«Sou o único português com dois Torneios de Toulon» – Entrevista BnR com Luís Lourenço

    – Escalões jovens de Portugal, seleção A em Angola –

    Bola na Rede: Corrige-me se estiver errado. És o único português que tem dois Torneios de Toulon no currículo.

    Lourenço: Ah pois é! Toma lá essa ehehe. Há muita gente que se esquece. E também devo ter sido o único capitão “negro” de uma seleção toda, foi essa de sub-20. Acho que era o único.

    Bola na Rede: Quais eram as tuas expetativas para o primeiro torneio em 2001?

    Lourenço: Eu fui sempre dos mais novos dessa seleção. Eu sou de 1983, desde os 15 ou 16 que joguei logo com essa geração de 1981, do Ricardo Costa, Bruno Alves, Jorge Ribeiro, Hélder Postiga. Eu era dos mais novos por isso a minha expetativa era de não jogar, mas tive oportunidade. O treinador dos sub-20 já me conhecia desde os sub-16 e então tive oportunidade de poder ser titular. Não só ganhei como fui dos melhores jogadores nos dois anos.

    Bola na Rede: Quem era o selecionador nesse ano?

    Lourenço: Foi o António Violante com o Filipe Ramos e o Rui Mânsio. Em 2003, foi o Rui Caçador.

    Bola na Rede: Como é que eles eram convosco? Mantinha-vos debaixo de olho por serem miúdos ou davam-vos liberdade nos tempos livres?

    Lourenço: Sim, davam. Eu era dos mais miúdos, mas a maioria deles já era sénior. Davam-nos responsabilidade qb, também tínhamos que saber as nossas responsabilidades perante um símbolo como o da Federação. Qualquer coisa que fizéssemos não diziam que foi o A, B ou C, mas a Federação é que ficava em cheque e o nome de Portugal. Por isso, davam-nos liberdade, mas punham medidas quando tinha que ser.

    Bola na Rede: O que faziam nos tempos livres?

    Lourenço: Jogar cartas, passear pelo centro comercial. Eles tinham lá um jogo tradicional que era a petanca e pronto divertíamo-nos assim. Não era ainda altura dos telemóveis e dos smartphones, não andava tudo agarrado como é hoje. Depois algumas partidas, bater nas portas e fugir ehehe.

    Bola na Rede: Em 2003, é uma geração mais madura.

    Lourenço: Sim, já era tudo de 1983 e o único que era de 1985 era o Cristiano [Ronaldo]. Era uma boa equipa, um bom grupo em que praticamente podíamos ter feito o pleno, mas distraímo-nos no jogo com o Japão. Podíamos ter feito cinco vitórias consecutivas mas aquilo também foi bom para nos dar mais ânimo e recolher as armas e ir para cima deles todos.

    Bola na Rede: Nesse ano jogas com o 10 nas costas e a braçadeira de capitão no braço.

    Lourenço: É, porque na seleção, não sei se agora ainda é, normalmente não era pelo estatuto que eras capitão, mas sempre foi pelas internacionalizações. Eu naquela altura já era um dos mais internacionais, até porque comecei muito mais cedo, ainda nem tinha idade para estar na seleção e já estava. Fui capitão só porque era um dos mais internacionais. Depois mais tarde os critérios foram mudando, isso são outras conversas.

    Bola na Rede: Então?

    Lourenço: Depois nos outros anos os critérios mudaram, porque o jogador está na equipa A, porque veio com azia para baixo e tem que se dar ombro ao menino… Coisas que aconteceram mas pronto, penso que a partir dos sub-21 os critérios mudaram. Quando era altura de eu ser capitão dos sub-21, passei de capitão para sub-capitão. Foram decisões que eu tive que acatar, não gostei muito, mas acatei. E a vida seguiu.

    Bola na Rede: Estive a ver o resumo do jogo com a Argentina. Desculpa a expressão, que g’randa golo de livre.

    Lourenço: Eu acho é que foi um g’randa frango ehehe. O gajo estava a dormir.

    Bola na Rede: Foi um tiraço…

    Lourenço: A bola não pode entrar ali, passou por fora da barreira. Ele estava a dormir, só pode ehehe. Mas, sim, desbloqueou o jogo, porque a barreira estava um bocado densa e eu como chutava forte quis pôr a técnica. Experimentei, correu bem e ainda bem. Com a parte de fora do pé ela saiu da barreira e entrou ali no cantinho.

    Bola na Rede: Houve excesso de confiança nos Jogos Olímpicos de 2004?

    Lourenço: É assim, houve excesso de confiança, houve. Mas também houve alguns critérios que não foram abonatórios.

    Bola na Rede: Em que sentido?

    Lourenço: Houve critérios um bocado… Digamos que das escolhas para o 11, lá está mais uma vez, muito pelo estatuto, porque estava na equipa A e não tanto pela qualidade. E também um bocado de excesso de confiança. A equipa achava que aquilo ia ser favas contadas, até que no primeiro jogo levamos 4 do Iraque.

    Bola na Rede: Lembro-me bem de ver esse jogo.

    Lourenço: Pois, nesse jogo eles andavam de mota e nós era de bicicleta. Nós pensávamos que não eram, que vinham para cá lançar granadas. Vieram, vieram… Vieram foi pôr foguetes e nós não conseguimos agarrá-los, que aquilo parecia que era passar a via verde em excesso de velocidade que quando demos por nós estávamos a levar 4. E até começámos a ganhar. No segundo jogo ainda ganhámos, contra Marrocos, e depois contra a Costa Rica foi equilibrado. O empate servia-nos e acabámos por perder.

    Bola na Rede: Jogas pela seleção portuguesa nos escalões jovens mas nos seniores acabas por optar pela seleção angolana.

    Lourenço: Sim, mas isso já muito no final. Opto pela seleção angolana em 2011, não foi por aí. Foi mais porque até lá tinha esperança de ir, mas tive sempre azar. Tinha o Pauleta, tinha o Nuno Gomes, tinha o Hélder Postiga. Não era fácil chegar à seleção.

    Bola na Rede: Como se deu a tua ida para a seleção de Angola?

    Lourenço: Foi o selecionador na altura, o Lito Vidigal, que me ligou mais o diretor desportivo da Federação. Perguntaram-me a minha disponibilidade e eu disse que era total. Chegas a uma altura em que não vale a pena andares a ter esperança de algo. O melhor é abdicares e ir. Aliás, eu já podia ter ido mais cedo e não quis.

    Bola na Rede: Quando?

    Lourenço: Tive duas abordagens para poder ir. Em 2006, quando eles foram ao Mundial, se calhar hoje tinha ido a um Mundial ehehe. Aquilo que eu não consegui nas camadas jovens podia ter ido por Angola. Depois, em 2008, fazem-me uma outra abordagem para ir para o CAN. O tempo foi passando, até que em 2011 aceitei. Acabei por ser internacional angolano, não me posso queixar pois fui internacional A.

    Bola na Rede: Que memórias tens da tua única internacionalização A?

    Lourenço: Foi um jogo particular com a Zâmbia. Foi o único, porque depois não consegui encontrar um clube onde eu pudesse dar continuidade à carreira. Ou seja, tive clube, mas não era do meu agrado, por isso acabei por não aceitar algumas propostas. Acabei por ficar parado nesse ano e perdi o CAN 2012.

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    Frederico Seruya
    Frederico Seruya
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