Andrea Pirlo: nome de craque, ídolo, maestro, talento puro, lenda. O italiano conta já com 35 anos, mas a classe e a qualidade com que o perfume do seu futebol ainda deslumbra os relvados por onde passa fazem prever que o pendurar das botas se encontra longínquo. E o futebol agradece, pois não está preparado para perder um jogador desta dimensão.
A cumprir a sua quarta época ao serviço da Juventus, atual tricampeã de Itália, após uma longa passagem pelo rival AC Milan e, até, pelo Inter de Milão, conta com um palmarés invejável aos olhos de muitos. Um Campeonato do Mundo de Clubes, duas Ligas dos Campeões, outras tantas Supertaças Europeias, cinco campeonatos italianos, entre outros títulos, constam da lista de conquistas da carreira de Pirlo. Venceu, também, pela sua seleção, o Campeonato do Mundo de 2006, na Alemanha, e um Campeonato da Europa Sub-21 em 2000. Sem dúvida, um jogador galardoado ao mais alto nível.
Pirlo fez uso da sua inteligência para adaptar o seu futebol à medida que os anos por si iam passando, o que o faz permanecer a um alto nível em idade tão avançada no que concerne a um jogador centro-campista. Embora a velocidade física não seja um atributo que o caracterize, é, sim, a velocidade de pensamento, que a experiência adquirida através da vasta carreira veio engrandecer, que o define como um dos jogadores mais letais no que ao capítulo do passe e da leitura de jogo diz respeito.
A inteligência é uma das principais características de Andrea Pirlo Foto: Juventus FC
Tal como já foi feita referência, é o autêntico mestre dos passes: a qualidade que demonstra, seja em passes curtos ou longos, coloca-o a um nível a que ainda nenhum outro nos habituou. Alia a tal dom uma tremenda visão de jogo, que lhe permite gerir o ritmo das partidas a seu bel-prazer. Sempre disponível para receber prontamente a bola dos seus colegas e movê-la na melhor direção, é um verdadeiro maestro de uma equipa. É um regalo para os olhos vê-lo dentro de campo na construção de jogadas de ataque perfeitas.
A liderança e o caráter que evidencia dentro das quatro linhas têm vindo a permitir aos jogadores mais jovens que atuam a seu lado adquirirem conhecimento e experiência junto de um dos melhores de sempre, que detém uma vasta influência no seio do grupo da vecchia signora.
Pirlo já deu muito, bastante até, ao futebol, e para agrado de todos promete dar ainda mais. Aos 35 anos, a elevada qualidade de jogo e classe que espalha pela Europa fora é de um gabarito a que poucos conseguirão chegar. É com enorme felicidade que encaro o facto de ainda ser possível observar este maestro italiano ao mais alto nível. Que o seja por muitos mais anos!
O Futebol Clube do Porto recebe esta quarta-feira o Bayern de Munique, no Dragão, para os quartos-de-final da Liga dos Campeões. O clube alemão treinado por Pep Guardiola é uma das melhores equipas do mundo, apenas ladeado (na minha óptica) pelo Barcelona.
As duas formações enfrentam algumas baixas para este desafio europeu que poderão condicionar os respectivos plantéis. Pelo lado dos dragões não estarão em campo Tello, por lesão, e Marcano, devido a castigo. Jackson, apesar de convocado, não tem treinado com bola nas últimas semanas e não deverá, portanto, jogar de início; no máximo, poderá eventualmente ser opção nos minutos finais do jogo. Neste enquadramento, os azuis e brancos deverão actuar no seu sistema usual (4x3x3), com Fabiano nas redes; Alex Sandro, Indi, Maicon e Danilo na defesa; Casemiro, como pivot defensivo, será coadjuvado pelos interiores Herrera e Óliver no meio campo; Brahimi, Quaresma e Aboubakar formarão o trio mais ofensivo. O colosso alemão irá ter de lidar positivamente com a contrariedade das inúmeras baixas a cargo do seu departamento médico. Entre os indisponíveis está Mehdi Benatia (defesa), David Alaba (que de lateral passou a médio centro), Javi Martínez (trinco posicional e equilibrador) e Schweinsteiger (jogador que melhor une os dois momentos no meio campo: recuperação/construção). Juntando a esta razia, os dois mais ilustres ausentes são os dois criativos/velocistas/finalizadores Robben e Ribéry, que dão uma qualidade suprema à equipa, atribuindo-lhe uma aura de quase imbatibilidade.
Independentemente destas limitações na preparação do jogo, o gigante alemão irá apresentar um onze temível, escalonado numa estrutura de 4x3x3. Manuel Neuer na baliza, Dante e Boateng (centrais), Bernat na lateral esquerda e Rafinha na direita; no meio-campo deverão alinhar Xabi Alonso, Lahm e Thiago Alcântara; como três homens mais avançados, Guardiola deverá lançar de início Mario Götze, Thomas Müller e Robert Lewandowski. Como sistema alternativo, o espanhol poderá utilizar também um 5x3x2, com três centrais e os laterais muito adiantados, entrando Badstuber para central (saindo Lahm do sector intermediário). Se for este o esqueleto inicial, Götze deverá recuar para médio, deixando Müller e Lewandowski soltos perto do golo.
Herrera foi um dos portistas elogiado por Pep Guardiola Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Apesar de ser uma equipa com pouquíssimos pontos fracos, os dragões poderão ferir o Bayern de Munique em alguns momentos. Será importante identificar zonas de pressão ou jogadores específicos para roubar a bola e aproveitar a exposição alta da equipa bávara, que abre, devido a uma predisposição excessivamente ofensiva, espaço nas suas costas. Os centrais (não tão hábeis) saem a jogar desde trás e sobem, em várias ocasiões, com a bola controlada para lá do terreno adversário. A dupla de centrais deve ser pressionada ou as suas opções antecipadas pelos avançados portuenses. Xabi Alonso deverá ser alvo de uma marcação individual alternada entre os dois médios interiores (Óliver e Herrera), visto que é o jogador mais habilitado para o início de construção do Bayern, não só no precioso passe curto, mas também no teleguiado lançamento longo (se este jogador for anulado, todo o processo colectivo de posse perde discernimento). Os laterais alemães participam em todos os momentos do ataque posicional, permitindo a abertura em posse no momento ofensivo. Visto que Müller e Götze deverão procurar movimentos interiores e apoios entre linhas, a profundidade deverá ficar a cargo dos dois laterais incansáveis e de técnica apurada. Mesmo assim, julgo que o Porto deverá tentar condicionar o Bayern a lateralizar o jogo e deixar que a bola caia preferencialmente nestes dois jogadores (Bernat e Rafina), não se desgarrando na ocupação da zona central, nevrálgica para condicionar o jogo interior apoiado e combinações em tabela e em diagonais (o ponto mais temível dos alemães).
Julgo que o Porto se pode superiorizar nos momentos de recuperação de bola a meio campo, visto que tem um trio de médios fisicamente mais apto do que o do seu concorrente: Xabi, Lahm e Thiago, jogadores excepcionais no passe curto, mas algo macios e pouco rápidos em processo defensivo. A ausência de Tello (importante para uma invasão do espaço em velocidade) e a de Jackson (exímio em combinações mas também predisposto e competente como primeiro defesa a sair em pressão) serão difíceis de contornar. O posicionamento defensivo alto da defesa bávara poderá ser aproveitado com uma nuance de movimentação por parte do trio de avançados portista. Seria interessante ver Quaresma executar movimentos interiores, abrindo espaço nas faixas a Brahimi e Aboubakar. Assim, o Mustang seria mais um na batalha pelo miolo e, também, em momento de recuperação de bola, poderia executar um último passe letal, solicitando diagonais aproveitando o espaço vago lateral/central oferecido pelos alemães.
FC Porto ou Bayern – só há lugar para um nas meias-finais Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Julen Lopetegui e os seus comandados deverão ter a noção de que vão passar a maior parte do jogo sem o contacto com a bola (algo inédito esta temporada). À “superioridade autista” de Guardiola, excessivamente ego centrada no seu estilo e modelo, o técnico basco terá de opor uma abordagem mais condicionada, empreendendo uma contra-estratégia que altere alguns princípios de jogo. Para discutir a eliminatória, os dragões, mesmo que não adoptem uma postura receosa e de contra-ataque, baixando excessivamente linhas e esticando longo na frente, terão de abdicar da sua tradicional troca de bola circular entre os defesas e o seu guarda-redes. Em vez de chegar à baliza contrária com “20 passes”, o Porto poderá iniciar uma construção apoiada e curta, embora não possa sair a jogar de forma pausada e tranquilamente pensada (como tem sido apanágio esta época). Basta o Bayern ganhar uma bola na primeira fase de construção para fazer golo; como tal, os azuis e brancos devem ter a humildade de alterar este seu princípio (sem alterar a filosofia). Não existindo “jogos perfeitos”, para ganhar, o Porto terá de fazer uma “partida sem falhas”.
Ao sétimo derby madrileno da temporada, e após a suprema humilhação (4-0) imposta pelo Atlético ao Real em Fevereiro passado, interessava hoje perceber de que forma o actual campeão europeu se apresentaria no Vicente Calderón. Os merengues não batem o pé ao rival da cidade desde a final da passada temporada e mesmo aí precisaram do tempo-extra para o fazer. Sabendo-se de antemão de todos estes factos e da inteligente forma como Simeone consegue colocar o Real no “colete de forças” colchonero, a tarefa não parecia ser nada fácil para Ancelotti e os seus jogadores.
No entanto, foi um Real Madrid ferido no orgulho e de “cara lavada” que iniciou a partida e controlou todo o primeiro tempo. Com as presenças de James e Modric (que diferente é o Real com e sem o croata…) ao lado de Kroos no miolo do terreno, a equipa blanca é capaz de uma circulação de bola com muito mais qualidade, critério e a toda a largura do campo. Foi por aí que o Real foi “desmontando” a habitual excelente ocupação de espaços da equipa de Simeone e, assim, impôr o seu jogo em campo colchonero, já que, na primeira parte, o Atlético nunca foi capaz de suster as investidas do rival.
Porém, se há arte que o Atlético de Simeone é capaz de dominar é a do saber sofrer quando o desenrolar do jogo assim o impõe. O nulo ao intervalo não era, de forma alguma, o espelho daquilo que se passava em campo e o Atlético bem o podia agradecer a Oblak, que, definitivamente, agarrou o lugar e começa a demonstrar o porquê de o Atlético ter aberto os cordões à bolsa por um dos futuros melhores guarda-redes do mundo.
Respondeu o Atlético na segunda metade, apesar de o jogo ter baixado consideravelmente de ritmo e, consequentemente, de qualidade. O Real não mais encontrou capacidade para se chegar à baliza de Oblak com o perigo com que o fizera no primeiro tempo e o jogo acabou por se colocar mais ao jeito da equipa da casa.Entre quezílias, duelos físicos e choradinhos em redor do árbitro, o tempo foi-se arrastando e ninguém foi capaz de desamarrar o empate sem golos. Acabou o Real encostado às cordas, fruto de um derradeiro mas ineficaz assalto da equipa da casa à baliza de Casillas. Pior resultado para o Real, que, com as oportunidades de golo que foi criando, tinha de sair do Calderón com um resultado mais vantajoso.
O nulo é um resultado altamente perigoso para os blancos, ainda para mais sabendo do cinismo que este Atlético é capaz de emprestar ao jogo. E exemplos de sucesso passado de Simeone no Bernabéu não faltam…
A Figura:
Oblak – O guarda-redes esloveno agarrou a titularidade e demonstrou hoje porque é um guarda-redes de eleição. Negou por diversas vezes o golo à equipa do Real
O Fora-de-jogo:
Real perdulário – Uma equipa com jogadores com a qualidade de Ronaldo, Bale, Benzema ou James não pode falhar 4 ou 5 oportunidades de golo claras em jogos como este. Veremos se não lhes custa a eliminatória
Apesar de não ser uma presença constante nos grandes palcos do futebol europeu e mundial (especialmente durante a última década), a Bulgária já deu muito à modalidade, quer pelos seus clubes, quer através das suas outrora talentosas selecções nacionais. Faz seguramente parte da memória de todos nós a grande equipa búlgara que participou no Mundial de Futebol de 1994 nos EUA, da qual faziam parte jogadores extraordinários como Hristo Stoichkov, Krassimir Balakov, Yordan Lechkov, Borislav Mihaylov e Emil Kostadinov, entre outros.
Pela mão do lendário Dimitar Penev, tio do antigo internacional búlgaro Lyuboslav Penev, a selecção do leste da Europa, que começou como um pária (uma vez que havia apenas conseguido o apuramento no último jogo da fase de qualificação, a expensas da selecção francesa e com dois golos do nosso bem conhecido Emil Kostadinov), atingiu as meias-finais do torneio deixando para trás a Alemanha e caindo apenas aos pés de uma Itália liderada pelo virtuoso número 10 azzurri, Roberto Baggio.
A “Geração de Ouro”, como viria a ficar conhecida essa talentosa equipa, e os tempos de prosperidade do futebol búlgaro foram perdendo tenacidade e o fulgor que lhe haviam assegurado um lugar de destaque entre as potências do futebol mundial e, aos poucos, tudo se desvaneceu. As constantes mudanças de treinador e dos responsáveis pelo futebol búlgaro, associadas aos graves problemas de ordem financeira e social que o país atravessou e dos quais, diga-se de passagem, ainda não se libertou, condenaram o outrora poderoso futebol búlgaro a uma mediocridade arrepiante quer a nível nacional, quer no panorama além fronteiras.
Após ter falhado mais uma vez a presença no Mundial de futebol do passado Verão, a federação búlgara entendeu que deveria continuar a depositar confiança no seu treinador Lyuboslav Penev, que, apesar de ter feito um trabalho relativamente positivo na campanha de qualificação para o Mundial do Brasil, vinha já a perder o controlo da equipa há algum tempo e, em simultâneo, a sua relação com os jogadores estava também longe de ser a melhor.
Contudo, um empate embaraçoso em Sófia contra o modesto conjunto de Malta foi a machadada final no reinado de Lubo Penev à frente da selecção búlgara. Após esse jogo, que teve lugar em Novembro do ano passado e que deixou a Bulgária em muito maus lençóis no seu caminho rumo ao apuramento para o próximo Europeu de Futebol, a federação búlgara decidiu substituir o antigo goleador por um homem, de seu nome Ivaylo Petev, com um currículo bem mais modesto enquanto jogador profissional, mas que parece ter trazido um novo ânimo e alento àquela selecção dos Balcãs.
Ivaylo Petev – o homem responsável por reconstruir uma nova Geração de Ouro no futebol búlgaro Fonte: Facebook de Ivaylo Petev
Petev, um antigo médio que fez grande parte da sua carreira ao serviço do Litex Lovech, encontrou no papel de treinador a sua verdadeira vocação e, apesar de ser ainda bastante jovem (39 anos), conta já com um excelente palmarés, do qual fazem parte dois campeonatos búlgaros, uma supertaça e uma taça da Bulgária, enquanto comandante do Ludogorets Razgrad. O homem que trouxe o outrora desconhecido Ludogorets da segunda divisão para as luzes da ribalta foi humilhado por alguns adeptos do Levski Sofia, quando, em 2013, o director desportivo da equipa e antiga estrela do futebol búlgaro, Nasko Sirakov, o apresentou à comunicação social como novo treinador do clube, tendo sido praticamente “obrigado” a despir a camisola do Levski por alguns adeptos altamente descontrolados, que irromperam pela conferência de imprensa. Apesar de tudo o que lhe aconteceu, Petev é agora o responsável por trazer a Bulgária de volta aos grandes palcos do futebol europeu e mundial.
Nos dois jogos em que orientou a selecção búlgara, Ivaylo Petev não se saiu mal; pelo contrário, conseguiu um empate frente à Roménia e outro frente à tão aclamada Itália de Antonio Conte. Foi precisamente nesse jogo contra a squadra azzurra que esta “nova e revigorada” Bulgária puxou pelos galões e, após uma primeira parte de luxo, durante a qual o versátil avançado do Kuban Krasnodar (e possivelmente o melhor futebolista búlgaro da actualidade), Ivelin Popov, colocou a selecção italiana em sentido. Contudo, os comandados de Petev acabaram por consentir o empate nos últimos dez minutos da partida.
Ivaylo Petev, que, ao serviço do AEL Limassol, fez tremer o poderoso Zenit de André Villas-Boas durante a fase de qualificação para a Liga dos Campeões no início desta temporada, tem agora uma tarefa hercúlea nas mãos e vai seguramente necessitar de algum tempo para olear a máquina búlgara, que a morosidade do tempo enferrujou. Para completar essa tarefa com sucesso, Petev contará com o talento dos seus jogadores, que incluem o acima referido Ivelin Popov, Nikolay Mihaylov (filho do antigo guarda-redes búlgaro que passou pelo Belenenses e que esteve em grande nível no Mundial de 1994), Vladimir Gadzhev (médio centro de excelente qualidade e actual capitão do Levski) ou ainda Georgi Milanov, um jovem prodígio que faz actualmente parte dos quadros do CSKA Moscovo; contudo, e com alguma urgência, Petev precisa de trazer sangue novo para a equipa, de forma a levar a cabo a tão aclamada e necessária renovação que nunca chegou sequer a ser feita.
O tempo não volta para trás e jogadores com a genialidade de Georgi Asparuhov, Hristo Stoichkov ou Dimitar Berbatov não aparecem todos os dias, mas, num país que já deu tanto ao futebol, Ivaylo Petev, que já provou ser um treinador bastante capaz, irá certamente encontrar matéria prima para voltar a colocar a Bulgária, a curto ou a médio prazo, no lugar de destaque que esta merece.
Foto de Capa: Facebook dedicado ao futebol búlgaro
Este UFC Fight Night, em Cracóvia, não estava destinado a ser bem sucedido. Apesar do combate principal ser entre dois históricos do MMA, pouco mais atraía neste cartaz. Nem o desfecho mais “desejado”, a redenção de Cro Cop, aumentou a excitação em torno do evento que, por falta de combates significativos no que toca a rankings e títulos das respectivas divisões, conquisto mais bocejos que aplausos. O facto de acontecer entre o Fight Night 63, encabeçado por Chad Mendes e Ricardo Lamas, e o Fight Night 65, protagonizado por Lyoto Machida e Luke Rockhold, dois importantíssimos nomes da categoria de Peso Médio, retirou-lhe a aura que a UFC pretendia.
O primeiro combate da noite foi, sem dúvida, um dos mais interessantes e relevantes do cartaz principal. Joanne Calderwood, a número 6 do ranking de Peso Palha feminino, e Maryna Moroz, estreante, procuraram fazer-se notar à UFC e à campeã Joanna Jedrzejczyk, que assistia das bancadas. Ambas estavam invictas à partida para o combate. Este decorreu de forma rápida: Maryna entrou agressiva e não mostrou medo do jogo em pé de Calderwood. Conseguiu, aliás, impor os seus strikes, encostando Calderwood à rede. Esta fechou um clinch, que foi contra atacado por Moroz, levando a adversária para a guarda e fechando, quase de imediato. Ao tentar fugir, Calderwood acabou por dar mais alavanca a Moroz, que aproveitou e obrigou a sua adversária a desistir aos 90 segundos da primeira ronda. Nos festejos, Moroz dirigiu-se à campeã e fez um gesto de cinto à volta da cintura. Moroz merece já uma oportunidade pelo título? Certamente que não, mas a divisão acabou de se tornar mais interessante.
Após a sua vitória sobre Calderwood, Maryna Moroz (na foto) prontamente desafiou a campeã Joanna Jedrzejczyk. Antevê-se um combate pelo título? Fonte: UFC
O segundo combate foi um dos que mais bocejos arrancou ao público. Os meio médios Pawel Pawlak e Sheldon Westcott protagonizaram um combate com um teor bastante técnico e que decorreu junto à rede, durante a maior parte do tempo. À parte uma projecção e alguns golpes por parte de Pawlak, pouco mais se passou. Na segunda ronda, mais do mesmo, pelo que o árbitro por duas vezes teve de mandar os lutadores para o centro do octógono. À segunda, Pawlak percebeu a mensagem e mostrou-se mais agressivo. Levou a luta para o chão e castigou Sheldon a partir dos cem quilos. O polaco entrou com o mesmo espírito, mas a luta acabou por voltar para a rede. Westcott ficou fatigado e Pawlak aproveitou para levar a luta para o chão, novamente, e castigar mais um bocado Sheldon, que se limitou a aguentar até ao final. Vitória fácil, por decisão unânime, mas não vistosa para Pawel Pawlak. Terá de fazer melhor se ambiciona destacar-se nos rankings da UFC.
Num cartaz principal de apenas quatro lutas, o co-evento principal teve como protagonistas o número 9 do ranking de Peso Meio Pesado, Jimi Manuwa, que vinha de uma derrota contra Alexander Gustafsson, e um ícone dos desportos de combate polacos, Jan Blachowicz. Manuwa, apesar de Jan ter tido alguns rasgos, esteve sempre no controlo da luta. Ao longo das três rondas procurou sempre estar no centro do octógono, encurtando os espaços ao seu adversário. Fez uso dos seus fortes pontapés para desgastar o polaco e conseguir alguns pontos do júri. Na ultima ronda, Jan ainda assustou Manuwa com um pontapé alto, mas este rapidamente recuperou o controlo da luta, conseguindo algumas boas sequências e abrandando o ritmo através do clinch. No final, Manuwa venceu, justamente, por decisão unânime. Foi uma boa resposta à primeira derrota da carreira.
À altura do evento principal havia a sensação de que as coisas não iriam correr bem para Cro Cop. Este não era o mesmo desde a derrota no primeiro combate contra Gonzaga, derrota essa que veio por via de um pontapé alto, mesmo ao estilo do croata. Foi humilhante, sem dúvida. Cro Cop nunca teve muito sucesso na UFC, pelo que acabou dispensado em 2011. Fez mais algumas lutas em circuitos asiáticos, vencendo a maior parte delas – sem a espectacularidade de outros tempos, no entanto. Apesar de tudo, valeram-lhe um retorno à UFC e uma tão desejada desforra contra Gonzaga, número 14 do ranking de Peso Pesado, que lhe atirou a carreira para o seu momento mais baixo.
Cro Cop (por baixo) precisou de sofrer muito às mãos de Gonzaga (por cima) até conseguir arrancar uma vitória, na terceira ronda Fonte: UFC
Aos 40 anos, Cro Cop mostrou que ainda existe dentro dele algo semelhante aos tempos da Pride. Gonzaga castigou a lenda do MMA na primeira ronda, com destaque para a luta no chão, onde quase fechou uma chave de perna e acabou por terminar a ronda a desferir cotoveladas certeiras. Na segunda esquerda viu-se mais do dominador Gonzaga e o mesmo Cro Cop passivo. Mais uma vez, a maior parte do castigo a Cro Cop deu-se no chão. Para além das tentativas de submissão, Gonzaga desferiu feios golpes a Cro Cop, que terminou a segunda ronda com um visível e profundo golpe no sobrolho.
Foi na terceira ronda que o cenário mudou. Nesta ronda Gonzaga entrou mais lento, levou o combate para a rede e tentou a projecção. Após a falha, desferiu uma joelhada ao corpo de Cro Cop, mas deu-lhe espaço para conseguir a primeira grande sequência, que culminou numa cotovelada que abalou Gonzaga. Ainda que a risco, Cro Cop mandou-se para a guarda de Gonzaga, ignorando o seu poderio a nível de Jiu Jitsu, para trabalhar no ground and pound. Após alguns golpes, conseguiu passar a guarda e, do controlo lateral, desferir alguns socos martelo que obrigaram o árbitro a parar a luta, dada a incapacidade de defesa por parte de Gonzaga. Não foi a vingança, a redenção com que Cro Cop certamente sonhou (a vitória mais saborosa seria, de certeza, através do clássico pontapé alto), mas serviu para terminar o pesadelo de oito anos.
É certo que, com eventos destes, a UFC procura potenciar novos mercados, pelo que aposta em lutadores locais e de alto perfil para a cidade ou país em questão. Tem, no entanto, de ter em atenção que, com um evento principal deste calibre, um reviver de um clássico, o apoio dado pelas lutas que o precedem tem de ser mais forte, algo que não se consegue com lutas que pouco ou nada alteram no panorama dito principal da UFC. Fica, pois, a sensação de que Cro Cop e Gonzaga mereciam um palco maior.
Segue-se, já este Domingo, dia 19, o Fight Night 65, encabeçado por Lyoto Machida e Luke Rockhold. Fiquem atentos à análise no Bola na Rede.
Sempre me fascinou o estudo e a compreensão da excelência: principalmente da excelência no Desporto em geral, e a do futebol e do futsal em específico. Já escrevi algumas coisas acerca da excelência mas é uma temática sobre a qual sei, com certeza absoluta, que nunca irei escrever tudo o que há para escrever. Assim como o CR7 tem a certeza de que nunca fará todas as fintas ou golos que há para fazer. Ou o Manuel Neuer tem a certeza de que nunca fará todas as defesas que há para fazer. Ou o Roger Federer tem a certeza de que nunca conseguirá todos os ases que há para conseguir. Ou mesmo o José Mourinho terá a certeza de que nunca ganhará todas as competições que haverá para ganhar.
Tem isto a ver com a excelência? Saber que seremos sempre uma obra inacabada e que haverá sempre tanto para aprender, e também para ensinar, é um dos caminhos que nos impulsiona para a excelência. Uma insatisfação positiva move-nos nesse sentido e sentimo-nos bem com isso; podemos é não percebê-lo. Dentro dessa insatisfação cabem todas as satisfações do mundo enquanto mestres executantes da tarefa para a qual estamos vocacionados. Ser treinador, atleta ou dirigente e trabalhar no Desporto, muitas vezes quase por carolice, outras vezes até profissionalmente, deverá ser uma missão.
O Desporto é uma escola onde nós recebemos sempre mais do que aquilo que damos, mesmo sendo treinadores. É uma escola de vida. Nesta escola de vida aprendemos tudo mas principalmente aprendemos que nunca iremos aprender tudo o que existe para aprender… Existe, principalmente para os treinadores, uma visão de que aquilo em que trabalham é muito complexo. Inclusive nos cursos de formação de treinadores aprendemos que devemos trabalhar com os nossos atletas partindo do simples para o mais complexo. Em conversas com muitos colegas treinadores algumas vezes ouço a expressão “é complicado”, quando se referem ou à sua equipa, ou à sua classificação, ou aos seus resultados. O que todos parecem não perceber é que aquilo em que pensamos é o que dizemos, mas quase sempre acreditamos naquilo que pensamos. Isto é um grande erro. Não devemos acreditar em tudo o que pensamos. Isso é estúpido. Constantemente criamos crenças limitadoras e desnecessárias, que nos condicionam nas nossas actividades e relacionamentos. E complicamos. Por vezes muito.
Uma vez, julgo que num seminário de futebol em que estive presente, o mister Manuel Cajuda lançou uma frase de que nunca mais me esquecerei:
“Se é tão simples complicar, para quê simplificar?”
Óbvio que é uma ironia. Uma excelente ironia que remete para a nossa grande capacidade de complicar ou de gostar mais do complexo porque é o que dá “pica”. É natural que exista uma fase das nossas vidas em que temos uma maior orientação para o complexo, o elaborado, o estruturado, o organizado. No entanto, numa era em que todos trabalham, quer no desporto, quer noutra profissão, quer mesmo na família e nas relações, em complexidade, porque a realidade actual é mais intrincada, veloz e carregada de pressa, na minha perspectiva quem acaba por se tornar excelente é quem faz do simples a sua arte. Quem utiliza o complexo para chegar ao simples e ter sucesso a partir daí. Aqui é natural que ao leitor surja o pensamento: “Xiii! Isso é complicado!”.
Fonte: DR
Há uns tempos estive numa formação com o Seleccionador Nacional de Futsal Jorge Braz e o mister Paulo Tavares (treinador do SC Braga), que alertaram para algo que está a acontecer há já algum tempo e de que eles se têm vindo a aperceber, inclusive com a regular chamada de novos jogadores à selecção, quer A, quer sub-19. Estes atletas entendem muito bem o jogo, os princípios gerais, as metodologias de treino, os modelos, as tácticas, etc., mas na execução têm défice em princípios mais básicos. A que conclusões chegaram, e que podem parecer espantosas para muitos, sendo estes factos até transversais às outras modalidades?
Desde o nível mais básico ou elementar de desempenho, ou seja, desde os 10/11 anos, a maior concentração de atenção e foco do treinador vai para (partindo do princípio de que, tal como abordado num artigo anterior, o foco não é nos resultados) os processos tácticos, descurando um pouco os processos técnicos individuais. Claro que os atletas vão crescendo perante o jogo, podendo até ser talentosos e entendê-los, mas quando chegam ao nível de especialização, mais precisamente ao nível de alta competição internacional, não conseguem ganhar competições porque o grau de preparação é ainda inferior ao de outras selecções.
A exemplar referência ao básico, ao simples, aqui, vai ao encontro do que escrevi anteriormente. Só conseguiremos ser excelentes, por exemplo, vencendo um campeonato europeu ou mundial, em qualquer modalidade, quando entendermos que o que é complexo está dependente do que é simples, e que é preciso primeiro, desde cedo, trabalhar o simples até quase à perfeição. É esse simples individual perfeito que fará com que o complexo, que apesar de tudo é natural e existe em tudo, seja de longe mais consistente e evolua de forma a que nos tornemos excelentes.
Por isso, quando nos ensinam a trabalhar do mais simples para o mais complexo, devemos reflectir sobre se não estaremos a dedicar pouco tempo e poucos recursos ao simples e fundamental, dando mais importância àquilo que é mais elaborado e que achamos que dá mais “pica”… É complicado!
As duas equipas portuguesas presentes nas meias-finais da Challenge Cup tiveram sortes diferentes nos jogos deste fim-de-semana, mas os resultados deixam em aberto a possibilidade de uma inédita final lusitana numa prova internacional de andebol, neste caso na terceira prova de clubes mais importante da Europa, cujo troféu apenas uma equipa portuguesa já ergueu (o Sporting, em 2010).
ABC vence Stord e está bem posicionado para chegar à final
O ABC de Braga ganhou este sábado aos noruegueses do Stord por 25-18 e, no próximo domingo, desloca-se à Noruega para gerir a vantagem de sete golos e tentar chegar pela segunda vez na sua história a uma final da Challenge Cup.
Com o pavilhão Flávio Sá Leite, em Braga, perto da lotação esgotada, o ABC acusou o peso da responsabilidade de uma meia-final europeia e começou mal o jogo. Os minhotos construíram bem o processo ofensivo, mas a baixa eficácia na finalização fez com que o Stord, uma equipa que, apesar de ser oriunda de um país apaixonado por esta modalidade, tem pouca experiência em competições europeias, fosse a espaços tomando o comando do marcador.
Sem querer tirar mérito ao 6-0 compacto dos noruegueses, o maior responsável pelo facto de o Stord ainda poder sonhar com o apuramento para final é o seu guarda-redes Thomas Aagard, que fez uma excelente exibição e mais de duas dezenas de defesas, muitas em momentos-chave do jogo que poderiam ter catapultado o ABC para um resultado mais dilatado e algumas de um grau de dificuldade máximo (impediu, por exemplo, ao longo do jogo, quatro ou cinco golos em situações de um para zero).
Na primeira parte a equipa da casa desperdiçou demasiadas oportunidades de golo, muitas em contra-ataque, aproveitando os incontáveis turnovers do Stord. A formação nórdica apresentou um ataque muito macio (apenas nove golos marcados em cada parte), que muito raramente solicitava o pivô. Em vez disso, privilegiavam o remate exterior (muitos deles nem sequer chegavam à baliza de Humberto Gomes, uma vez que batiam no bloco), pelo que os bracarenses nunca tiverem de mostrar o quão bem sabem defender, qualidade, aliás, que, na minha opinião, foi decisiva para a vitória frente ao FC Porto na final da Taça de Portugal e também na vitória diante do Sporting no terceiro jogo das meias-finais do campeonato nacional.
O mítico Pavilhão Flávio Sá Leite foi palco de mais uma boa exibição europeia do ABC
A primeira metade da partida terminou com vantagem de três golos para o ABC (12-9), com destaque do lado da equipa da casa para as boas exibições do central Hugo Rocha e do extremo direito David Tavares, ex-Benfica, e do lado dos visitantes para a prestação de Morten Christensen (que terminou o jogo com quase metade dos golos da equipa, sete) e do conflituoso Jesper Traberg.
Os minhotos foram os primeiros a marcar nos segundos 30 minutos, mas um parcial de 4-0 do Stord colocou no placard uma igualdade a 13 que não exprimia o que tinha sido o jogo, dada a evidente superioridade da equipa portuguesa. O empate durou pouco, uma vez que aos 45 minutos de jogo o ABC já vencia por 21-15, depois de um parcial de seis golos sem resposta que impediram qualquer reação da equipa norueguesa. O Stord acabaria por marcar apenas mais três golos até ao fim, e os minhotos, empurrados pelo espetacular apoio do público, dilataram a vantagem para sete pontos, diferença que acaba por ser escassa se atentarmos na diferença de qualidade entre as duas equipas.
Na segunda metade brilharam os Nunos no ABC, com Nuno Grilo, apesar de algo perdulário da marca de sete metros, a terminar a partida com quatro golos, os mesmos de Nuno Rebelo, que confirma assim o potencial que muitos críticos lhe atribuem para crescer. Nota negativa apenas para a equipa de arbitragem russa, que aplicou muitas vezes de forma incorreta a lei do jogo passivo e anulou, mal, um golo magnífico a David Tavares.
Benfica sai derrotado da Roménia mas eliminatória é recuperável
O Odorhei, da Roménia, venceu esta tarde o Benfica em casa por 31-29 e vai deslocar-se a Lisboa no domingo com uma curta vantagem na eliminatória, que o Benfica tem capacidade para anular e, assim, atingir a final da Challenge Cup. O jogo não teve transmissão televisiva mas, segundo informação do site da Federação Europeia de Andebol, ao intervalo os romenos venciam por um golo (16-15).
O Benfica, que vinha de uma eliminação nas meias-finais do campeonato português frente ao FC Porto, teve no jogo de hoje António Areia como o seu melhor artilheiro, com oito golos, seguido do espanhol Javier Borragan Fernandez (seis golos). Do lado da formação da casa, destaque para o georgiano Vladimir Rusia, que terminou a partida com oito golos, e ainda para o romeno Chike Osita Onyejekwe (sete golos).
Caso uma destas duas equipas portuguesas consiga vencer esta competição, na próxima época o quinto classificado da liga nacional terá uma vaga na Taça Challenge, mantendo-se o lugar na Liga dos Campeões para o campeão português e uma vaga na Taça EHF para o vice-campeão.
O sentimento é diferente. O entusiasmo do público em nada se compara ao que se vê nos jogos do campeonato. O ambiente no estádio contagia adeptos e jogadores. Quando começa o hino, todos se levantam, com um orgulhoso cachecol que pretende mostrar à Europa do futebol que o clube muito fez para merecer estar ali. Entre as oito melhores do velho continente.
Assim se pode descrever a Liga dos Campeões, sem dúvida a melhor e mais entusiasmante competição a nível de clubes. Com os melhores clubes e os melhores jogadores presentes, quem quer ser bem sucedido tem de estar ao seu melhor nível, trazer o seu melhor fato para aquelas noites europeias que acabam sempre por ficar marcadas na memória. Nesta época, tudo isto tem feito parte do quotidiano portista. Sem meias medidas, a equipa entrou para a temporada sem bilhete para a Champions. Em virtude do que aconteceu na época passada, passar pelo Lille era essencial para se conseguir estar na fase de grupos. De forma natural, duas vitórias deram o mote para um percurso que tem sido intocável. Dez jogos, com sete vitórias e três empates, que deixam o FC Porto como a única equipa sem derrotas na competição e com o segundo melhor ataque da prova, apenas ultrapassado pelo… Bayern de Munique. Fazer uma retrospetiva do percurso europeu da equipa de Lopetegui esta época é obrigatoriamente um exercício que nos deixa com um enorme orgulho, bastando para isso recordar as exibições de luxo feitas na Ucrânia, em Bilbau ou no Dragão, frente ao Basileia de Paulo Sousa.
Bem sei que Lille, Shakthar, Atl. Bilbau, BATE Borisov e Basileia não são a nata do futebol europeu e, por isso, o destino que se exigia a um plantel e a uma equipa como a do FC Porto era a de estar presente nos quartos de final da Liga dos Campeões. Ao contrário do que aconteceu em várias ocasiões no campeonato, em que a equipa deu de mão beijada pontos que lhe dariam uma liderança natural por esta altura, na Champions tudo tem sido diferente. Sem receios táticos e sem distrações absurdas, Lopetegui colocou os jogadores a atuarem como verdadeiros veteranos nesta competição.
Estando entre as oito melhores equipas do velho continente, o FC Porto sabia, antes do sorteio dos quartos de final, que, com exceção do Mónaco, toda e qualquer luta em que entrasse na eliminatória seguinte seria uma batalha que só com muito rigor e sofrimento poderia ser superada. E, bom, calhou-nos o Bayern: por esta altura seria difícil pensar em adversário pior para se defrontar. É certo que o Barça tem Neymar, Suárez e Messi; o Real Madrid tem Bale, Ronaldo e Benzema; mas o que distingue este Bayern de todos os outros é o poder coletivo que a equipa demonstra. Liderado pelo melhor treinador do mundo, a equipa posiciona-se em campo como uma verdadeira orquestra. Dando autêntica liberdade tática aos jogadores, Guardiola faz do seu Bayern uma verdadeira casa de máquinas de futebol atrativo, de posse e de controlo, que sufoca os adversários, obrigando-os a jogar em bloco baixo, sem qualquer poder de reação.
“Ilusão e ambição” – as palavras de Lopetegui antevendo o confronto diante do Bayern Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Olhar para este Bayern – para além de jogadores como Robben, Ribéry, Lewandowski, Xabi Alonso, Schweinsteiger, Gotze, Alaba ou Thiago Alcântara – é perceber que existe uma ideia de jogo, trazida por Guardiola de Barcelona para Munique, demonstrando que os jogadores fazem o modelo de jogo mas que o modelo também transforma os jogadores. Sucintamente, é isso que faz do gigante alemão uma das equipas mais temidas da Europa: quem entra numa batalha contra o Bayern, sabe que na maior parte do tempo terá de se sentir desconfortável em campo. Taticamente falando, qualquer adversário que defronte o Bayern sabe que jogar sem bola e aproveitar os seus momentos de jogo são as duas premissas essenciais para derrubar uma equipa cujos pontos fracos são difíceis de apontar. Não existindo nenhuma equipa invencível, obviamente que estes tais pontos fracos existem, sendo que no caso dos alemães isso não é diferente. De qualquer forma, o estilo de posse projetado por Pep faz com que a equipa se una num bloco alto, com os setores interligados entre si numa pressão asfixiante. Jogando como equipa grande, o Bayern nunca se atemoriza e procura sempre controlar todos os momentos.
Por contraditório que isso que possa parecer, penso que este domínio tão absoluto do Bayern durante 362 ou 363 dias do ano faz com que a equipa alemã não tenha a flexibilidade tática para perceber que há adversários que têm poder para contrariar o seu jogo. Não são muitas essas equipas, mas o caso do Real Madrid, nas meias finais da Champions da época passada, é exemplo suficiente para se perceber quão possível é travar este Bayern. Acredito que, na mente da esmagadora maioria dos adeptos do futebol, a eliminatória contra a equipa bávara é uma mera formalidade. A diferença de armas e de poder é tão gritante que qualquer resultado que não o apuramento do Bayern para as meias finais será um desfecho tão ou mais surpreendente do que o título espanhol conquistado pelo Atlético de Madrid na época passada.
Ainda assim, e não foi por acaso que o quis demonstrar, o Bayern tem falhas e pontos que podem ser aproveitados. A eliminatória com o Real Madrid, a Supertaça frente ao B. Dortmund e os jogos da Bundesliga frente a Wolfsburgo e B. Monchengladbach são exemplos que Lopetegui deve compreender. Taticamente, o Bayern é o pior adversário que poderia ter calhado ao FC Porto. Sendo o modelo de jogo do treinador espanhol sustentado na ideia criada por Guardiola em Barcelona, é fácil perceber que, na próxima quarta feira, no Estádio do Dragão, estarão duas equipas à procura da mesma coisa: a bola.
Olhando para o Bayern de Munique, creio que, em termos estratégicos, uma obsessão do FC Porto pela bola nesta eliminatória será a pior coisa que os portistas poderão fazer. Em termos táticos, creio que a única hipótese que pode levar a equipa ao sucesso passa pelo controlo daquilo que é mais importante do que a bola: os espaços. Mais do que querer ser dominador em posse, Lopetegui terá que perceber que, para se derrotar o Bayern, a inteligência mental será o fator determinante. Por isso, saber recuar o bloco e não desposicionar a equipa taticamente – projetando-a para o momento ofensivo através da procura dos melhores espaços na defensiva alemã – será, a meu ver, a chave de que o FC Porto precisa para arrombar o Bayern.
O FC Porto é a única equipa que ainda não perdeu na atual edição da Champions Fonte: Página de Facebook do FC Porto
Bem sei que dizer é mais fácil do que fazer e que, em largos momentos do jogo, o Bayern vai empurrar o FC Porto para espaços de que a equipa não gosta, obrigando-a a praticar um estilo de jogo de que não é o seu. Realisticamente, creio que é aí que reside o maior desafio de Lopetegui: com uma equipa tão jovem e que está tão habituada a dominar os jogos dentro de portas, como será possível transformar o modelo e fazer deste FC Porto uma equipa taticamente solidária entre setores? Sem Tello – jogador que seria fundamental para aproveitar as transições – e possivelmente sem Jackson – elemento fundamental no arrastar de marcações e nos desequilíbrios na defensiva alemã -, facilmente se chega à conclusão de que a tarefa portista é hercúlea.
É verdade que Alaba, Robben e Ribery serão provavelmente baixas nos bávaros, mas creio que a não presença de Tello e Jackson Martinez serão, à luz da estratégia que Lopetegui teria em mente, muito mais difíceis de colmatar. E isto porque, na máxima força e com uma estratégia adequada, a tarefa portista seria muito mais exequível. Assim, sem o melhor soldado e sem a melhor arma para o contra ataque, serão precisas outras ideias, outras formas para procurar desafiar todas as probabilidades e acreditar, tal como em 1987 no Prater, em Viena, que ainda é possível ao David derrubar o Golias.
Quarta feira, pelas 19h45, lá estarei com os 50 mil que esgotarão o Dragão: com confiança de que é possível chegar mais longe, com esperança de voltar a ver a equipa a trazer o seu melhor fato para a melhor competição. Com esse sentimento diferente, do ambiente contagiante, com o hino que nos prende e com a ansiedade que nos preenche. Assim se descreve a Champions. Agora, só resta ao FC Porto continuar a honrá-la. Eu acredito que é possível.
P.S. – O SL Benfica lançou uma campanha nas redes sociais a que deu o nome “colinho”, cujo objetivo é chamar mais famílias aos jogos no Estádio da Luz. No anúncio publicitário, que corre já nas rádios nacionais e que começa a inundar as redes sociais, é percetível que o clube benfiquista procura gozar com Julen Lopetegui, que tem, não raras vezes, alertado para o facto de o Benfica ter sido esta época não raras vezes beneficiado no campeonato.
Mais do que voltar a afirmar o que é óbvio – que o Benfica foi ajudado em algumas partidas, dando-lhe pontos que justificam em parte a sua vantagem pontual no campeonato -, creio que este vídeo deveria ser um argumento para a estrutura portista refletir. Numa fase tão decisiva da época, com campeonato e Champions a serem decididos, acho que a estrutura dos dragões, de dirigentes a jogadores, devia olhar para este vídeo e pensar no que quer para o resto da época. Querendo acreditar que o FC Porto ainda é o clube que sempre foi, espero que este vídeo provocador chegue aos jogadores. E depois, claro, como sempre acontece no futebol, que a resposta a este vídeo e ao campeonato da mentira seja dada em campo. Nunca com vingança, mas sempre com a responsabilidade de uma camisola como a do FC Porto.
A pressão exerce sobre nós uma força estranha. Dependendo das personalidades (moldáveis, sempre!) de cada um, pode ser motivadora ou repulsiva. Há quem apenas consiga trabalhar se se vir “apertado” e, depois, cumprir prazos de entrega quando o relógio bate a meia-noite do dia designado e há aqueles que não dispensam a organização e que submetem os referidos trabalhos com muita antecedência depois de planear etapas que lhe permitam trabalhar com tranquilidade.
As primeiras pessoas sentir-se-ão mais aptas a agir no caso de uma emergência, por estarem habituadas à invasão do sentido de urgência, já as segundas poderão sentir mais dificuldade. Ambas se deparam com o famosíssimo dilema “luta ou fuga”. Umas são precavidas, e apesar de atingirem os objectivos tranquilamente, não conseguiram lutar contra uma adversidade inesperada, as outras serão mais flexíveis, ainda que seja preciso “apertar” com elas.
O futebol não escapa a esta analogia. No “nosso mundo” encontram-se inúmeros exemplos do efeito da pressão sobre uma entidade – pessoa ou clube -, que tanto pode cair numa espiral depressiva depois de não conseguir atender à imposição de vitórias levantada por adeptos e direcção como pode ficar motivada com o facto de precisar de vencer e haver margem para melhoria a cada fim-de-semana.
Inglaterra, como não podia deixar de ser, tem exemplos assim. Dentro dos que sucumbem ao poder da pressão, o do Blackpool é o mais flagrante. A equipa milita no segundo escalão (Championship) do país e encontra-se no último lugar, averbando 25 derrotas em 42 jogos disputados, nos quais sofreu 83 golos. Não resistiu à cobrança dos adeptos, e não consegue vencer desde 31 de Janeiro. A descida à League One (terceira divisão inglesa) está consumada.
Dentro dos exemplos positivos (que são muitos), aqueles em que a pressão exerce uma força motivadora, destaca-se o do Crystal Palace. No começo da temporada sabia-se da dificuldade de fazer jus ao legado de Tony Pulis e seus pupilos depois de a equipa ter acabado de subir de divisão e ter assegurado uma Premier League 2013/2014 tranquila, terminando a época num cenário longínquo daquele traçado pelos analistas desportivos.
Desde que a despromoção começou a pairar em Sellhurst Park, a equipa somou 25 pontos. O obreiro foi Alan Pardew. Fonte: Facebook do Crystal Palace
O Palace começou a época com uma deslocação ao Emirates, tendo perdido de forma natural contra o Arsenal, depois compôs-se, mas acabou por entrar numa sequência de resultados negativos, somando apenas uma vitória entre Outubro de 2014 e Janeiro de 2015, terminando o ano na linha de água. A pressão no início do ano que corre era, portanto, grande. Não que fosse esperado mais desta equipa por parte da imprensa, mas a cobrança dos adeptos era, agora, maior, e a direcção, tendo noção do quanto tinha custado a subir, não quereria voltar a descer. Foi chamado Alan Pardew para substituir o treinador que começara a época, Neil Warnock. A equipa não tinha mudado a sua organização, mas o “mindset” passou a ser outro. Pardew passou a sua habilidade para saber lidar com a pressão para o balneário e todos os “nutrientes” necessários para a enfrentar.
Os resultados são claros como água: traçando uma linha temporal que se inicia na altura em que mudou de treinador e terminando no último fim-de-semana, o Palace é a segunda equipa que mais pontos somou na Premier League (25, atrás do Arsenal, que somou 30).
Tudo começou com o poder de saber lidar com as exigências dos adeptos e direcção, manifestadas nas vitórias sobre o Tottenham, Burnley e Southampton que lhe sucederam, e está agora à vista o que é que esta equipa é capaz de fazer na plenitude das suas capacidades, atravessando uma forma absolutamente fantástica, com quatro vitórias consecutivas, as últimas duas particularmente impressionantes. A primeira em casa, ante o campeão City, onde venceu, justamente, por 2-1, e a segunda no terreno do Sunderland, indo ao Stadium of Light golear os anfitriões por 4-1, exibindo-se a um nível tão alto que o treinador comparou a performance da sua equipa à da selecção brasileira. Yannick Bolasie foi a figura do encontro, apontando 3 golos, mas a segurança e a confiança desta equipa são as verdadeiras razões por detrás do excelente momento que atravessa, tendo a manutenção praticamente assegurada, com 16 pontos para a linha de água quando há 18 para disputar, e estando no 11º lugar em que terminaram a última época. Os Eagles, agora, apontam à superação dessa marca, que parecia uma meta inimaginável há três meses atrás.
Sem pressão e a habilidade de lidar com ela, não se conseguiria conceber um cenário semelhante.
Uma hora e três minutos foi o tempo que o sonho benfiquista de conquistar a Challenge Cup durou.
Na Luz, era preciso um Benfica que se transcendesse para dar a volta à desvantagem de 3-1 vinda da Sérvia. No país balcânico, o Vojvodina tinha sido mais forte. O Benfica foi sempre uma equipa a correr atrás do prejuízo, só conseguindo equilibrar a partida no único set que ganhou. De resto, os sérvios provaram ser mais fortes.
Agora, num Pavilhão da Luz bastante composto, o Benfica tinha de entrar a ganhar. Vencer o primeiro set era obrigatório para continuar a sonhar. Os encarnados teriam de ganhar por 3-0 ou por 3-1 para empatarem a eliminatória e tentarem vencer a prova. Já o Vojvodina precisava apenas de vencer dois sets para se sagrar vencedor da Challenge Cup.
O primeiro set acabou por ser muito equilibrado. Os sérvios iam à frente no marcador, mas sempre por um ponto ou dois de vantagem. O Benfica voltava a correr atrás do prejuízo, mas ficava no ar a ideia de que era possível vencer este set e dar a volta a eliminatória. Os benfiquistas sonharam ainda mais quando o Benfica conseguiu dar a volta e chegar aos 24-23 depois de estar a perder por 20-23. Mas quando parecia que o Benfica tinha tudo para vencer o primeiro set, a equipa encarnada voltou a cometer os mesmos erros do início da partida, muitas falhas no serviço, o que permitiu aos sérvios dar a volta e vencer por 26-24. Com tudo na mão, o Benfica deixava escapar o primeiro set e bastava perder o segundo para ver o título fugir.
Talvez por ter deixado escapar assim o primeiro set, o Benfica entrou desorientado no segundo. A equipa demorou a encontrar-se e chegou a ter uma desvantagem de seis pontos. As alterações na equipa foram determinantes para o Benfica recuperar e chegar aos dois pontos de desvantagem. Mas mesmo assim não impediu o Vojvodina de vencer o segundo set por 25-21 e calar o Pavilhão da Luz. O sonho tinha acabado, a Challenge Cup já não escaparia aos sérvios, que foram superiores nos dois jogos. Para o Benfica restava agora lutar pelo orgulho e tentar vencer o jogo, por uma questão de honra.
Carregado por um pavilhão que nunca deixou de apoiar os jogadores, o Benfica deu a volta ao resultado. Já sem pressão, tudo saiu bem ao Benfica, que venceu os restantes sets por 25-16, 25-23 e 10-15. A equipa encarnada caía com honra, com os adeptos do Benfica a aplaudirem os atletas pelo esforço. O triunfo da equipa sérvia foi justo, pois foram melhores enquanto se jogou a sério. Ao Benfica faltou não cometer tantos erros, principalmente no serviço. Se as coisas tivessem corrido tão bem como correram depois de a eliminatória estar perdida, o Benfica poderia ter saído campeão.
No entanto, há que dar os parabéns aos atletas do Benfica pelo grande percurso que realizaram na Challenge Cup. Percurso quase imaculado, com apenas uma derrota, na primeira mão da final, honrado a instituição Benfica e o voleibol nacional. Hoje o Benfica é visto de forma diferente no mundo do Voleibol internacional. Aprende-se com os erros e espero que o Benfica tenha aprendido com estes dois jogos. Realçar mais uma vez os adeptos do Benfica, que foram enormes no apoio.