«Sou o único português com dois Torneios de Toulon» – Entrevista BnR com Luís Lourenço

    – Formado no leão, mas não no “condomínio de luxo” –

    Bola na Rede: Vamos andar um bocadinho para trás na história. Lembras-te do teu primeiro dia na formação do Sporting?

    Lourenço: Lembro-me. Não consigo precisar o ano, mas sei que foi em novembro. Fui a um treino de captações em que o treinador César Nascimento me pediu para dar uns toques numa bola e dali percebeu-se logo que tinha algo diferenciado. Acabei por ficar logo naquele treino.

     

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    Bola na Rede: Vivias na Academia?

    Lourenço: Não, vivi no centro de estágio antigo. Eu costumo dizer que não faço parte da formação do condomínio de luxo. Faço parte de outra realidade mais complicada, com mais dificuldade, não tenho problema nenhum em dizer. Orgulho-me muito porque os grandes jogadores também se veem nas dificuldades.

    Bola na Rede: Como eram as condições?

    Lourenço: Não tínhamos campo fixo, estávamos em vários campos dos arredores de Lisboa, tínhamos uma camioneta para 50, não havia bolas para todos, não havia coletes para todos. Tudo aquilo que eu posso falar, e quem viveu isso comigo no Sporting, desde treinadores, jogadores e dirigentes, sabem que eu não estou a mentir. Mas não foi por isso, por exemplo, que não conseguimos criar dois dos melhores do mundo. E conseguimos ter na seleção vários jogadores formados no Sporting que tiveram as mesmas condições que eu. Conseguimos ter vários jogadores na primeira equipa, o que vai de encontro àquilo que disse de conseguir formar e conseguir criar e dar condições para que cada vez mais jogadores da formação a chegar na equipa principal. Embora eu ache que, neste contexto dos últimos anos, é muito mais fácil chegar à primeira equipa. Muito mais fácil.

    Bola na Rede: Sobre isso que disseste agora, sentes que hoje em dia também é mais fácil os miúdos entraram na equipa principal porque há mais abertura dos treinadores a apostar nos jovens?

    Lourenço: Não, acho que é o contexto do futebol profissional também. Mas antigamente era mais difícil porque as equipas seniores tinham outro tipo de recursos para ir buscar jogadores, com qualidade. Só dar um exemplo, na minha era “só” tinha à minha frente três grandes nomes: tinha “só” um Jardel, “só” um Niculae e “só” um João Pinto. Não quer dizer que eu não conseguisse, mas eram jogadores de renome e de seleção, que dificilmente tinhas oportunidade de combater com eles. Mas eu esforcei-me, combati e consegui oportunidades de jogar e orgulho-me daquilo que fiz. Foi difícil, mas também é nas dificuldades que se veem os grandes homens.

    Bola na Rede: Há bocado disseste que não fizeste parte da formação no condomínio de luxo. Viveste no Lar do Jogador?

    Lourenço: Sim, que era debaixo da bancada nova no estádio antigo. Vivíamos à volta de 20/24 atletas.

    Bola na Rede: Com quem partilhavas o quarto?

    Lourenço: Aquilo tinha muito a ver com os escalões, à medida que ias subindo ias mudando de quarto. Partilhei quarto com o Leandro, que era guarda-redes, o Aventino, que também vinha de fora. Ali vivíamos como uma família e eu como era dos mais velhos acabava por acolher e fazê-los sentir à vontade.

    Bola na Rede: Como era o dia-a-dia nessa altura?

    Lourenço: Quando estava nos juvenis ainda tínhamos que estudar, era obrigatório. Foi uma das coisas que o nosso treinador nos pediu, que acabássemos o 9º ano. Na altura era a escolaridade obrigatória. De manhã íamos para a escola e à tarde ou noite treinávamos. Depois jogávamos ao fim-de-semana.

    Bola na Rede: E nos juniores?

    Lourenço: Como treinávamos sempre de manhã, optei por não prosseguir os estudos. Foi uma opção minha e de outros colegas, porque também tínhamos competições de seleção, era muito tempo fora com estágios e com jogos. Comecei o 10º ano, mas depois acabei por abdicar porque não estava a dar para conciliar, até porque muitas vezes depois treinava com os seniores.

    Bola na Rede: Tinhas algum ídolo de infância?

    Lourenço: Sim, sempre admirei jogadores da minha posição. Romário nos anos 90 e o Fenómeno quando apareceu. Depois em 2000 fiquei maravilhado quando vi o goleador Mário Jardel como meu colega, treinar com um monstro de área com ele, também o Beto Acosta. Outro que também gostava muito, e consegui jogar contra ele, era o Rivaldo. Tinha um talento fenomenal, não era o tal ponta-de-lança, mas era um jogador com muita qualidade.

    Bola na Rede: Quando é que jogaste contra ele?

    Lourenço: Na Grécia. Troquei a camisola com ele, é uma das que está ali [Lourenço aponta para uma estante repleta de troféus e camisolas].

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