– O que fica do que passa –
“Fui sempre muito dado e tenho a noção que muitas vezes me prejudicou”
Bnr: Em 2018, foste contactado por várias candidaturas à presidência do Sporting; optaste por integrar a Lista F, em que serias team manager dos leões caso José Eugénio Dias Ferreira vencesse as eleições. Continua a ser um cargo que te seduz?
RP: Em primeiro lugar, tenho de salvaguardar sempre uma coisa: dei a cara pelo Dr. Dias Ferreira, e continuaria a dar, porque foi uma pessoa que me marcou muito como sportinguista, como dirigente, como pessoa e nos momentos difíceis esteve lá sempre! De facto, fui convidado por mais candidatos, todos respeitosos e com eles também me reuni, mas pelo respeito que eu tinha por eles, disse a todos que ia apoiar a Lista F. Sem prejuízo disto, independentemente de quem ganhasse, se entendessem que eu seria alguém útil, estaria disponível para ajudar o Sporting. Acredito que tenho capacidades para tal e tenho muito para dar se for esse o caso, porque nós, ex-jogadores, devemos isso ao futebol.
BnR: Para além de Marco Caneira, que é teu padrinho de casamento, que outros amigos fizeste no futebol?
RP: Contam-se se calhar pelos dedos de uma mão, no máximo duas, os amigos de casa que tu fazes no futebol, mas diria o Rui Borges e o Delfim, porque foram dois companheiros de vida. Éramos os três mosqueteiros, porque andávamos juntos para todo o lado.
BnR: A qualidade continua a não ter altura?
RP: Continua a não ter altura, sim. Hoje em dia os jogadores portugueses são maiores por força da genética, mas qualidade é qualidade.

BnR: A tua mulher acompanha-te desde os tempos em que partilhavam a mesma ama. É ela a trave-mestra da tua vida?
RP: Sim, nem posso responder outra coisa, senão ela batia-me. É uma vida inteira juntos: estamos ambos com 44 anos e conhecemo-nos com oito. Uns momentos bons, outros maus, uns assim assim… e deu-me os dois miúdos espetaculares que tenho aqui em casa.
BnR: Já que falas em miúdos, disseste que “Qualquer dia os meus filhos nem sabem que joguei à bola”. Olhando para trás, consideras que a forma despretensiosa com que viveste a tua carreira te pode ter prejudicado?
RP: Se prejudicou, voltaria a fazê-lo outra vez. Não sei ser de outra maneira. Em certa altura da minha carreira, em que o alvo era eu e me senti numa luta que não era minha, muitas vezes fui aquilo que detesto ser e criei uma capa. Fui sempre muito dado e tenho a noção que isso muitas vezes me prejudicou, porque encontrei pessoas maliciosas. Foi a educação que os meus pais me deram: quando saí de casa, disseram-me “Quando voltares, volta sempre de cabeça erguida” e é isso que tenho feito.
Obrigado, Labreca.