pode haver outro motivo, que é a proximidade das pessoas ao clube da terra. Dou o exemplo do Farense, que deve ter uma média de espetadores superior a muitos clube da Primeira Liga. É certo que os jogos do Campeonato de Portugal não têm transmissão televisiva como têm os da Primeira Liga, mas a questão da proximidade dos adeptos aos clubes é algo que quase não se vê atualmente em alguns clubes da Primeira Liga, como o exemplo do Belenenses.
Beto: O Farense, do meu amigo Rui, é um velho histórico do futebol português e sempre teve uma massa associativa muito boa. É uma equipa que leva sempre muitos adeptos fora de casa. Já no meu tempo era assim. E agora, depois de uma situação menos boa que passaram, em que estão no Campeonato de Portugal, no mesmo campeonato que eu, continuam a levar muita gente. Ainda recentemente, além do jogo com o Caldas, mas na eliminatória anterior, no campo do Praiense, voltaram a levar muita gente ao estádio.
BnR: Também porque, ao contrário de clubes como a União de Leiria ou o Beira-Mar, não adotaram o estádio construído no Euro’2004 e mais afastado da cidade, como a sua casa…
Beto: Sim, sim. Eu acredito que o Farense, mais cedo ou mais tarde, vai voltar ao seu vigor. Por tudo o que representa para o futebol português, pela sua gente, pela vontade que o clube tem de voltar outra vez à ribalta, acredito que mais cedo ou mais tarde, terão esse prémio.
Foto de Capa: Número F/Bola na Rede
Artigo revisto por: Rita Asseiceiro