Sejam todos Tottis

    Contudo, não são apenas estas “negociatas” que envolvem empresários ou a famigerada Doyen que mancham gravemente o futebol. Os valores astronómicos e completamente desajustados pagos por jogadores (com os exemplos recentes da transferência de Higuaín para a Juventus, de Batshuayi para o Chelsea ou a possível mudança de Pogba para Manchester) estão a corroer o futebol por dentro, na sua zona mais bonita e natural: os adeptos. Atualmente, é raro haver ídolos que não desiludam os seus adeptos com mudanças motivadas por dinheiro. Ou com uma transferência para outro campeonato com melhores condições financeiras, ou, mais grave, com uma mudança para um rival, só porque paga mais.

    Foi isso que fizeram recentemente Higuaín, Pjanic, Carrillo, Maxi Pereira e, em anos anteriores, elementos como João Moutinho, Luís Figo, Mario Götze, Cesc Fàbregas ou Robin Van Persie. E denominei-os “elementos” porque demonstraram ser isso mesmo: peças móveis levadas pela força do dinheiro, ignorando aqueles que os suportaram durante anos. Como ser humano, acho natural as reações imediatas, de rancor e raiva, que os adeptos têm perante os jogadores que cometem essa atrocidade de sair de um clube para um rival. Ainda para mais, quando traem o clube que lhes deu formação, como no caso de Moutinho, ou que lhes deu a possibilidade de se mostrar no futebol, como Carrillo ou Maxi Pereira, para falar só dos mais conhecidos.

    O homem que interrompeu as férias para jogar na partida de apresentação Fonte: Sporting CP
    O homem que interrompeu as férias para jogar na partida de apresentação
    Fonte: Sporting CP

    Sobre isto falou recentemente Francesco Totti, um dos melhores jogadores italianos de todos os tempos e um dos seres humanos que mais admiro no mundo do futebol. O mago italiano, que joga desde sempre na AS Roma, disse isto: «Hoje em dia os jogadores de futebol seguem o dinheiro e não o coração. Não há muitos jogadores que sigam o coração. Se só tivesse pensado em dinheiro, tinha deixado a Roma há dez anos. Para mim o importante é a paixão, não o dinheiro». Com isto, Totti resume todo o lado dos adeptos, aqueles que sonham jogar futebol ao mais alto nível com a camisola do seu clube e que depois idolatram quem tem a incrível sorte de o fazer. É pena que quem tem essa sorte desperdice a magia de ser um ídolo para uma legião de adeptos, apenas pela tentação de engordar a conta dos parasitas do futebol, os seus empresários, e ter mais uns maços de notas no fim do mês.

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    Diogo Janeiro Oliveira
    Diogo Janeiro Oliveira
    Apaixonado por futebol, antes dos livros da escola primária já lia jornais desportivos. Seja nas tardes intermináveis a jogar, nas horas passadas no FIFA ou a ver jogos, o futebol está sempre presente. Snooker, futsal e andebol são outras paixões. Em Portugal torce pelo Sporting; lá fora é o Barcelona que lhe enche as medidas. Também sonha ver o Farense de volta à primeira…                                                                                                                                                 O Diogo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.