Sporting CP | D. Pedro IV sabe fugir e a História demonstra-o

    A História é simplesmente fascinante e, quem disser o contrário, gosta mais de Matemática e de Ciência do que dos próprios pais. O juízo pode parecer hiperbólico, mas a vida também não é mais do que um exagero quando a pretensão redunda numa só coisa: a morte. No fundo, a disciplina visada permite um encontro desconhecidamente nostálgico com o “foi”, uma introspeção face ao “é” e um apelo ao “será”.

    Por abordar a História, tratemos do segundo mais alto cargo da Nobreza: o rei (e a rainha porque posso ser mal interpretado e chamado de machista). Confesso ter tido uma lista de dez monarcas portugueses preferidos, mas depois cresci, interessei-me pela Literatura e deixei essas brincadeiras.

    Porém, o nome de D. Pedro IV ficou gravado na memória ad aeternum: o primeiro imperador do Brasil soltou o grito do Ipiranga e proclamou a independência do país em 1822, após evasão de Portugal em 1807. Quem está com o livro de História aberto são vocês…

    O Pedro número quatro, feitas as contas, foi responsável pelas muitas pérolas que o Brasil tem oferecido – em qualquer atividade – ao resto do globo terrestre. Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Meirelles, cachaça e Matheus Reis. Pessoalmente, este é um dos conjuntos que emana – em mim – felicidade; estou em crer que pudessem existir outros, mas não prestei muita atenção quando requisitei este. Paguei uma pipa de massa, é normal.

    O primeiro contacto com Matheus Reis ocorreu na temporada 2017/2018, quando o pretenso lateral-esquerdo envergava a camisola do Moreirense FC. Não foi agradável, de todo. Naquele período, preferia que uma agulha atravessasse a minha pele durante cada um dos 90 minutos da partida em vez vê-lo ser responsável por um dos flancos. Sorte do extremo que o enfrentou. Não me lembro do resultado dos dois jogos.

    Fonte: Sebastião Rôxo / Bola na Rede

    A transferência dos cónegos para o Rio Ave FC causou estranheza, mas não revolvi o assunto. O que é facto é que Matheus Reis assume-se uma peça no desenho defensivo e ofensivo dos vilacondenses nas duas épocas e meia que se seguiram. “Mas o Coentrão não esteve lá na primeira época do Matheus Reis para se ocupar da vaga do lado esquerdo?”. Esteve, mas provavelmente o Matheus Reis não fumava meio maço.

    No momento da contratação do brasileiro para o Sporting CP, pensei que pudesse ser finalmente comprovada a infâmia e a fraude técnica que Rúben Amorim podia representar: Matheus Reis só podia ser um delírio para quem dizia não estar (agora dá para rir) a lutar pelo título de campeão nacional.

    E a verdade é que, quando chamado a jogo, Matheus Reis nunca foi o tipo de jogador que fizesse sonhar, mesmo ocupando um posto defensivo (central pelo lado esquerdo, preferencialmente). Este ano, face às lesões, o camisola 2 impeliu à troca por Feddal, na maioria das vezes. O brasileiro conheceu a rotina e soma jogos como um magnata soma notas de 1000.

    A evolução profissional do jogador é irrefutável. Matheus Reis, ao longo da temporada, tem sido um dos principais sustentáculos do Sporting CP: defensivamente, o sistema de três centrais arquitetado implementa nos homens mais recuados a responsabilidade de delinear a primeira fase de construção de jogo e Matheus Reis, através das suas arrancadas e fugas para zonas mais avançadas do terreno (espaços desocupados onde a diferença é criada), tem sido exímio nessa expressão de superioridade na maioria dos jogos; além disso, o brasileiro – juntamente com os dois companheiros de posição – revela inteligência na introdução do adversário na armadilha do fora de jogo, no posicionamento aquando de uma bola parada e na reação à perda da posse de bola.

    A polivalência de Matheus Reis é fundamental para a manobra do Sporting CP. Além de poder ser adaptado a central pelo lado esquerdo, o camisola dois pode ocupar a posição de lateral/ala esquerdo. No aspeto defensivo, Matheus Reis necessita de realizar tarefas distintas relativamente à anterior: o controlo da profundidade assume-se basilar pelo facto de existir a preocupação de o sistema tático do Sporting ser desdobrável (3-4-3 ofensivo para um 5-3-2 defensivo).

    Loreintz Rosier Sporting
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Ofensivamente, o lateral esquerdo de origem tem surpreendido – ainda mais – os adeptos do Sporting. O brasileiro detém uma capacidade elevada em conectar os dois setores (defensivo e ofensivo) através das suas escaladas pelo flanco esquerdo: através do desenho de triangulações com os médios leoninos ou da velocidade que inscreve nos seus movimentos, Matheus Reis transparece a sua técnica e a capacidade de driblar adversários com o intento de chegar à área e criar situações passíveis de perigo. Por acréscimo, apesar de não contribuir para a equipa com assistências como Pedro Porro, demonstrou que também sabe molhar a sopa quando a equipa necessita.

    A História mostra-nos que um jogador que nasce inapto, reforma-se na mesma condição. A mesma História demonstra – igualmente – que Pedro IV tomou a melhor decisão da sua vida quando materializou a sua fuga. Ainda a mesma História denota que existem adeptos que merecem ser silenciados com fita-cola. Viva o Matheus Rei(s)!

     

    P.S: A cultura de treinos da equipa técnica de Rúben Amorim auxiliou e potenciou, certamente, a aparição de Matheus Reis no panorama do futebol nacional como um dos melhores defesas do presente campeonato.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.