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Inglaterra 5-0 San Marino: A festa do futebol!

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De manhã numa fábrica, numa loja dos correios, num escritório. São muitos os cenários possíveis (e, na verdade, reais). À noite, num relvado antes de se juntarem às famílias. Esta é a rotina dos representantes de San Marino, que hoje, como em poucos outros dias, viveram um dia diferente. Acordaram em Londres, completamente concentrados no futebol, e estiveram nas bocas do mundo.

Numa das maiores metrópoles do mundo, num dos mais emblemáticos palcos deste desporto-rei. Esta noite, os homens de San Marino tinham em si postos os olhos de 30.000 habitantes. Os mesmos que, caso se deslocassem, apenas preencheriam um terço do estádio onde hoje a equipa nacional media forças com a Inglaterra na qualificação para o Europeu de 2016.

Geograficamente rodeada pela Itália, a equipa de San Marino viu-se hoje envolta num autêntico mar inglês. Viveram a festa do futebol; sem surpresas, com golos e fair-play. Momento de forma, confronto direto, estatísticas, o que quer que fosse: era impossível encontrar um ponto de partida favorável à equipa visitante, que tinha bem presente na sua memória o sabor do veneno inglês.

Na qualificação para o Mundial 2014, a Inglaterra venceu por 5-0 perante os seus adeptos e 8-0 fora de portas. Hoje não foi muito diferente. Enquanto a Eslováquia ‘arrancava’ à Espanha a primeira derrota em qualificações desde 2006, os ingleses cumpriam com o esperado. Dominavam, combinavam entre si de forma exímia quando o jogo assim o exigia e… Davam a celebrar. Festejavam, marcavam, venciam.

O incontornável Wayne Rooney não poderia, claro, ficar de fora da lista de marcadores  Fonte: Sky Sports
O incontornável Wayne Rooney não poderia, claro, ficar de fora da lista de marcadores
Fonte: Sky Sports

Lutadores, os jogadores de San Marino seguraram as redes durante preciosos 25 minutos, até Jagielka fazer o primeiro. Defenderam as suas cores enquanto puderam e com todas as suas armas. Entre eles, destacava-se o guardião, Aldo Simonini – não fosse ele, protagonista de um par de defesas dignas do palco desta noite, e o resultado teria sido bem mais dilatado.

Mágicos de um lado, sonhadores do outro. Foram os da casa a dominar. De um lado ao outro do campo, Welbeck (autor de um golo), Rooney e Sterling brilharam na companhia de Lallana (que ainda marcou um golo regular, incorrectamente considerado fora-de-jogo), Townsend (que marcou um golo que contou) e companhia. Todos brilharam. Todos menos Joe Hart, que apesar de tudo foi eleito pelos seguidores Vauxhall, um dos patrocinadores da selecção inglesa, o melhor em campo, numa verdadeira demonstração de bom humor.

 

A Figura

Wayne Rooney – é um mágico em campo. Luta com os pés, com a cabeça, com o tronco. De uma área à outra (hoje não foi necessário) e de um extremo ao outro. De pé esquerdo, de pé direito. Sacrifica-se pela equipa; passa, cruza, remata. É ele o melhor inglês, é ele a estrela. Ele e sempre ele.

O Fora-de-Jogo

Nenhum – Ingrato e descabido seria apontar uma ‘ovelha negra’ neste encontro. A Inglaterra jogou como era esperado, dominou como tinha a dominar e venceu confortavelmente. Teve um bom conjunto. Quanto a San Marino, lutou pela festa do futebol, fez parte dela e teve um comportamento exemplar. Esta noite, foram todos vencedores, mesmo não sendo os pontos divididos.

Holanda 0-2 Portugal (sub-21): Superiores em todos os aspetos

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Portugal está a um passo de garantir a presença no Campeonato da Europa de futebol sub-21. Esta quinta-feira, em Alkmaar (Holanda), a seleção portuguesa bateu os holandeses por 2-0 e colocou-se na frente no play-off de acesso à fase final, na República Checa.

No primeiro jogo do tudo ou nada para a equipa lusa, Rui Jorge apostou em José Sá para a baliza e deixou o eixo defensivo para o quarteto composto por Ricardo Esgaio, Paulo Oliveira, Rúben Vezo e Raphael Guerreiro. No miolo, o selecionador português lançou Bernardo Silva, Rúben Neves, Rafa e Sérgio Oliveira para trazer mais força ao meio-campo e conseguir servir Ricardo Pereira e Ivan Cavaleiro, os escolhidos para a frente de ataque.

A jogar em casa, a “laranja mecânica” entrou melhor no jogo e aos quatro minutos assustou, ao rematar a bola à trave da baliza defendida por José Sá. Apesar da entrada forte da equipa holandesa, Portugal respondeu de imediato e tomou conta do jogo a meio-campo. Com Bernardo Silva em destaque, o meio-campo português foi superior aos três jogadores escolhidos por Adrie Koster e impôs o ritmo do jogo.

A solidez do meio-campo português foi decisiva no desfecho final  Fonte: fcupdate.nl
A solidez do meio-campo português foi decisiva no desfecho final
Fonte: fcupdate.nl

Com o centro do terreno sob controlo, os jogadores portugueses, através de um estilo de jogo de passes rápidos e combinações entre médios, extremos e laterais, conseguiu por várias vezes chegar perto da área holandesa, mas sem grande perigo para o guardião holandês, Warner Hahn. A superioridade portuguesa ficaria, no entanto, comprovada na última jogada ofensiva do primeiro tempo. Aos 45+2 minutos, depois de uma boa jogada de envolvimento por parte dos jogadores portugueses, Bernardo Silva foi derrubado dentro da área e  árbitro não hesitou em apontar para a marca do penalty. Chamado a marcar, o capitão de equipa, Sérgio Oliveira, não tremeu e fez o golo de Portugal.

Na segunda parte, Portugal entrou mais forte e com mais solidez defensiva. Se na primeira parte a vertente defensiva foi descurada pela equipa lusa, o segundo tempo fica marcado pela grande capacidade defensiva apresentada por Portugal. Rui Jorge manteve o meio-campo e, perante a falta de inovação e dinamismo do meio campo holandês, voltou a tomar conta do encontro. Portugal aumentou o ritmo e a Holanda teve dificuldades em acompanhar a seleção nacional. Bernardo Silva e Rafa apresentaram-se nos segundos 45 minutos como dois quebra-cabeças para a formação “laranja”, enquanto Ivan Cavaleiro era uma seta apontada à baliza.

Com Portugal a controlar o jogo e a adivinhar-se o segundo golo, Rui Jorge tirou Ivan Cavaleiro para lançar Carlos Mané, extremo do Sporting. Encostado à linha, o jogador leonino mexeu com o jogo e até tentou o golo com um remate aos 76 minutos, depois de uma primeira tentativa de Sérgio Oliveira ter sido interceptada.

Ivan Cavaleiro foi sempre uma seta apontada à baliza holandesa  Fonte: telegraaf.nl
Ivan Cavaleiro foi sempre uma seta apontada à baliza holandesa
Fonte: telegraaf.nl

Já com Ricardo Horta e Iuri Medeiros em campo (entraram para os lugares de Ricardo Pereira e Rafa, respetivamente), Portugal chegou ao golo da tranquilidade por intermédio de Carlos Mané. Depois de uma grande jogada individual em que deixou pelo caminho dois defesas holandeses, o camisola 23 das “quinas” ficou frente-a-frente com o guardião. Perante Warner Hahn, o extremo não vacilou e colocou Portugal a vencer por 2-0. Até ao final, a equipa portuguesa ainda teve a oportunidade de aumentar a vantagem, mas Iuri Medeiros rematou por cima quando só faltava bater o guarda-redes.

Com a vitória em território holandês, Portugal está mais perto de garantir o seu lugar na fase final de um Campeonato da Europa. Depois de ter chegado ao play-off só com vitórias, a equipa orientada por Rui Jorge pode voltar a marcar presença numa fase final de um Euro sub-21 oito anos depois da última participação.

A segunda mão da eliminatória está marcada para a próxima terça-feira em Paços de Ferreira. O pontapé de saída tem início marcado para as 17h00.

 

A Figura

Bernardo Silva – o jovem médio português foi o timoneiro de serviço para Rui Jorge. A equipa portuguesa girou à volta do ritmo imposto pelo jogador do Mónaco e o médio soube comandar os colegas de equipa.

O Fora de jogo

Meio-campo holandês – incapazes de fazer frente aos jogadores escolhidos por Rui Jorge, os jogadores holandeses andaram perdidos pelo relvado e foram presas fáceis para a organização do miolo português.

La Fidanzata d’Italia

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Por muitos é conhecida como Juventus, mas em Itália são muitos os que a conhecem como “La Fidanzata d’Italia”, que em italiano significa “a namorada de Itália”. A expressão nasceu por ser o clube italiano com mais adeptos. Partindo desse pressuposto, parece realmente irracional que o clube transalpino tenha um estádio que apenas suporta 41 000 expectadores enquanto o San Siro, por exemplo, tem uma lotação de cerca de 80 000 expectadores. Mas é tudo menos irracional. Arrisco-me a dizer que foi um dos atos mais brilhantes de gestão da história do calcio em Itália.

La Fidanzata d'Italia - o clube com mais adeptos em Itália  Fonte: 45football.com
La Fidanzata d’Italia – o clube com mais adeptos em Itália
Fonte: 45football.com

Com fortes ligações à família Agnelli, proprietária da Fiat, a Juventus conquistou desde cedo o coração dos Italianos. Porém, o clube tinha dificuldades em encher os 67 000 lugares do Stadio Delle Alpi, que mesmo mais recente na era de ouro da Juventus rondava pouco mais de metade da ocupação em média. Isto é fruto de uma conjuntura complexa que se resume à reduzida densidade populacional da cidade de Turim quando comparada com Milão, por exemplo, à existência de outro clube na mesma cidade (Torino) e ainda à catástrofe que foi a mudança para o Stadio Delle Alpi, que foi amplamente criticada pelos fãs da vechia signora devido à má acessibilidade e à grande distância entre bancadas e relvado.

A baixa taxa de ocupação fazia a Juventus menos forte em casa do que fora. A Juventus contornou com brilhantismo a contrariedade, percebeu que às vezes menos é mais e no seu novo estádio reduziu a lotação em 26 000 lugares. Assim se explica por que um clube com cerca de 12 milhões de adeptos em Itália tenha um estádio com 41 000 lugares. O Juventus Stadium é um regalo para os olhos de qualquer adepto de futebol ou fã de arquitectura moderna e um inferno para as equipas visitantes, devido à reduzida distância entre relvado e bancadas e às suas elevadas taxas de ocupação.

O antigo Delle Alpi não conseguia encher nem em dias de  hampions  Fonte: curvafiladelfia.files.wordpress.com
O antigo Delle Alpi não conseguia encher nem em dias de Champions
Fonte: curvafiladelfia.files.wordpress.com

O clube contornou a diminuição da possibilidade de receitas de bilheteira com a criação de zonas VIP, de um museu, de um hotel e de um centro comercial. O estádio foi inaugurado num jogo contra o histórico Notts County, clube que tem uma ligação longínqua com a Juventus, sendo o responsável pelo facto de a equipa piemontesa equipar de preto e branco. O primeiro golo no estádio foi marcado pelo lendário avançado italiano Luca Toni. Deste então o Juventus Stadium viu a vechia signora recuperar o domínio perdido e conquistar o tricampeonato italiano.

Os adeptos de La Fidanzata d’Italia choraram quando o caos do Calciopoli se abateu sobre o clube e desmantelou uma das mais fascinantes equipas que tive o prazer de jogar, mas agora têm novamente motivos para sorrir e um desses motivos é a sua fantástica nova casa!

Os europeus do Norte de África

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Uma das tendências que se tem vindo a acentuar nos últimos anos é o facto de os jogadores oriundos do Norte de África optarem por representar as selecções europeias. A escolha é legítima, já que muitos deles nascem no Velho Continente e completam a sua formação futebolística em países como França, Holanda ou Bélgica, mas deixa os países do Magrebe – que têm, como é natural, muito menor capacidade de persuadir estes jogadores – com equipas bastante debilitadas em comparação com aquilo que poderia ser a sua realidade se não houvesse tantos “fugitivos”.

O exemplo mais mediático de magrebinos que preferiram jogar por selecções europeias é Munir El Haddadi, jogador de que falei no início da temporada e que recentemente se tornou internacional AA pela Espanha. Del Bosque, percebendo o potencial do avançado descendente de marroquinos, fez aquilo que promete tornar-se uma prática bastante comum: deu minutos ao jovem do Barça para assegurar que este não terá hipóteses de representar outra selecção. E assim os espanhóis garantem um jogador que pode vir a estar entre os melhores do mundo.

O Norte de África é uma região onde o futebol é vivido de uma forma muito intensa e onde os jogadores parecem nascer com um talento inato. Madjer ou Zidane são nomes que deixaram a sua marca no desporto rei, mas actualmente há inúmeros jogadores magrebinos que vão brilhando por essa Europa fora. Um desses casos é Wissam Ben Yedder, uma das principais figuras da Ligue 1 até ao momento. O craque do Toulouse, que há poucos dias rejeitou a selecção da Tunísia por tencionar representar a França, já leva 6 golos marcados e tem dado continuidade à veia goleadora que mostrou na última temporada (16 golos no campeonato). O avançado de 24 anos tem grande mobilidade, é bastante oportuno e destaca-se pela qualidade técnica, poder de desmarcação e agressividade em zonas de finalização. Está a pedir outros voos.

Ben Yedder já representou as selecções francesas de sub-21 e de... futsal!
Ben Yedder já representou as selecções francesas de sub-21 e de… futsal!
Fonte: L’Equipe

Na Holanda, há dois jogadores oriundos do Norte de África que têm dado nas vistas. Curiosamente, ambos vão defrontar Portugal no play-off de apuramento para o Euro Sub-21: Hakim Ziyech e Anwar El Ghazi, ambos descendentes de marroquinos (no futuro ainda poderão optar pela selecção africana). Depois de ter brilhado ao serviço do Heerenveen, clube habituado a revelar grandes talentos, o médio ofensivo esquerdino deu o salto para o Twente e tem sido um dos melhores jogadores do campeonato. Com apenas 21 anos, Ziyech tem muito perfume no seu futebol; é um criativo, capaz de fazer a diferença a qualquer instante. Tem uma qualidade técnica extraordinária, uma excelente visão de jogo, uma capacidade finalizadora bastante interessante e é forte na marcação de bolas paradas. Um jogador muito completo e ainda com grande margem de progressão.

O mesmo se pode dizer de El Ghazi, talvez a maior revelação do Ajax nesta temporada. Ainda com poucos jogos na equipa principal (já foi titular algumas vezes mas nos últimos encontros tem sido apenas suplente utilizado), o extremo tem impressionado pela sua potência. Para um jogador de 1,88m é muito ágil e sobretudo muito dotado tecnicamente, tendo capacidade de desequilibrar no 1×1. A facilidade de remate é outra das suas principais qualidades e uma séria ameaça para Portugal, embora seja provável que El Ghazi fique no banco, bem como Ziyech (o que mostra a quantidade absurda de talento às ordens do técnico holandês).

Nos países escandinavos também se nota a forte influência dos futebolistas norte-africanos. Tarik Elyonoussi, marroquino que representa a selecção da Noruega, está em grande forma no sensacional Hoffenheim (joga descaído sobre o lado esquerdo do ataque) e já leva 4 golos no campeonato. Nabil Bahoui, originário do mesmo país, é internacional AA pela Suécia e um dos jogadores mais interessantes a actuar no campeonato local. O avançado do AIK é muito versátil (pode actuar como extremo ou como referência ofensiva) e, apesar de ter 1,88m, é rápido e bastante forte no 1×1. Tem muita espontaneidade no remate e é especialista em lances de bola parada. Aos 23 anos, já merece dar o salto e tem condições para se afirmar numa liga mais competitiva.

Nabil Bahoui já fez companhia a Zlatan no ataque sueco  Fonte: fotbolltransfers.com
Nabil Bahoui já fez companhia a Zlatan no ataque sueco
Fonte: fotbolltransfers.com

A prospecção ao nível das selecções é cada vez maior, o que significa que esta tendência deve continuar nos próximos tempos. É certo que há e haverá excepções (uma delas é Brahimi, que foi internacional jovem pela França), mas parece claro que grande parte dos jogadores preferirá representar os países onde evoluíram futebolisticamente e não os países de onde são originários, sendo certo que a concorrência é muito mais apertada e que isso pode levar a que caiam no esquecimento.

Munir e Bakkali (escolheu a Bélgica em detrimento de Marrocos) são os nomes mais sonantes da nova geração de futebolistas magrebinos. Como Benzema, Nasri, Khedira, Ben Arfa, Chadli, Affelay, Maher, Fellaini e muitos outros, também não vão jogar por selecções do Norte de África, que está a tornar-se num “mercado” muito apetecível para os países europeus se “reforçarem”.

Jogadores que Admiro #23 – Fernando Chalana

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Sábado, 23 de Junho de 1984, estádio do Velódrome, em Marselha. Ali se jogou o França vs Portugal referente às meias-finais do Europeu de Futebol de 1984, que infelizmente terminou com um triunfo gaulês. Mas na retina ficou mais uma exibição deslumbrante de um tal Fernando Chalana, homem que com uma farta cabeleira e com um bigode inconfundível passeou classe pelos relvados naquela fase final. Tanta finta, tanto nó cego, tanto sprint, tanta jogada de encantar. O “Pequeno Genial”, o “Chalanix”, entre outras tantas alcunhas, fez do Euro 84 o torneio da sua vida, o seu momento mais mágico, o auge da sua carreira.

Mas falar sobre este astro é falar de muito mais do que de uma fase final de uma grande competição. Foi no Benfica que se exibiu a um nível estratosférico durante várias épocas, sendo sempre um dos meninos queridos do terceiro anel. Mas como não seria? Em idade júnior, mais precisamente na temporada de 1975/1976, já jogava numa equipa soberba do Benfica, que contava com atletas como Manuel Bento, Toni, Shéu, Vítor Martins, Vítor Baptista, Jordão ou Nené. Tanta, mas tanta assistência que este homem deu para golo; tanta finta diabólica, tanto carisma.

Tal como muitos outros jogadores da altura, foi na Margem Sul, mais concretamente no Barreiro, que Chalana cresceu para o futebol. Logo nas camadas jovens este prodígio se foi evidenciando, ultrapassando os seus adversários de todas as formas possíveis. Daí até chegar ao Benfica foi um ápice, tendo-se estreado pelo clube encarnado no dia 6 de Março de 1976. Ainda nem tinha 18 anos e já alinhava pela selecção nacional, o que diz bem a valia deste futebolista. Era quase como que um jogador de rua, espécie cada vez mais em extinção no futebol dos nossos dias; era capaz de ludibriar um adversário dentro de uma cabina telefónica, partia sempre sem medo para qualquer que fosse a jogada.

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Fez do Euro 84 o torneio da sua vida
Fonte: vhoje.blogspot.com

Tenho 25 anos, logo nunca o vi jogar. Mas sempre ouvi o meu pai falar sobre este portento futebolístico. Claro que fui ganhando curiosidade, e como tal comecei a devorar vídeos respeitantes a jogos em que Fernando Chalana esteve presente. E pronto, a delícia foi imediata! Tanto jogador que deve ter ficado com problemas renais naqueles finais de anos 70, princípios dos anos 80. O Benfica começava praticamente a vencer nas partidas nacionais, tendo Chalana a jogar de início. Lá está, tempos em que o amor à camisola ainda era uma realidade, em que a mística ainda assumia uma importância enorme.

E a verdade é que Fernando Chalana protagonizou uma das primeiras grandes transferências do futebol português. Depois do tal Euro 84 em que deixou mais de meia França de queixo caído, o super Bordéus da altura apressou-se a comprá-lo, tendo-o adquirido por uns exorbitantes, na altura, 220 mil contos! Para atentar bem em como esse valor naquele tempo era astronómico, basta dizer que com esta venda Fernando Martins, então presidente do Benfica, fechou as obras no terceiro anel do estádio.

Infelizmente as coisas não correram pelo melhor a Chalana no clube girondino. Muita lesão, problemas com o departamento médico da equipa francesa: em suma, uma passagem sem honra nem glória por aquele país. Ele não merecia isso, o futebol não merecia isso, que decepção. Logo ele voltou para o clube do seu coração, o Sport Lisboa e Benfica, para gáudio de uma massa adepta completamente devota a este milagreiro dos relvados. Mas ele já não era o mesmo, o seu corpo já não era o mesmo, a sua disponibilidade física já não era a mesma, até o Benfica já não era o mesmo. Fez parte das equipas benfiquistas que atingiram as duas finais europeias da Taça dos Campeões, em 1988 e 1990, mas quase já nem jogava. Mas estava lá, era um nome que arrepiava só de dizer.

Em suma, Fernando Chalana é, indiscutivelmente, um dos melhores jogadores portugueses de sempre, e foi um dos melhores do mundo no seu tempo. Aqui estamos a falar do jogador, não do treinador que não tinha o dom da palavra, não do homem que lançou Miguel como lateral-direito, não do homem que quase esteve na miséria depois do final da carreira (e como contribuiu para isso a sua esposa de anos e anos, a polémica Anabela).

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Pé direito, pé esquerdo, era aquilo que quisessem
Fonte: serbenfiquista.com

Só posso agradecer a Fernando Chalana. À sua conta o meu lindo clube ganhou muita coisa, à sua conta eram aos milhares os adeptos que iam à catedral da Luz, à sua conta Portugal apaixonou todo um velho continente na fase final de um Europeu – quando na altura o nosso país quase que nem entrava para o totobola em matéria de selecção nacional. Ele é simples, não é? Sim, é. O seu aspecto físico roçava o hilariante, não roçava? Sim, roçava. Mas, meu Deus, este homem talvez não tenha sido um ser humano enquanto jogador, mas antes um ET.

Um avé para si, “Pequeno Genial”. E aqui me despeço com as palavras do sapiente Mário Wilson, o treinador que o lançou na equipa principal do Benfica: “ele é futebol da cabeça aos pés. Sim, ele é todo futebol. É senhor de intuição extraordinária para jogar à bola. Numa equipa com Chalana é simples resolver qualquer problema, porque ele é um rapaz cheio de futebol. Um rapaz capaz de solucionar qualquer problema. Além disso, não se envaidece. Por isso, Chalana é um craque”.

Ah, e perguntem ao Paulo Futre o que é que ele fazia no convés do barco quando regressava a seguir aos treinos para o Montijo…

Suzuka: Quando a classificação é o que menos importa

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Há dias em que se esquece tudo o que nos outros interessa. Por um ou outro motivo, ignora-se. Esta semana, a Fórmula 1 pôs os resultados de lado e centra as suas atenções em Jules Bianchi – o herói da Marussia que lutou pelos primeiros pontos da equipa e agora pela vida.

Eram 16h57’ no Japão. Adrian Sutil sofrera minutos antes um acidente que o colocou fora da pista e da corrida. Saíu ileso. Entretanto, a grua entrara pelo acesso mais próximo para iniciar os trabalhos de remoção do carro da Sauber enquanto as bandeiras verdes voltavam a ser mostradas. Seguiam-se as regras, dado que nenhum dos veículos estava numa zona que atrapalhasse o desenvolvimento da prova.

A corrida começou com o safety car em pista devido à forte chuva que se fazia sentir. As previsões não eram as melhores, o piso não ajudava e a visibilidade era cada vez melhor. Ainda assim, e depois de um compasso de espera, seguiu-se com a ‘etapa’ do mundial. Lá na frente, Hamilton trocava as voltas a Rosberg para ‘roubar’ o primeiro lugar ao seu colega de equipa. E viria mesmo a vencer mas… A dada altura tudo isso deixou de interessar.

Da frente da corrida (que uma vez mais pode ter tido um impacto significativo na classificação geral) passou-se para uma outra luta, bem mais significativa: hoje, Jules Bianchi luta pela vida. Voltemos então ao minuto 58 da 17ª hora do dia 5 de outubro, no Japão. Estávamos na 44ª volta e a corrida não mais seria a mesma: o carro de Sutil estava já a ser removido da pista quando, inesperadamente, Jules Bianchi perde o controlo do seu Marussia e, sem conseguir uma travagem significativa, embate no Sauber.

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Marussia festeja ‘P9’ no Mónaco — o melhor fim-de-semana da sua história
Fonte: beyondtheflag.com

O acidente passou despercebido pelas transmissões televisivas durante algum tempo até que a ambulância entrou em pista para dar início aos cuidados intensivos. Não havia imagem televisiva que conseguisse demonstrar o “acidente arrepiante” (mais tarde descrito por Sutil, que testemunhou tudo e confessou “nunca vir a conseguir esquecer o momento”). Por esta altura, já a corrida pouco importava a quem inicialmente a seguia. Os tweets dirigidos a Jules Bianchi, à sua família e equipa aumentavam; esperavam-se updates sobre o seu estado.

A especulação era muita e a ansiedade claramente visível na box da Marussia. Ouvia-se um motor. Um outro motor. O de um helicóptero, que depressa chegou ao local para levar o francês de vinte e cinco anos ao hospital mais próximo. Chuva. Outra vez a chuva. Se no início havia adiado o início da corrida, colocava agora dificuldades na equipa que dirigia o veículo voador e, assim, foi tomada a decisão de abdicar do mesmo. E lá foi a ambulância.

Enquanto Hamilton, Rosberg e Vettel (pela sexta vez consecutiva no pódio de Suzuka) subiam sem festejar aos três lugares mais altos do circuito japonês, a Marussia, a Fórmula 1, a França, o mundo torciam pela maior vitória da vida de Jules. Hoje, ainda luta por ela.

“Estável mas em estado crítico.” É assim que é considerado nos comunicados oficiais, é assim que é visto pelos vários médicos que o rodeiam e operaram a sua cabeça (de forma a impedir a propagação de sangue) poucos minutos após a chegada ao hospital. Entre eles está Gérard Saillant, especialista em desporto de alto nível e responsável por uma das intervenções de Michael Schumacher. Todos os dias, a cada minuto, o mundo do desporto vai esperando uma total recuperação do primeiro homem a pontuar pela Marussia (após 82 tentativas da equipa) na história do Mundial de F1. Aconteceu no Mónaco, ao terminar no nono lugar.

Bandeiras vermelhas, corrida interrompida e dada como terminada. Ficaram por cumprir nove voltas, que assumem agora um significado completamente diferente na vida de Bianchi. A Fórmula 1 está com ele.

Existe vida depois dos trinta?

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bundesliga

“200 toques na bola? Precisava de uma época inteira para os fazer”. Thomas Müller era, no fim do jogo contra o FC Köln, mais um que espelhava a surpresa pela quantidade de vezes que Xabi Alonso tocou na bola. O espanhol bateu o recorde, que estava fixado em 177, e suplantou o seu colega de equipa e de selecção Thiago Alcântara.

A entrada de Alonso na equipa da Baviera tem sido surpreendente – assumiu desde logo a titularidade e consequentemente a batuta. Para os mais cépticos, a contratação do espanhol não era coerente devido à idade avançada do jogador mas Xabi tem provado que a classe não é temporária e o futebol de posse que Pep tanto privilegia lhe assenta na perfeição.

Os números ajudam-nos a esclarecer a importância do basco na manobra da equipa e confirmam a sua preponderância. Guardiola não hesitou em contratá-lo devido às lesões de Javi Martínez, Bastian Schweinsteiger e Thiago. E em boa hora o fez. Em trinta e cinco dias conseguiu calar as bocas que diziam que já não teria nada para acrescentar e foi nomeado cinco (!) vezes Homem do Jogo.

Na imagem, que se pode observar em baixo, vê-se a omnipresença do basco em campo. O jogador não se cinge a nenhuma zona do relvado e é ele o farol da equipa.

O mapa de todos os toques na bola dados por Xabi Alonso  Fonte: espnfc.com
O mapa de todos os toques na bola dados por Xabi Alonso no jogo frente ao FC Köln
Fonte: espnfc.com

É relevante é justificar esta subida de rendimento: a partir dos trinta anos, por norma, só os guarda-redes é costumam atingir o ponto máximo de maturação, enquanto os jogadores de campo entram na fase descendente da carreira.

No caso de Xabi Alonso, como no de Pirlo, por exemplo, a bonança não vem depois da tempestade mas depois dos trinta. E quando falo de bonança não falo de títulos, já que ambos tinham os troféus mais desejados do futebol no palmarés antes dos trinta. Falo, sim, do reconhecimento como jogadores que fazem parte de uma elite restrita e que em nada ficam a dever àqueles que fazem os estádios levantar com dezenas de golos por época. A inteligência é fundamental neste processo e, com menos força nas pernas e sem a energia da juventude, é o cérebro que assume o controlo total. O espanhol é um perfeito exemplo disto, sendo um jogador que lê de forma perfeita o jogo e que neste Bayern não se cinge só à primeira fase de construção – é também incluído no carrossel que se gera na frente do ataque.

Esta situação vem mostrar que existe uma vida depois dos trinta e que um jogador com a categoria do basco pode assumir o protagonismo de uma grande equipa, mesmo que ladeado por imensos jogadores de topo como Lewandowski, Götze, Ribéry ou Robben.

Futebol a fundo

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tinta azul em fundo brando pedro nuno silva

Ao longo da sua história, o futebol esteve sujeito a muitas e variadas transformações – começou como um mero jogo de onze homens que se juntavam para tentar meter uma bola numas gaiolas e hoje é uma industria que movimenta muitos milhões de euros e mexe com os corações de outros tantos adeptos. É, claro, de prever que tanto dinheiro e tanta paixão junta resultem numa mistura de desporto, política e negócios, por vezes necessária e transparente, outras vezes promiscua.

Olhando para o trajecto dos clubes portugueses na Europa ao longo dos tempos, percebemos que se encontram bolsas de oxigénio no meio de muita dificuldade em respirar, e que o nosso futebol, apesar de superar os feitos do país em quase todas as áreas, por vezes acompanha o desenvolvimento e competitividade do país.

É impossível, para um clube português, almejar competir constantemente com os melhores da Europa na busca da máxima glória europeia. Não há dinheiro suficiente para comprar jogadores com provas dadas nos melhores campeonatos; temos, portanto, de ir descobrir jogadores a campeonatos menos competitivos, potenciá-los e transformá-los em verdadeiras estrelas. E, com maior ou menor eficácia, é o que o FC Porto (e outros clubes portugueses) têm feito desde há muito tempo; mas esta estratégia pode estar ameaçada. Há 10 anos o Porto podia-se dar ao luxo de comprar  jogadores bons a preço de saldo no Brasil ou na Argentina, mas o crescimento económico do futebol sul-americano fez com que os jogadores outrora baratos se transformassem em jogadores não tão baratos assim – lembro o caso do Danilo, por exemplo.

Foi então que o FC Porto, a par de outros clubes, começou a recorrer a fundos para conseguir comprar os jogadores. Fica com os direitos desportivos e cede uma percentagem ao fundo que detém os direitos económicos – mais uma vez a tal mistura entre desporto e negócios vem ao de cima. A solução não é a ideal, até porque a sobrevivência dos Dragões como clube de topo tem assentado na estratégia de comprar barato e vender caro, mas é a necessária se queremos continuar a ter uma palavra a dizer na Europa.

80% do passe de Brahimi pertence à Doyen  Fonte: fcporto.pt
80% do passe de Brahimi pertence à Doyen
Fonte: fcporto.pt

Há uns meses atrás surgiram umas vozes, roucas e enfadonhas, a revoltarem-se contra esta estratégia que foi legalmente usada. Talvez porque quem desdenha quer comprar, ou por mera inveja, as vozes dispararam para todo o lado (vozes que disparam até contra a própria equipa, o chamado friendly fire) sobre mais uma grande injustiça no futebol – os fundos. A verdade é que os fundos foram legalmente usados e com conhecimento da FIFA e, portanto, mais uma vez, e como tem sido habitual, as vozes caíram em saco roto. Simplesmente clubes competitivos têm adeptos exigentes e precisam de usar as estratégias disponíveis para obter vitórias; outros, não tão exigentes, não precisam delas porque o peso da derrota não é tão grande.

Recentemente, Blatter confirmou que a FIFA pretende proibir os fundos de investimento no futebol, o que vai obrigar a repensar a estratégia de compra e venda de jogadores. Que não se pense que alguém obteve uma vitória com isto – pode parecer que o futebol está de volta à sua essência mas a análise a frio revela que o fosso entre os clubes europeus vai aumentar e que a competitividade na Europa pode estar seriamente ameaçada, principalmente para clubes como o FC Porto, que são exigentes com os resultados. O departamento de scouting vai ter de trabalhar ainda mais, terão de se correr mais riscos financeiros e, porventura, a exigência na Europa terá de diminuir. Veremos como clubes como o Porto se irão adaptar a estas novas regras e de que forma manterão a competitividade com os seus pares europeus.

O regresso da Selecção: mesmo com Santos não haverá milagres

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A escolha

Não haveria muitos treinadores com perfil para caberem no restrito lote de seleccionadores nacionais. Neste não faria muito sentido incluir um técnico estrangeiro: nem os que estariam disponíveis constituíam uma opção aliciante, nem o apertado calendário recomendava uma opção por alguém que tivesse que vir e aprender quase tudo sobre o futebol português e os jogadores que teria que liderar. A escolha acabou por recair sobre Fernando Santos, treinador com curriculum de seleccionador, mas com um castigo por cumprir que, confirmado pouco depois da sua nomeação, fará com que não se sente no banco para jogos oficias praticamente toda a fase de qualificação que ainda resta. Não parece uma decisão prudente, sobretudo tendo em conta que, com o tempo escasso que um seleccionador tem para o treino, a sua função ficará praticamente limitada à escolha dos jogadores. Uma decisão de teor altamente discutível.

O critério pareceu ser o da figura consensual. Como já anteriormente havia sido quando se procuraram os serviços de Paulo Bento, escolha então tão elogiada como foi agora Fernando Santos. A FPF mais uma vez parece mais preocupada com os frágeis equilíbrios do que com o essencial, acabando por cair neste absurdo de ter contratado apenas “meio” seleccionador. Não fora esse importante pormenor e a escolha não mereceria qualquer contestação, mesmo sem entusiasmar – na verdade nenhum o faria – Fernando Santos seria uma escolha natural.

Teorias da conspiração

A chegada de Fernando Santos permitirá descobrir alguns “ovos de colombo” do futebol português: (i) a qualidade à disposição é reduzida, e que não há muitas alternativas ao grosso do que que eram as escolhas de Paulo Bento. (ii) A maioria dos jogadores seleccionados continuarão a sair do lote de jogadores agenciados por Jorge Mendes sem que isso signifique menor honestidade ou independência do seleccionador. Não foi por aí que falhou Paulo Bento porque é uma inevitabilidade a participação maioritária daquele empresário e porque não creio que haja, entre os seus colegas de profissão, quem lhe possa dar lições nesta matéria. Foi essa independência e desassombro que o levaram a afrontar Pinto da Costa, com as célebres “postas de pescada” e, quem sabe, muito concorreram para actual escolha de Fernando Santos, de quem não se esperam afrontas idênticas.

"Quanto tempo se manterá o sorriso de Fernando Santos?" Fonte: fpf.pt
“Quanto tempo se manterá o sorriso de Fernando Santos?”
Fonte: fpf.pt

Milagres que não estão ao alcance de Santos

Não será preciso ter dons milagreiros para alcançar a qualificação apesar da hecatombe da jornada inicial. Bastará algum bom-senso, que não parece faltar a Santos mas que já parecia ter saído debaixo dos pés a Paulo Bento. Mas o trabalho pela frente será muito e difícil, uma vez que não poderá contar com a sorte de alguns que o antecederam no cargo, especialmente Humberto, Oliveira, Scolari e ainda que em menor grau, Queiroz. Estes antepassados não ficaram famosos pela qualidade e profundidade do seu trabalho, não deixando mais do que uma colecção de resultados quase obrigatórios, atendendo que a quantidade e qualidade era a que era então. Mas ideias estruturantes, estratégia e planeamento que contrariasse a habitual falta de visão, inércia e conformismo das direcções de Madaíl e que deixasse outro legado que aquele que escorreu com o passar do tempo não se viram. Confesso que as minhas expectativas para o mandato de Fernando Santos não são mais nem melhores considerando que, no imediato, devolver a selecção à razoabilidade de escolhas e exibições, voltando-a a colocar no caminho da qualificação será a principal preocupação.

Renovação ou revolução?

Renovação e a falta dela foi o chavão escolhido para justificar a triste presença em terras brasileiras. E parece que essa obrigação continua a ser exigida agora a Fernando Santos. A primeira convocatória permite perceber que Fernando Santos não se deixa levar pelos cantos das sereias. Fazer regressar Tiago e Carvalho, a que juntaria Quaresma, Bruno Alves e José Fonte demonstra que essa é a menor das suas preocupações. Estes nomes não merecem tratamento idêntico, mas remetem-nos para a realidade: a “geração de estrangeiros”, composta por jogadores de qualidade e experiência – seja lá a importância que esse aspecto terá – onde a selecção alicerçou muito do seu sucesso, algum dele relativo, está no limiar da extinção do seu prazo de validade. Não há ainda valores seguros nos seus sucessores e Fernando Santos em Portugal terá que se contentar também com valores emergentes mas longe de oferecer a segurança dos há muito idos Figo, Rui Costa, Couto, Paulo Sousa, João Pinto, Nuno Gomes, Pauleta e outros. Não haverá milagres.

Um caso de poucas ideias fixas (será?)

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Oito jogos, oito equipas iniciais diferentes. Na baliza, defesa, meio-campo ou lá na frente, contam-se até agora por uma mão vazia os ‘onzes’ repetidos por Julen Lopetegui. O relógio continua, o calendário perde folhas e a equipa portista não tem maneira de encontrar estabilidade. Mas será que esse é um objectivo?

Cumpridos praticamente dois meses de competição, é difícil pensarmos no caso Lopetegui como um processo em evolução cujo objectivo passa por encontrar um onze ‘à Porto’. Arrisco e digo que é mesmo insensato tentarmos fazê-lo. E digo-o por respeito ao técnico, por confiança nas suas certezas e desejo de que estejam certas.

Da Liga Portuguesa à Liga dos Campeões (incluindo a qualificação), não houve um único onze inicial igual a um dos anteriores. Até na baliza Julen ‘mexeu’. Tirou um jovem, pôs outro, deixou um, talvez dois. A palavra que predomina no universo azul e branco 2014/2015 é ‘rotatividade’. Até Jackson ficou de fora. O técnico espanhol já por várias vezes havia avisado e agora, passados mais de quatro meses desde que chegou ao Dragão, não deixa espaço para dúvidas.

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Lopetegui muda; Lopetegui engenha; Lopetegui surpreende; Lopetegui treina.
Fonte: shakhtar.com

Acredito no seu trabalho e acredito nos jogadores. Na sua tenra idade e talento – porque se assim não fosse o meu ponto de vista e convicções seriam outros. Afinal, Julen desde há muito trabalha com jovens jogadores. Este ano, a média de idades não chega aos 25. Com o que tem entre mãos, não será provável que as poucas ideias fixas sejam premeditadas? Ou melhor, não será provável que a falta de 1) estabilidade, para uns, ou de 2) consistência, para outros, seja natural?

Danilo e Alex Sandro nas alas, Quintero, Óliver, Rúben Neves e Brahimi no meio do terreno, e Tello, Ádrian, Quaresma, Jackson (sem esquecer Kelvin) lá na frente. O plantel não se fica por aqui mas, para mim, seria já uma autêntica dor de cabeça. Mas uma dor de cabeça boa, daquelas que nos é causada pela abundância de talento. É inegável: todos estes conseguem ser mágicos dentro do campo; à sua maneira, no seu sítio, com o seu ritmo. Todos eles o fazem, sim, mas muitos deles (a maioria) são ainda muito novos.

E a idade é sempre um ponto fundamental a ter em consideração: todos nós desejamos chegar aos 16, 18 anos. Queremos ser livres, conquistar o mundo, dominar a nossa própria vida. Uns têm já essa capacidade, outros precisam das asas dos seus pais durante mais um par de anos até que estejam verdadeiramente preparados. Há ainda aqueles que o tentam e voltam às origens por mais um ano ou outro. No futebol não é muito diferente.

Óliver, Rúben e Cristian são alguns dos casos mais pragmáticos. Talento não lhes falta mas, por vezes, não aparece. Ou não aparece quando era preciso, ou da maneira desejada. Quintero, por sua vez, ainda não é capaz de começar aos 0’ e ter o mesmo rendimento de quando entra a meio da partida. Por isto, Julen não pode, não quer, não tem um onze. Tem um plantel que roda e gere de forma a tentar aproveitar o melhor de cada um… No momento ideal.