Observamos o onze do Porto e vemos claramente uma ideia de jogo, com princípio, meio e fim. Um jogo de posse, segurança total na saída de bola, num 4x4x2 em posse (e muitas vezes um 4x3x3 em processo defensivo, com Marega a descair nas alas), e três processos base: Óliver na transição (onde ele e a bola tratam-se por “tu”), Brahimi no drible – parece menos “inócuo” que no passado – e a dupla Aboubakar/Marega, que mais do que arte ou magia, trazem poder de fogo e profundidade na frente de ataque. Mas os principais destaques desta equipa, em relação aos anos anteriores, são mesmo no processo sem bola: uma pressão enorme, desde o primeiro jogador da frente, que dificulta imenso a saída de bola da equipa adversária, quase que a obrigando a fazer o “chutão” para a frente. Mas, quase paradoxalmente, a fraqueza surge atrás dessa força: quando a equipa adversária consegue passar essa pressão inicial, muitas vezes o Porto tem dificuldade em preencher os espaços, deixando muita liberdade para os avançados em transição rápida. O jogo com o Besiktas foi um bom exemplo disso.
Do lado de Alvalade, uma ideia de jogo muito particular, mas que parece assentar nos jogadores que Jesus tem ao seu dispor: Uma defesa muito mais segura que no passado (Mathieu e Coates são, provavelmente, a melhor dupla de centrais do campeonato), laterais que dão profundidade na ala (Piccini destaca-se pela segurança defensiva, enquanto Coentrão, mesmo “a 60%”, dá o corpo e a alma em campo), um meio-campo muito coeso com Battaglia no poder de choque, onde corta, chuta, passa, corre, salta (enfim, cansa ao vê-lo jogar), e depois William, seja a pivot ou mais à frente, a oferecer uma capacidade de transporte e de circulação de bola ímpar no clube leonino. Acuña e Gelson dão a profundidade desejada nas faixas, com Bas Dost sempre à espreita, mas quem faz a ligação entre o meio-campo e o ataque é o menino nascido, curiosamente, na cidade do Porto: Bruno Fernandes. É difícil chamar-lhe médio quando joga tão bem na frente, e é difícil chamar-lhe avançado quando tem tamanha capacidade de passe e visão de jogo. É, portanto, um jogador de “ataque”, mas que sabe fazer toda a ligação entre os setores. É o coração da equipa, e se o Sporting quer criar espaços no clássico, vai ser através dos pés do internacional jovem português.
Duas ideias de jogo, duas equipas, uma bola. É sob estes alicerces que o esférico vai rolar no clássico de Domingo, em que a pressão alta de Sérgio Conceição (acredito que possa instalar um sistema muito à imagem do jogo no Mónaco) e o meio-campo de Jorge Jesus estarão em evidência. Para “jokers” deste jogo, e onde o resultado se poderá diferenciar, é através de Óliver e Bruno Fernandes. Num jogo onde ambas as equipas pressionam alto, serão estes os dois jogadores que poderão surgir entre-linhas e marcar a diferença através do passe numa partida com ambas as linhas muito adiantadas. Battaglia e Danilo serão certamente os pulmões.
Este clássico não é decisivo, mas pode ser crucial para a restante caminhada (em termos anímicos) para ambas as equipas. Sempre com o Benfica à espreita.