Há umas semanas terminei um texto com a frase de um dos sócios mais mediáticos do Sporting que reza assim: “Tudo parece impossível até que seja feito”. Há uma frase associada a Albert Einstein semelhante, mas esta foi-nos deixada pelo Sócio de mérito leonino, Nelson Mandela, e por isso mais marcante para este Sportinguista.
Este pensamento pode servir perfeitamente para descrever o momento em que Manuel Ugarte foi chamado para substituir Palhinha no meio-campo do Sporting. Isto porque, quando o clube leonino decidiu contratar o uruguaio todos colocaram em causa a qualidade do jogador, não lhe reconhecendo qualidade suficiente para representar o clube de Alvalade e muito menos equiparar-se à qualidade que vinha apresentando que naquele momento quem era dono e senhor do lugar.
A bem da verdade é que ninguém esperava que um jogador que apenas tinha representado equipas com objectivos menores chegasse a um clube que luta por títulos e se afirmasse como Ugarte o fez, até porque Palhinha vinha de uma época extraordinária, mostrando toda a sua qualidade e classe, dando uma consistência defensiva que seria a base para fazer do Sporting novamente Campeão nacional.
Mesmo o próprio treinador afirmou ter ficado surpreendido com a adaptação tão rápida de Ugarte ao Sporting, e da qualidade apresentada. Ao mesmo tempo, disse que todos os jogadores estavam preparados para entrar na equipa principal, e o agora internacional uruguaio mostrou-o, em campo.
Começou a fazê-lo com mais visibilidade logo num dérbi. O jogo era, como qualquer dérbi, de enorme importância, até porque estes jogos são obrigatoriamente para vencer e demonstrar superioridade sobre o eterno rival, mesmo que daí já não advenha mais nenhuma vantagem, o que aqui não era o caso.
O sporting iria entrar em campo sem o seu capitão e pilar da defesa, e sem o seu pulmão Palhinha o que tornava logo este jogo bastante equilibrado ainda que o rival estivesse em baixo de forma. A verdade é que, Ugarte mostrou, juntamente com toda a equipa do Sporting uma personalidade e qualidade tal que não deixou dúvidas a ninguém sobre quem era melhor. E Ugarte mostrou que, se calhar, ele era melhor do que todos esperavam. Talvez só ele acreditasse nisso, pelo menos até àquele jogo.
O uruguaio tem aproveitado os castigos e lesão que obrigaram à ausência de Palhinha para se afirmar na equipa titular do Sporting, e hoje já ninguém fala sequer quando o português está impedido de jogar, ou está em menor forma, porque sabemos que o seu substituto vai cumprir. E hoje pode até já haver quem diga que o substituto não é Ugarte.
Há, no entanto, quem diga que este ano a equipa, apesar de ter mais bola e apresentar um jogo de posse, está menos consistente atrás pela falta de Palhinha no meio-campo, no entanto eu acho que se deve essencialmente ao facto de nesta temporada, a linha defensiva ter tido menos consistência pelo simples facto de Rúben Amorim estar a ser obrigado a constantes alterações por castigos ou lesões.
É inquestionável que um jogador com a qualidade de Palhinha fará falta a qualquer meio campo, mas penso que Ugarte apesar de poder não ser tão completo a defender, e não conseguindo fazer uma cobertura tão grande de terreno como o português, dá maior capacidade à equipa em segurar bola, em sair a jogar de trás (se nos lembrarmos de Palhinha a fazer um túnel a Pogba e a sair de pressão também não podemos dizer que lhe falte qualidade) e permite então que o Sporting tenha o jogo apoiado que o treinador tanto apregoa.
Para mim, como diz o treinador, jogadores diferentes dão coisas diferentes ao jogo, ainda que ocupem a mesma posição, e Ugarte dá coisas diferentes ao meio-campo do Sporting, coisas que nenhum outro médio leonino tem, porque tem um pouco de Palhinha com um pouco de Matheus Nunes sem ser igual a nenhum deles. E neste caso, ser diferente é bom.
Ugarte, com a sua arte, mostrou a todos que para ele não há impossíveis. E com isto já lá vão trinta jogos de leão ao peito. Que 2 milhões tão bem empregues (sim, já sei. A juntar aos 6,5 milhões iniciais). Há jogadores bem mais baratos que saíram bem mais caros ao Sporting. Na minha opinião já justificou o investimento, e continua a justificar.
Mas a maior qualidade e Manuel Ugarte é que é mais um para ajudar. É mais um que vai onde todos os outros vão. Mais um que coloca o colectivo à frente do seu ego. E isso não há milhão que pague. Porque esta equipa vive dessa união. Onde vai um vão todos. Onde vai Ugarte, Palhinha, ou qualquer outro “Manel”, vão todos.