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Um registo do qual ninguém fala

amarazul

“O Futebol Clube do Porto acabou”. Esta foi uma das frases mais utilizadas nos últimos meses para fazer referência não só ao ‘reinado’ de Pinto da Costa mas, também,(imagine-se!), ao próprio clube. Os resultados registados deixam muito a desejar, o plantel não convence, tudo está mal. Sobre os registos positivos ninguém fala – esquecem-se, como, aliás, sempre acontece quando o clube merece destaque.

Silvestre Varela (Portugal), Eliaquim Mangala (França), Steven Defour (Bélgica), Diego Reyes e Hector Herrera (México), Juan Quintero e Jackson Martínez (Colômbia), Nabil Ghilas (Argélia) e Jorge Fucile (Uruguai). São, no total, nove os representantes portistas presentes no Brasil para disputar o Mundial de Futebol 2014. Nove!

Seria fácil pegar nestes números e entrar numa extensa comparação com outros clubes portugueses. Curiosamente, o Benfica conta com cinco jogadores na prova e o Sporting com quatro (5+4=9, uma conta simples de se fazer). Mas não, não irei por aí. Seria um desperdício do tão precioso espaço deste texto e, acima de tudo, seria um desperdício de tempo, quer para mim, que o escrevo, quer para todos vós, que me lêem.

O objectivo deste conjunto de parágrafos é, sim, combater a crítica e todos aqueles que tão mal falam do clube pelas vendas de jogadores “importantes” e supostas “lacunas” no capítulo da compensação de venda dos mesmos. Pois eu pergunto: o quê?

A nível de capital, o Futebol Clube do Porto encaixou, uma vez mais, como quase ninguém. Tem também garantias de receber mais um bom conjunto de milhões no verão que se avizinha. Ao vender atletas ditos “importantes” terá posses para os substituir – como aliás sempre tem feito.

Jackson está no Mundial e está perto de sair Fonte: Goal.com
Jackson está no Mundial e está perto de sair
Fonte: Goal.com

Ora, dito isto, porquê continuar pelo caminho dos últimos dias? As alterações estão a ser feitas. A espaços, mas estão: o plantel vai sendo renovado, a equipa técnica já está no terreno a trabalhar e os reforços começarão a chegar em breve. Com tudo encaminhado, porquê optar por carregar na mesma tecla? A época foi má – isso é inegável. Foi má ao ponto de o Futebol Clube do Porto terminar em terceiro lugar, falhar a entrada directa na maior competição de clubes e “apenas” conquistar um troféu. Mas não é o fim do mundo.

E com “mundo” regresso novamente ao Mundial. Enquanto a época clubística não é retomada, não há nada melhor a fazer do que dar a todos aqueles que tanto criticam a oportunidade de virarem os olhos para uma outra prova. Aproveitem os trinta dias de Mundial (que entretanto já começou) e venham renovados para a nova época. Reconheçam o registo azul e branco (o melhor da história do clube) e interiorizem que, para tal acontecer, há qualidade – muita qualidade – envolvida. Muita tinta corre nos jornais nacionais e apenas uma pequena percentagem deve ser assimilada.

Gana 1-2 EUA: resistência e eficácia americana

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O RESCALDO

Depois da pesadíssima derrota frente à Alemanha, os portugueses centraram as atenções no duelo entre as duas restantes equipas do grupo G. Gana e Estados Unidos da América demonstraram, esta noite, que são duas seleções perfeitamente ao alcance de Ronaldo e companhia. Fortes e lutadores, os americanos foram dominados por uma selecção ganesa com uma assinalável propensão ofensiva, mas com claras lacunas defensivas.

Quanto ao jogo em si, os EUA entraram literalmente a ganhar: aos 30 segundos, Clint Dempsey fez o que quis do defesa ganês Boye e atirou para o fundo da baliza de Larsen. Com a confiança em altas pelo golo tão repentino, os americanos subiram as linhas e dominaram por completo os primeiros dez minutos. A entrada forte e vertiginosa da selecção americana foi, porém, muito fugaz. Rapidamente se percebeu que os EUA optaram por baixar todo o bloco (os médios defensivos jogavam quase colados aos centrais) e ofereceram o domínio da partida à selecção ganesa. O 4-2-3-1 dos africanos, apesar de privilegiar a velocidade dos extremos, raramente conseguiu invadir o espaço do adversário. Na verdade, a posse de bola dos “black stars” foi visivelmente superior (cerca de 60% nos primeiros quarenta e cinco minutos) mas nunca se traduziu em ocasiões de golo. Por outro lado, a seleção norte-americana, comandada pelo técnico Jurgen Klinsmann, fez de um 4-4-2 extremamente rígido a base de todo o jogo. Com o duplo pivô defensivo em grande evidência (sobretudo Kyle Beckerman), os americanos controlaram a magra vantagem até ao intervalo.

Foi um jogo disputado até ao limite Fonte: FIFA
Foi um jogo disputado até ao limite
Fonte: FIFA

O reinício da partida trouxe uma selecção ganesa mais atrevida, mais rápida, e, essencialmente, com outra dinâmica. Os americanos, que repetidamente optaram pela organização defensiva, viram os “black stars” falhar três ocasiões de golo iminentes em apenas cinco minutos. Com Opare (suposta aquisição do FC Porto para a próxima época) e Atsu em grande plano, os ganeses canalizavam grande parte do jogo ofensivo pelo corredor direito.

A resistência americana durou até ao minuto 82, quando André Ayew, após uma excelente combinação com Asamoah Gyan, bateu o veterano Tim Howard e devolveu alguma justiça ao marcador.
Com os EUA em grande debilidade física – principalmente o setor defensivo – o Gana partia para os dez minutos finais com esperança na reviravolta. Contra todas as expectativas, foram novamente os americanos a fazer a festa: Zusi bateu o canto e John Brooks, livre de marcação (culpas novamente para Boye), cabeceou para o 2-1 final, conquistando assim os três pontos para os Estados Unidos da América.

O resultado não reflete o que se passou no Estádio Arena Dunas. Ainda que com estilos diferentes, ambas as equipas batalharam imenso, num jogo de grande intensidade física. O empate seria, sem qualquer dúvida, o resultado justo. Sobressaiu, contudo, a resistência e eficácia norte-americana.

A Figura

Kyle Beckerman – o médio americano limpou quase tudo o que havia para limpar. Enorme exibição.

O Fora-de-Jogo

John Boye – está inteiramente ligado aos dois golos dos EUA. Falhou o corte no golo de Dempsey e deixou Brooks livre de marcação no segundo golo dos americanos. 

Irão 0-0 Nigéria: Só podia dar em nulo

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Chegou o primeiro empate do Mundial 2014. Sem golos nem estratégia que valha a qualquer uma das duas equipas, este foi simultaneamente o jogo mais fraco e desinteressante da competição até ao momento.

Por um lado, um Irão super limitado embora orientado por um técnico bem conhecido pelos portugueses – Carlos Queiroz – e com experiência para ajudar a organizar uma equipa que não pode ambicionar a mais do que isto. Por outro, a Nigéria de quem se esperavam mais ideias e melhor preparação ofensiva. O resultado acabou por ser justo e, das quatro envolvidas no grupo F, a Bósnia é aquela que saiu mais beneficiada com este empate.

No início do jogo a Nigéria até deu alguns sinais positivos, mostrando-se bem mais ofensiva e determinada em apostar na velocidade dos seus jogadores mais adiantados que é, de resto, uma das suas principais armas. Criou uma ou outra situação de perigo mas a melhor ocasião até acabou por pertencer ao Irão: na sequência de um canto, o guardião nigeriano foi forçado a fazer uma grande intervenção para evitar o golo. Contudo, ficou-se por aí a criatividade e investidas de qualidade de parte a parte. A velocidade que a equipa africana implementou no início foi-se desvanecendo e, ao intervalo, o resultado era justo perante a organização defensiva que ia servindo ao Irão para manter o empate.

Nem a crença chegou à equipa da Nigéria para desfazer o empate  Fonte: FIFA
Nem a crença chegou à equipa da Nigéria para desfazer o empate
Fonte: FIFA

Na segunda parte o que se passou foi algo ainda pior do que na primeira. Menos futebol da Nigéria, mais querer por parte do ataque do Irão mas nem por isso se pôde assistir a uma jogada que fosse de registo… de qualquer parte. Um deserto de ideias e de qualidade. Com o passar do tempo foi crescendo a impaciência e ansiedade por parte dos nigerianos e alguma confiança por parte dos iranianos. Só com bolas paradas se vislumbrava algum perigo mas nem assim se conseguiu assistir a um golo. Foi com um 0-0 que começou e seria assim que acabaria. Justo, sobretudo, porque nem uma equipa nem outra mereciam mais.

Resta à Nigéria – das duas, a equipa com maior potencial – melhorar a sua organização ofensiva se deseja lutar pela qualificação com a Bósnia. É possível que se trate de uma equipa mais confortável a jogar em transições devido à velocidade dos seus avançados. Hoje, por força da estratégia do Irão, teve maioritariamente em situações que exigiam maior organização ofensiva e, por isso, passou muitas dificuldades. O jogo aéreo é também um capítulo a explorar visto que se trata de uma selecção com jogadores fortes do ponto de vista físico. Quanto ao Irão, pouco mais do que isto se poderá exigir: organização defensiva quanto baste e a aposta nas bolas paradas e em jogadas individuais. Há muito pouca qualidade individual para Queiroz explorar. Resta ao português o consolo de ter sido o único dos treinadores portugueses a pontuar nesta primeira ronda.

A Figura

Irão: Para uma equipa tão limitada quanto esta, entrar no Mundial com um empate é um resultado animador e, com alguma sorte, Carlos Queiroz poderá até sonhar com o apuramento. Será difícil.

O Fora-de-Jogo

Qualidade de jogo: Num mundial de futebol espera-se sempre mais do que o que foi visto hoje a partir das 20h. Muito pouca qualidade individual e a pouca que existia – do lado da Nigéria – mal orientada e aproveitada. Era expectável que não se tratasse de uma partida de sonho, mas não deixa de ser lamentável um jogo tão fraquinho num palco tão grande quanto o Mundial no Brasil.

Alemanha 4-0 Portugal: os abutres e os pardalinhos

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O RESCALDO

Vou começar esta análise com as palavras que se impõem para o que resta deste Campeonato do Mundo: Levantar e cabeça e corrigir os erros que nos atraiçoaram neste primeiro jogo. Numa competição com esta dimensão e importância não pode haver tempo para lamentações, críticas fáceis e rebaixamentos desnecessários. Há mais jogos por realizar e uma qualificação por disputar.

Analisar esta derrota de Portugal é, neste momento, um exercício inglório. De entre tantos desastres que marcaram a derrota portuguesa hoje frente à Alemanha, é difícil encontrar uma explicação lógica para tanta apatia e inibição num grupo de jogadores que tem o privilégio de disputar um Mundial de futebol. Quatro golos sofridos, outros tantos por sofrer, expulsões e lesões, e a maior derrota de uma selecção nacional em fases finais.

Quem viu os primeiros minutos deste Portugal vs Alemanha, disputado na Arena Fonte Nova, em Salvador, dificilmente imaginaria um desfecho tão penoso para a selecção portuguesa, dada a acutilância ofensiva dos portugueses nos primeiros minutos de jogo. A explorar a velocidade de Ronaldo e Nani, Portugal até criou algum perigo à defesa alemã composta por quatro defesas centrais. Os receios de Joachim Low, técnico da Alemanha, relacionados com o explosivo contra-ataque português, pareciam fazer sentido nos instantes inicias da partida, mas rapidamente se dissiparam.

Cronologicamente, o minuto 11 marca por completo um jogo que se previa, à partida, equilibrado, mas que revelou um massacre de alemães a português, ou melhor, de abutres a pardalinhos. Este momento corresponde ao primeiro golo da selecção alemã, o primeiro dos três apontados por Thomas Muller. Depois de uma péssima abordagem ao lance de João Pereira, Muller ganhou posição na área e o defesa do Valência agarrou o avançado do Bayern. Penalty bem assinalado, 1-0 para a Alemanha e comando de jogo para a Mannschaft.

Com a vantagem no marcador, a bola passou a rolar somente entre os homens que vestiam o branco da Alemanha e Portugal não mais voltou a encontrar-se em campo. Kroos, Khedira, Ozil e Gotze engoliram os centros campistas portugueses e passaram a controlar todo o ritmo da partida. O segundo golo da Alemanha acabou por aparecer com a naturalidade que o controlo alemão auspiciava e a cabeçada de Hummels, por entre os centrais portugueses, foi a machadada final nas aspirações português nesta tarde. Seguiu-se a expulsão ridícula de Pepe que, após agressão a Muller, deixou Portugal completamente perdido em campo, decorridos apenas 30 minutos de jogo.  E pouco tempo depois, quando parecia que as coisas não podiam piorar, eis que surge um terceiro golo alemão, a castigar mais um erro defensivo português.

A segunda parte, como diz (e bem) Paulo Bento, dificilmente poderia ter outra história. Com um homem a menos, e contra uma poderosíssima e confiante selecçâo alemã, Portugal limitou-se a esperar pelo final do jogo, mesmo tendo que continuar a ser engolida pelo metodismo e qualidade dos germânicos. Do lado nacional, não havia força para mais nada, senão lutar pela honra das quinas e esperar que Ronaldo trouxesse algum brio ou brilho à exibição portuguesa. O capitão tentou, mas, e à imagem dos seus colegas, foi sempre inconsequente.

Antes do final do jogo, o pesadelo lustitano conheceu mais dois tristes episódios. A lesão de Fábio Coentrão é um duro golpe para a equipa neste Mundial e o facto de tratar de uma mazela com alguma gravidade relega para segundo plano o quatro golo alemão, apontado por Muller, o melhor do alemães.

Com dois jogos para disputar,  a nau portuguesa nesta aventura brasileira ainda não está afundada, mas para chegar a bom porto tem que mudar alguns timoneiros. Hugo Almeida não pode ser o ponta-de-lança de Portugal neste Mundial, Éder parece ser a opção mais acertada, e William Carvalho e Ruben Amorim merecem o seu lugar no onze nacional. Sem Pepe e, aparentemente, Coentrão para os próximos jogos,  Neto e André Almeida são as opções mais viáveis para os substituir.

Muller apontou um hat-trick  Fonte: Eurosport
Muller apontou um hat-trick
Fonte: Eurosport

A Figura

Thomas Muller: O avançado do Bayern fez três golos numa fase final de um Mundial e esse feito está ao alcance de poucos. Foi ágil, astuto e perspicaz nos golos que apontou e um perigo constante para a defesa português. Até esteve na origem na expulsão de Pepe.

O Fora-de-Jogo

Portugal: Num mundial de futebol, não se pode aceitar tamanha apatia e distracção  de uma equipa que tem milhões de olhos em cima. Demasiados erros defensivos, e um amadorismo inadmissível. Há muito a melhorar, mas também há matéria para isso. Vamos ter crença e esperança nos nossos jogaodores.

Os verdadeiros campeões

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cab nba

20 de Junho de 2013. No fim da noite as pessoas de Miami cantavam, saltavam, festejavam e, pela terceira vez na história, celebravam o título da NBA coroando Lebron James como MVP das finais. Pouco menos de um ano depois, os papéis inverteram-se. Agora, em San Antonio, era o público texano que rejubilava com a conquista do quinto título.

Há umas semanas atrás, afirmei que este grupo de homens liderado por Gregg Popovich praticava um dos melhores estilos de jogo já visto no basquetebol.

Depois de baterem equipas como Dallas Mavericks, Portland TrailBlazers e Oklahoma City Thunder, os Spurs chegaram às finais jogando um total de dezoito jogos – sete contra os Mavericks de Dirk Nowitzki, cinco contra os TrailBlazers de LaMarcus Aldridge e Damian Lillard e seis contra os Thunder de Kevin Durant e Westbrook. Por sua vez, os Miami chegaram com menos três jogos de, teoricamente, muito menor dificuldade. Começaram por varrer os Charlotte Bobcats de Al Jefferson, de seguida venceram em cinco jogos os Brooklyn Nets de Paul Pierce e Deron Williams, e em seis jogos os seus nemesis da conferência de Este, os Indiana Pacers de Paul George.

Com os seus caminhos feitos, os Spurs chegavam a duas finais consecutivas na esperança de vingar a derrota do ano anterior. Os Miami jogavam uma quarta final consecutiva, algo que não era alcançado desde que os Celtics o conseguiram na década de 80.

Bem, descritos os caminhos estava na altura de, finalmente, jogar pelo título. Não vos irei maçar descrevendo os jogos todos. Os primeiros dois jogos foram em San Antonio, e o resultado foi divido. Se num primeiro jogo, os Spurs venceram de uma maneira algo controversa, com uma avaria no ar condicionado do pavilhão que iria levar a uma lesão de LeBron James, o segundo jogo já não teve tanta contestação. Os Heat venceram o jogo e tiveram jogadas que ajudaram a cimentar o resultado final.

Estas estrelas foram mais uma vez imprescindíveis na conquista do quinto título da instituição  Fonte: nbawallpapers10.net/category/san-antonio-spurs
Estas estrelas foram mais uma vez imprescindíveis na conquista do quinto título da instituição
Fonte: nbawallpapers10.net

Foi a partir desse momento que os jogos viraram. A qualidade superior da equipa texana foi mais do que aparente e, em Miami, ganharam ambos os jogos sem muito esforço. Os Heat foram dizimados em casa e, pela primeira vez desde 2012, perderam dois jogos consecutivos numa fase final da época. Os Spurs no primeiro período do terceiro jogo marcaram 41 pontos, o que levou consequentemente a vitórias por 19, e mais tarde, por 21 pontos no quarto jogo; a equipa da Flórida não teve hipóteses. Foi a partir deste momento que as diferenças entre cada Equipa se acentuavam.

De um lado tínhamos o melhor jogador de basquetebol do mundo em LeBron James, do outro tínhamos a melhor Equipa do mundo. O facto de “equipa” estar escrita com maiúsculas não foi acaso nenhum. Desde que aprendemos que basquetebol é um desporto de equipa, que nos esquecemos o que é que isso significa.

O estilo de jogo feito pelos Spurs é a personificação de jogo colectivo. Quando há problemas e algumas dificuldades em marcar, a bola até pode ir parar a um jogador específico, no entanto, no estilo de jogo da equipa texana, a bola roda por todas as mãos, todas as jogadas. Com a constante rotação, a defesa adversária não consegue acompanhar o ataque e, eventualmente, haverá um jogador que tem uma aberta boa o suficiente para lançar ao cesto. E foi assente nesse conceito que os Spurs planearam todos os seus ataques. Como foi visto, foi muito eficaz.

No último jogo, os Miami até começaram a atacar muito bem, no entanto, não demorou muito até o poder de Equipa dos agora campeões se demonstrar e conseguir a reviravolta no marcador e consequente vitória.

Se há algo que não pode ser contestado é que os Spurs foram de facto a melhor equipa durante o ano todo e não só nos playoffs. Conseguiram vingar-se dos Miami Heat, imortalizar para sempre Tim Duncan como o melhor Power Forward de todos os tempos e, provavelmente, coloca-lo no grupo dos melhores jogadores de sempre. Com cinco títulos, Duncan tornou-se também o jogador com mais duplos-duplos em postseasons.

Enquanto LeBron tudo fazia para se tentar bater contra a equipa de Oeste, a sua equipa nada conseguia fazer. Enfrentaram um ataque fulminante e uma defesa sufocante, enquanto estes não conseguiram fazer o mesmo. Foram maus defensivamente e piores ofensivamente. Apenas James se mostrou e apenas ele foi um jogador digno de estar nas finais. As prestações colectivas por parte dos Heat foram quase vergonhosas, não alcançando este patamar graças ao número 6.

Há que louvar o que os Spurs conseguiram fazer – tornar as outras estrelas da equipa de Miami quase insignificantes.

Escrevo isto enquanto fã dos Miami. Não foram suficientemente fortes, bons e, naturalmente, uma equipa para poderem fazer frente ao melhor grupo que já vi jogar.

Por fim, não podia acabar de escrever este artigo sem comentar as prestações que mais me surpreenderam. Boris Diaw foi um dos jogadores mais importantes dos Spurs. Enquanto as atenções defensivas estavam maioritariamente direccionadas para o Big Three da equipa de San Antonio, Tony Parker, Manu Ginobili e Tim Duncan, o francês mostrou que também ele merecia ser defendido com a mesma agressividade. Boris Diaw mostrou-se como um catalisador e organizador de jogo que ninguém, fora dos Spurs muito provavelmente, esperava.

Uma das maiores surpresas das finais. Leonard mostrou que poderá vir a ser uma superestrela da equipa e, daqui em diante, poderá a ser uma das referências ofensivas da equipa  Fonte: basketwallpapers.com
Uma das maiores surpresas das finais. Leonard mostrou que poderá vir a ser uma superestrela da equipa e uma das referências ofensivas da equipa
Fonte: basketwallpapers.com

Por sua vez, Kawhi Leonard, apesar de não ser nenhum estranho na NBA, elevou o seu jogo de uma forma inesperada. Se nos primeiros dois jogos das finais marcou, no total, 18 pontos, nos dois jogos seguintes marcou 49!

Se as suas qualidades defensivas já lhe eram reconhecidas e aplaudidas, o MVP das finais da NBA foi a faísca que despoletou a explosão de qualidade texana nos últimos jogos da série.

Se em outros anos houve campeões por demérito de uma equipa adversária, este ano não houve contestação nenhuma. Apesar de poder haver opiniões contrárias que defendam que os Spurs foram campeões por falta de qualidade ofensiva e defensiva dos ex-bicampeões, poderei refutar que a falta de qualidade dos Heat deveu-se, sem dúvida nenhuma, à gigante qualidade dos pupilos de Popovich.

Por fim, muito se pode vir a dizer sobre este ano, no entanto, só há uma coisa que deve ser dita. Muitos parabéns San Antonio Spurs pelo mais que merecido título e muitíssimo obrigado por nos lembrarem como este desporto deve ser praticado.

Aqui está um dos melhores vídeos de basquetebol já feito:

É mais do mesmo, se faz favor!

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Cabec¦ºalho ciclismoAbsolutamente espetacular! É a única coisa que se pode dizer acerca do Critérium du Dauphiné de 2014. Que corrida! Quem estava à espera de ver uma prova tranquila, com os ciclistas a não quererem esticar muito para se pouparem para o Tour, estava completamente enganado. Aliás, qualquer previsão que alguém tenha feito ficou certamente muito longe da realidade. Foi um Critérium completamente imprevisível, que vai ficar nas nossas memórias durante muito tempo e que deixou o mundo ansioso por ver um espetáculo deste nível apartir do dia 5 de junho.

Christopher Froome, vencedor da prova no ano passado, começou logo muito forte a vencer o contra-relógio inicial, até porque não há melhor maneira de defender a vitória numa prova do que com a camisola amarela vestida. Froome sabe bem isso e agarrou-a logo desde a primeira etapa. E assim continuou vestido durante as primeiras seis etapas da prova. Seis de oito! Alberto Contador até lhe fez uma marcação apertada, chegando sempre à meta lado a lado com Froome e passando a grande maioria da prova a apenas 12 segundos da liderança, mas a verdade é que durante esse período, mesmo estando visivelmente em grande forma, o espanhol nunca conseguiu deixar o líder para trás e portanto à entrada do fim de semana final já o mundo estava mentalmente preparado para ver mais uma vitória do britânico. Até que vieram as duas últimas etapas e aconteceu magia!

Na etapa número 7, Contador conseguiu finalmente destacar-se na montanha, deixar todos os favoritos para trás e roubar a camisola amarela a Froome. Demonstrou uma força incrível, com um ritmo de pedalada diabólico e mostrou ao mundo que estava lá para ganhar. E, apesar de Froome ter ficado apenas a 8 segundos, o mundo convenceu-se! Estava muito forte, Contador, e faltava apenas uma etapa para o final da prova. Afinal estávamos todos errados, o Froome não ia renovar a vitória no Critérium, este ano era para o “pistoleiro”.

Froome e Contador ofereceram-nos um duelo fantástico  Fonte: Telegraph
Froome e Contador ofereceram-nos um duelo fantástico
Fonte: Telegraph

O que aconteceu na última etapa é practicamente indescritível. Enquanto estava tudo a olhar para a luta Froome-Contador, havia um senhor americano, chamado Andrew Talansky, que estava sentado no último lugar do pódio a 39 segundos da liderança e que resolveu baralhar toda a corrida e atacar de muito, muito longe. Contador não fez grande caso disso e manteve-se junto a Froome, pois acreditava que dali poderia vir o maior perigo. Depois fugiu Nibali e Kelderman; Contador continuou com Froome. Todos os ciclistas perigosos fugiram menos Chris Froome e o espanhol escolheu ficar com ele. Continuava a acreditar que ele seria o mais perigoso. Foi esse o grande erro de Contador! Ele acreditou que trabalhando com o seu inimigo e sua poderosa equipa Sky iam conseguir anular todas as fugas até à subida final e que, dessa forma, ele ia conseguir controlar a camisola amarela no seu corpo. O grande problema é que Froome não era o mais forte, era o mais fraco! Contador esqueceu-se de que os ciclistas de elite conseguem esconder as suas fragilidades como ninguém e quando o espanhol se apercebeu disso já era tarde demais.

Ia já o grupo da frente com uma vantagem superior a dois minutos e meio sobre o camisola amarela quando Alberto Contador decidiu ir sozinho atrás da sua sorte. Tirou finalmente Froome da sua cabeça e iniciou uma prestação fabulosa. Fez mais de 20 quilómetros em esforço solitário, sempre com um ritmo altíssimo e, como um verdadeiro “pistoleiro”, a abater todos os ciclistas com que se cruzava na estrada. No entanto, infelizmente para ele, já não foi a tempo de salvar a sua camisola amarela e a vitória final sorriu mesmo a Andrew Talansky.

O mais provável é que nos próximos tempos ouçamos uma série interminável de desculpas para o que aconteceu. Os fãs de Chris Froome irão dizer que foi a queda na sexta etapa que fez com que Froome tivesse um baixo rendimento nas últimas duas etapas (afinal de contas Froome cai em dois dias de 1º para 12º!!!) e os fãs de Contador irão dizer que foi a fraca equipa que o acompanhou na prova que fez com que Contador não conseguisse vencer, pois se tivesse melhor companhia não teria de ter ficado tanto tempo com Froome. Isto até pode ser tudo verdade e foram factores que influenciaram certamente o desfecho da prova, mas o que é certamente verdade é que não se pode nunca retirar o mérito a quem venceu. Talansky acreditou, foi corajoso e foi recompensado por isso. Quando se vê um ciclista a atacar de longe, a fazer uma etapa de alto esforço e sacrifício, dando tudo o que tem e no final é recompensado com a camisola amarela, recordamo-nos imediatamente porque é que adoramos este desporto maravilhoso que é o ciclismo. Talansky quis a vitória e foi lá buscá-la! Foi uma vitória inesperada? Foi. Houve demérito de Froome e Contador? Houve, mas foi uma vitória imensamente merecida por parte do norte-americano e só temos de o aplaudir de pé.

O pódio do Critérium du Dauphiné 2014  Fonte: TV5
O pódio do Critérium du Dauphiné 2014
Fonte: TV5

Importante também fazer uma menção a Van Den Broeck e a Wilco Kelderman, que terminaram, respecticamente, no terceiro e quarto lugar da geral e que contribuiram muito para a espetacularidade desta prova. Van Den Broeck mostrou-se em boa forma para o Tour e Kelderman confirmou o seu estatuto de “jovem maravilha do pelotão internacional” (depois de ter tido uma prestação surpreendente no Giro fazendo top 10 ganhou agora a camisola branca e terminou a apenas 43 segundos da liderança).

Uma coisa é certa, no final ficámos todos a ganhar com o espetáculo a que assistimos e se o Critérium du Dauphiné serve como aperitivo do Tour de France, todos os fãs do ciclismo podem pedir sem medo “é mais do mesmo, se faz favor”!

Argentina 2-1 Bósnia: Sabella, isto não é o FM

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O RESCALDO

Existe uma tendência de certos treinadores para complicar aquilo que, à primeira vista, é fácil. Alejandro Sabella parece não ter entendido ainda o potencial e a mão-de-obra que tem à sua disposição no plantel da Argentina. À entrada para o encontro de hoje, o técnico argentino apostou num 5-3-2 com Zabaleta e Rojo nas laterais, Mascherano na posição 6 e Di María e Maxi Rodríguez como médios mais ofensivos no apoio à dupla Messi-Agüero. Um erro de casting clamoroso, que apenas Sabella não quis ver. Os resultados, claro, foram os esperados: Exibição paupérrima dos argentinos no primeiro tempo, tendo apenas conseguido marcar num lance infeliz do lateral bósnio Kolasinac.

Na segunda parte, quando se registava o 1-0 no marcador, Sabella perde a cabeça e remodela novamente a equipa. Mesmo a vencer, o argentino retira o apagado Maxi Rodríguez e o faltoso Campagnaro e coloca Gago e Higuaín em campo. Resultado: alteração do esquema tático e a Argentina a entrar num 4-4-2 losango, passando Gago e Di María para os vértices laterais do esquema e Messi numa suposta posição 10, com total liberdade para decidir e procurar resolver na zona de ataque.

Esta autêntica “balbúrdia tática” implementada por Sabella continua a ser uma incógnita para qualquer adepto de futebol. Poucos ainda perceberam o que passa pela cabeça do argentino. Mas, em termos comparativos, viu-se claramente que a equipa argentina jogou melhor em 4-4-2 do que em 5-3-2. Não só porque dá mais liberdade aos jogadores argentinos na frente de ataque, como providencia um Messi mais solto e com maior capacidade para fazer a diferença (como foi visível pela exibição na segunda-parte). Ter dois avançados soltos e em constantes movimentações na frente facilita o trabalho do astro argentino, que conseguiu ter sempre mais espaço para decidir e concretizar jogadas de perigo.

Logicamente que o caminho desta Argentina não é o 5-3-2 e Sabella deve ter percebido isso (mais vale tarde do que nunca). Com o 4-4-2 notaram-se melhorias, mas ainda há arestas por limar. Di María, Mascherano e Messi estão nos lugares certos, mas claramente que Gago não é jogador para ocupar o outro lugar do meio-campo. É cada vez mais evidente que falta alguém que faça a ligação entre a defesa e o ataque argentino. No meio-campo, não pode ser Messi a vir buscar a bola cá atrás. Nem Di María. E se Gago não pega no jogo e Mascherano não tem, de longe, essas características, é necessário que Sabella encontre um solução de recurso para este problema – Enzo Pérez é uma hipótese.

Messi resolveu o jogo frente aos Bósnios Fonte: Juan Mabromata / AFP
Messi resolveu o jogo frente aos Bósnios
Fonte: Juan Mabromata / AFP

Quanto à Bósnia, notou-se qualidade, mas muitas dificuldades para decidir no último terço do terreno. Os médios Misimovic, Lulic e Pjanic acrescentam muita criatividade ao ataque da equipa de Safet Susic, mas é necessário que as bolas cheguem a Edin Dzeko. Numa das poucas jogadas em que os bósnios conseguiram simplificar as suas decisões na frente de ataque, acabaram por chegar ao seu golo de honra – cortesia de Vedad Ibisevic. Se assim continuar, só podem ter razões para estar otimistas, num grupo que conta com as aparentes frágeis seleções do Irão e da Nigéria.

A Figura: 

Messi – Apesar de não ter sido uma exibição de “encher o olho”, o craque argentino voltou a resolver e a fazer a diferença. E esteve muito melhor na segunda parte (em 4-4-2) do que na primeira (5-3-2).

O Fora-de-Jogo:

Maxi Rodríguez – Exibição apagadíssima do experiente médio argentino, que não soube dar o dinamismo suficiente à equipa no meio-campo de 3 homens, à frente dos 5 defesas. Foi um dos grandes responsáveis pela má exibição da equipa argentina na primeira parte.

França 3-0 Honduras: Tranquilidade francesa destruiu o palácio hondurenho

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O RESCALDO

No grupo E, a grande favorita do grupo, França, defrontava as Honduras, seleção que muito dificilmente conseguirá qualificar-se.
O jogo não foi atípico e como era de esperar a França entrou forte e a pressionar as Honduras. Sem Ribery, Didier Deschamps apostou em Valbuena para completar o meio-campo composto por Matuidi, Pogba, Cabaye e Griezmann, jogador que estava mais perto de Benzema.
Este meio-campo demonstrou uma grande mobilidade, com trocas de posições, que acabaram por confundir uma seleção hondurenha que desde cedo demonstrou que iria ter dificuldade em parar a criatividade francesa.

O perigo chegou cedo e a França não demorou a enviar duas bolas ao poste. Contudo, para qualquer adepto, os ataques organizados por Wilson Palacios davam alento para uma surpresa no jogo disputado no estádio José Pinheiro Borda.
Apesar da facilidade em chegar à área adversária, a França demorou mesmo 45 minutos para chegar ao golo, por intermédio de Benzema, de penálti. Palacios, um dos jogadores mais incoformados das Honduras acabou por cometer uma enorme infantilidade, que viria a ser prejudicial para as Honduras.
Com uma ação em desespero para travar Pogba, Palacios não só fez penálti, como acabou expulso. Benzema marcava o golo e apenas confirmava o favoritismo gaulês.
Já as Honduras ficavam sem o melhor jogador, que acabara expulso, e teriam de correr atrás do prejuízo.

A França começava a segunda parte sem qualquer pressão, com um jogador a mais e o expectável aconteceu apenas 3 minutos volvidos, com um auto-golo de Valladares, depois do remate de Benzema, que tinha claro selo de golo, e só não acabou imediatamente nas redes por infelicidade do franco-argelino
O jogo estava sentenciado e as Honduras nada conseguiam fazer perante o poderio da França. Evra e Debuchy apoiavam consecutivamente o ataque e era o suficiente para criar desequilíbrios. Griezmann está a demonstrar uma forma enorme, e foi dos mais espevitados na frente. Faltou apenas o golo. Porém, esse surgiria, mas para o suspeito do costume, Benzema.
Um jogo tranquilo para a França que assume a clara candidatura ao primeiro lugar de um dos grupos mais desequilibrados do Mundial. Ainda para mais com a derrota equatoriana frente à seleção helvética. Ainda assim, Valladares merece uma palavra de apreço devido a uma boa exibição manchada pelo resultado avolumado, e por um auto-golo azarado.

A França arranca o Mundial com uma vitória tranquila Fonte: FIFA
A França arranca o Mundial com uma vitória tranquila
Fonte: FIFA

A Figura:

 Karim Benzema foi a figura do encontro pela sua preponderância no ataque. Marcou dois golos e esteve envolvido no segundo golo francês. Foi um excelente jogo para o francês aumentar os graus de confiança e assumir-se como um dos jogadores-chave da equipa gaulesa. Vamos ver como correm os restantes jogos a Benzema, que tem sido algo descredibilizado pela sua falta de importância no Real.

 

O Fora-de-Jogo:

Wilson Palacios não merecia a expulsão pelo jogo que vinha a fazer. Contudo, a sua irresponsabilidade não só deu a liderança à França como colocou as Honduras com um jogador a menos. Vinha a ser o jogador mais irreverente do meio-campo da seleção sul-americana, porém esta ação fragilizou e de que maneira uma seleção já por si sem grandes esperanças.
Nota ainda para o excesso de agressividade da seleção hondurenha na segunda parte, que transmite alguma falta de fair-play e excesso de inexperiência.

 

Suiça 2-1 Equador: A (re)volta do aproveitamento

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O RESCALDO

Jogo morno com um desfecho injusto no estádio Mané Garrincha. Com equipas muito próximas daquelas avançadas pelos redactores Bola na Rede (Suíça e Equador), foi o treinador dos sul-americanos aquele que mais surpreendeu, desde o esquema táctico utilizado até à inclusão de algumas peças que não seria expectável que fossem titulares. De notar, também, por parte da Suíça, que um dos seus melhores jogadores, Senderos, tenha ficado surpreendentemente no banco.

Com uma entrada “a todo gás” nos minutos iniciais, a selecção do Equador encostou completamente a congénere helvética ao seu meio campo defensivo, com um meio campo muito agressivo e explorando saídas rápidas, quase sempre através do “vagabundo” Montero.

Aos poucos, e com a quebra de ritmo de jogo, os suíços começaram a dar um ar da sua graça e, quase sempre com um futebol directo e pelo flanco direito (para a rapidez do lateral atacante Lichtsteiner), equilibraram o jogo.

Com naturalidade (apesar de numa fase onde a Suíça rematava mais) e de bola parada, após um cruzamento teleguiado, Enner Valencia, jogador do Pachuca, cabeceou de forma totalmente liberta no coração da pequena área helvética. Mais do que mérito do avançado equatoriano, grande demérito do posicionamento defensivo dos suíços. Decorria o minuto 22.

Depois do golo, a selecção sul-americana baixou linhas e, como consequência, os europeus tomaram conta do jogo, quase sempre com jogadas inconsequentes ou remates fora da área. Começou, então, a tornar-se a figura da primeira parte o guarda-redes equatoriano, Dominguez (que para muitos adeptos daquele país nem devia ser o titular…).

Chegava o intervalo e o “relógio suíço” estava ainda no horário europeu…

Com o reatar do segundo tempo, o treinador suíço trocou Stocker por Mehmedi, numa troca aparentemente posicional, mas colocando um jogador mais rápido para as transições (visto que o meio campo suíço era inexistente) e que explora muito mais as zonas centrais do terreno. Curiosidade do destino, logo aos dois minutos do segundo tempo, após canto do lado esquerdo atacante executado por Rodriguez, o acabado de entrar Mehmedi cabeceou com violência para o fundo das redes equatorianas. Mais uma vez, e relembrando o golo contrário, mais demérito da forma como as defesas se posicionaram (mais concretamente a passividade do central Erazo) do que propriamente pela forma como o jogador apareceu no coração da pequena área.

suiça
Mehmedi marcou o primeiro golo da Suiça
Fonte: zimbio.com

Aos 69 minutos, os helvéticos voltaram a fazer vibrar as redes contrárias, mas o ponta-de-lança Drmic encontrava-se em posição irregular. Nesse mesmo minuto, o seleccionador equatoriano trocou o possante (mas inconsequente) Caicedo pelo também detentor de um porte físico invejável Arroyo. Até então, jogo “taco-a-taco”, com jogadas de perigo iminente para ambos os lados, principalmente a surgir a partir de contra-ataques. Em resposta, o treinador suíço fez o mesmo que o seu homólogo: trocou de avançados que fazem do físico a sua força – Drmic por Seferovic. Continuou, então, a decorrer a “dança” de substituições, com David Raimundo a trocar o até então melhor jogador do Equador, Montero, e a fazer entrar Rojas. Claramente que os treinadores estavam a apostar nos ataques rápidos, mas muito calculistas. Nenhum quis arriscar ganhar, para não correr o risco de… perder.

Aos 83 minutos, grande contestação no Mané Garrincha! Seguia Valencia isolando-se para a baliza quando Djorou o travou, aparentemente numa posição onde o avançado sul-americano ficaria com a bola dominada e nem o outro central helvético parecia chegar à bola… Pedia-se vermelho; o árbitro ficou-se pela cartolina amarela “avermelhada”.

Volvidos dois minutos, Benaglio a brilhar com uma defesa muito difícil após um livre “à CR7” de Arroyo.

Minuto de ouro no estádio Mané Garrincha: depois de Valencia deixar escapar a oportunidade de luxo de fazer o segundo golo equatoriano, perdeu a bola e, num rápido contra ataque, esta acabou na baliza dos sul-americanos, com Seferovic, então entrado no segundo tempo, a ditar a (re)volta ao marcador.

Jefferson Montero esteve em destaque no Equador Fonte: copadomundo.uol.com.br
Jefferson Montero esteve em destaque no Equador
Fonte: copadomundo.uol.com.br

Figura:

Montero – Sem dúvida, o CR7 dos equatorianos foi o melhor jogador em campo, dando vida e criatividade ao ataque sul-americano e pondo os defesas contrários em sentido. Não merecia ter saído.

Mehmedi e Seferovic – Grande parte do “acerto” dos ponteiros do relógio suíço deveram-se a Mehmedi, que imprimiu uma velocidade que fez a diferença. Já o avançado Seferovic apontou, aos 92 minutos, o tento da vitória.

Fora de jogo:

Valencia – O jogador do Manchester United, principal figura de proa da selecção sul-americana, teve nos pés, aos 92 minutos, a oportunidade de dar a vitória à sua selecção, mas quis fintar e ofereceu a bola que originou o contra-ataque que deu o golo vitorioso.

Meio campo suíço – Tanto Inler com Behrami foram duas nulidades no conjunto helvético. Uma selecção que assenta o seu jogo numa pose de bola contínua tem de ter estes dois obreiros ao seu mais alto nível.

 

Costa do Marfim 2-1 Japão: Drogba, o Godzilla marfinense

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O RESCALDO

No seu jogo de estreia do Mundial 2014, a Costa do Marfim somou o seu terceiro triunfo em sete jogos disputados na maior competição de seleções do mundo, vencendo o Japão por 2-1 num colorido Itaipava Arena Pernambuco, mantendo um registo 100% vitorioso contra formações asiáticas em jogos disputados no certame, depois de já ter vencido a Coreia do Norte, no último mundial.

A história desta importante vitória dos africanos (dadas as ambições de uma qualificação inédita para os oitavos-de-final do Mundial) teve duas partes. Não foram divididas em 45 minutos, como costuma acontecer nos jogos de futebol normais, mas por Didier Drogba.

Antes da entrada do avançado de 36 anos do Galatasaray em campo (aos 64 minutos), a equipa costa-marfinense parecia insegura do seu valor, demorando imenso tempo na construção de lances ofensivos, recorrendo por poucas vezes a lances individuais e à inspiração de jogadores como Gervinho, Kalou ou Yaya Touré. O Japão teve mérito neste capítulo, pois soube montar uma equipa que “encaixasse” no 4x3x3 adversário, impondo uma pressão alta no terreno que impedia a basculação do jogo africano no seu meio-campo muito por culpa da insistência dos seus avançados (nomeadamente Osako e Okazaki) em “incomodar” a primeira fase de construção contrária. É certo que os asiáticos dependeram muito das iniciativas de Honda para criar perigo, e que até foi o jogador do Milan a inaugurar o marcador, mas a nível defensivo estiveram irrepreensíveis, neutralizando todas as tentativas marfinenses de criar perigo e praticando um futebol apoiado quando em posse que, apesar de inconsequente ofensivamente, se revelou eficaz para manter o nulo até à hora de jogo…

drogba
Os costa-marfinenses deram a volta ao jogo em 2 minutos
Fonte: FIFA

… altura em que entrou Drogba, qual Godzilla (monstro de criação japonesa),  a mudar radicalmente o jogo a favor da sua seleção. Sabri Lamouchi, treinador marfinense, não teve medo de tirar um centro-campista para colocar em campo o cotadíssimo ponta-de-lança e isso teve efeitos imediatos, com a acima mencionada organização defensiva a cair num desnorte de marcações, que se traduziu num lance perigoso na primeira vez que o ex-Chelsea tocou na bola, primeiro, e nos golos, seguidos (64 e 66 minutos), da reviravolta da seleção africana, nos quais Drogba nem sequer tocou na bola, mas cujo mérito lhe é devido pelo arrastar de marcações que as suas movimentações criaram, aumentando o espaço para jogadores como Bony e Gervinho corresponderem aos cruzamentos milimétricos de Serge Aurier (também em destaque, o lateral-direito, principalmente no aspeto ofensivo).

Depois dos golos, o jogo entrou numa calmaria imposta pela Costa do Marfim, que exibiu uma confiança até então desaparecida, controlando o jogo a todos os níveis: conseguiu neutralizar o último pressing ofensivo do adversário e dispôs de duas oportunidades para dilatar a vantagem, levadas a cabo pelo Godzilla marfinense.

A Figura:

Didier Drogba – Há poucos jogadores que conseguem mudar um jogo só com a sua presença. Didier Drogba é um desses raros exemplos. Não só conseguiu ganhar espaço para os seus colegas e ser, assim, decisivo para os golos da reviravolta, como ainda fez crescer a confiança dos seus colegas, potenciando-lhes o talento pelo simples facto de estar em campo.

Não foi o jogador com melhor performance em campo (Aurier ou Honda seriam justos detentores desse prémio), mas foi aquele que mudou a história do jogo.

O Fora-de-jogo:

Shingi Kagawa – Depois de uma época aquém das expectativas no Manchester United, havia a esperança nipónica de que Shingi Kagawa explodisse no Mundial. Tal não se verificou, ainda por cima num jogo em que a equipa precisou de um desequilibrador para além de Keisuke Honda.