A Época Fragmentada – uma confusão necessária | Sporting CP

    Uma analogia pode ser uma perda de tempo. Também pode não o ser. Neste caso, ainda não estou certo do que será. Custa-me a crer – tal como ao Leitor deve custar – que possam existir indivíduos no mundo que nunca tenham delineado uma única analogia durante a sua existência, fosse qual fosse a circunstância. Existem estudos sobre esta temática? Se sim, em que lugares ou plataformas os posso encontrar? Que autores contribuíram para o seu aprofundamento? E que tem tudo isto que ver com o Sporting CP? São perguntas às quais exijo uma resposta rápida, se não for pedir muito.

    O apontamento descrito representa um ponto de partida para algo. O Leitor percebe que algo está a acontecer, embora não saiba qualificá-lo.

    Fui buscar o Leitor e, por essa razão, sinto-me quase obrigado a pescar algum ensinamento de Ítalo Calvino. Se numa noite de inverno um viajante e mais não sei quantos fragmentos literários enfiados nas páginas que o primeiro alberga foram responsáveis pela minha afeição e apego à solidão. Nestas ocasiões, a leitura é convidada (e também convida, quando se sente à vontade) para encontros sem dia ou hora marcada que nunca recusamos, mesmo que se afigure difícil comparecer. No último romance do escritor italiano, combate-se o isolamento.

    A matéria e o tema do primeiro e terceiro parágrafos não se cruza ou interliga em matéria, em temática ou objeto de análise. No próximo baixar de linhas (em escrita, esta ação pode e tem certamente uma designação mais técnica da qual não me recordo de momento) altera-se o certame, mas mantém-se a construção desordenada.

    A época desportiva que se joga dentro de quatro linhas e que opõe 22 jogadores (11 contra 11, como ditam as regras) parece acelerar rumo à meta. À 18.ª jornada, ainda é inverno porque a maior parte das pessoas apresenta imensa dificuldade nas mãos, pés e sucedâneos porque nem todos temos a mesma quantidade de equilíbrio nos punhos e sob os calcanhares. Contudo, o líder descolou cedo e distanciou-se do resto do pelotão e (adivinhem só) veste a camisola amarela em algumas das 34 partidas. O Sporting CP, fruto de uma primeira volta inconsistente e travestida, confirmou a derrota que no prólogo da época se indiciavam: no fundo, o clube de Alvalade entrou a perder também pela maneira como se movimentou no mercado e muitos adeptos pressagiaram-no; o desenrolar da competição só veio a comprovar o descrédito de quem tem acreditado sempre.

    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Há um quarto de século atrás – mais coisa, menos coisa – era seguro afirmar que muita coisa que estava a ser feita, dita ou achada não tinha razão nem necessidade para o ser. Diácono Remédios, censor para fins de hilaridade, agarrava os milhares (milhões!?) de telespectadores ao pequeno ecrã, – porque as televisões ainda não se pareciam com nomes dados a estupefacientes e os LED’S e LCD’S ainda não estavam na moda – com a saudosa apóstrofe “ó meus amigos” e iniciava monólogos nada desfasados da realidade e incisivos quanto aos problemas das mais diversas formas de emancipação.

    O confronto entre David e Golias é uma das mais belas histórias passíveis de inserção no mundo “da bola” – referência que aprecio em larga escala – e recorrentemente utilizada pelos órgãos de comunicação sociais. Apesar do belicismo que lhe está associado, pertence ao Velho Testamento e pode constituir uma via de aceleração rumo ao prazer que a leitura de determinada passagem futebolística provoca. Foi nesta parábola que o Varzim SC se inspirou para colocar freio nas aspirações do Sporting na presente edição da Taça de Portugal, oferecendo uma lição a um dos mais emergentes formadores táticos – Rúben Amorim. Caiu uma conquista que falta acrescentar à lista dos títulos nacionais, sportinguistas. Talvez para o ano.

    Manuais de autoajuda são um conceito engraçado. Até que ponto é correto abraçarmos a denominação sabendo de antemão que o livro é escrito por alguém que não nós? Não me interpretem mal: entendo o conceito porque o material é adquirido como ponto de partida para o restauro emocional e espiritual, para começar do zero ou para simplesmente dizer f***-** de modo subtil; contudo, os conselhos são originários de pessoas que nem sequer conhecemos pessoalmente, na maior parte dos casos. Não estamos perante manuais de co-ajuda? Ou de coajuda? A questão do hífen causa alguma consternação se analisada com minúcia, mas prometo não vos aborrecer com isso. Pelo menos, por agora.

    Sporting Tottenham
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    “Este ano, na UEFA Champions League, vamos passar em primeiro lugar no grupo. Reparem que os restantes adversários estão perfeitamente ao nosso alcance. Tottenham Hotspur, Eintcracht Frankfurt e Olympique Marseille podem ser encaradas sem qualquer pudor ou receio”. ”Marcus Edwards e Francisco Trincão rasgaram a defesa dos alemães como quem rasga um pano que tem em casa há mais de 20 anos e que nem para limpar o pó serve”. “Arthur Gomes sentenciou a partida e fez uma jogada a lembrar Ronaldinho Gaúcho, depois de Paulinho pentear a bola com classe”. “Francisco Trincão está numa forma soberba na competição: que golaço em Marselha!”. Memória de Breves Passagens Retiradas de Jogos à Quarta-Feira.

    Curb Your Enthusiasm merecia ser transmitido em canal aberto. Larry David, co-produtor de Seinfeld, é alguém que toda a gente conhece e da qual toda a gente desgosta (ou finge que desgosta). Lanço aqui a proposta de petição pública com destino ao gabinete do Ministro da Cultura. Por vezes, a encenação satírica – ou apenas reprodução fiel de acontecimentos – é uma ferramenta útil para nos desembaraçarmos de situações que, numa primeira observação, se podem revelar distantes e inusitadas.

    O SC Braga não consegue encontrar antídoto para derrotar-nos. O SL Benfica não se superiorizou e empatou-nos. O FC Porto conseguiu-o na Taça da Liga, por vias travessas. Como é que estamos assim tão mal? Após duas épocas habituado a títulos, o Sporting CP não guardou nada para esta. Há quem clame pela falta de prevenção, pelo mau planeamento e pela direção dos homens feios, porcos e maus. “Dores de crescimento” serve melhor o momento, na minha opinião. Até porque vender os melhores e mais apetecíveis, jogar com muito do décimo segundo ano e competir minimamente não é para todos. É, somente, para clubes como o Sporting CP.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.