«Estava a treinar com um vazio enorme. Sentia que o Vitória não ia ficar na Primeira Liga» – Entrevista BnR com João Meira

-O sonho americano-

«Em Chicago há muitos mexicanos, e quando o Giovanni dos Santos entrou os adeptos começaram todos a bater palmas. Aqui, se calhar, se o Ronaldo for jogar à Luz, é cuspido e assobiado»

Bola na Rede: Tu já conviveste com realidades distintas no futebol e, por exemplo, estiveste na América durante dois anos. Como é viver e jogar nos EUA?

João Meira: É incrível, tudo ao contrário do que há aqui. Eu aqui nunca joguei num clube grande, mas lá as condições de trabalho são equiparadas às de um clube grande aqui. A tua vida, onde vives, só os clubes grandes pela Europa permitem viver como se vive na América, o dirigismo é de clube grande, chegas a dia 15 e a dia 30, porque lá é de duas em duas semanas o pagamento, e tens o recibo de vencimento na cadeira, já sabes que está na conta. Todos os meses tens uma ou duas aparências de marcas que te dão um extra, tens de assinar 40 camisolas e 50 bolas, até te cansa. Depois chegas ao fim de semana e tens os estádios cheios, estejas em último ou em primeiro, é sempre a mesma mentalidade.

Bola na Rede: Dirias que o nosso futebol, enquanto desporto, está mais desenvolvido, mas, nos EUA, o futebol enquanto negócio é melhor?

João Meira: Sem dúvida alguma. Arrisco-me até a dizer que, tirando os três grandes, o Braga e o Guimarães, não sei se está tão mais desenvolvido do que lá. Se fores a ver nos EUA, na frente, de três, tens dois de seleção, no meio, de três, mais um ou dois e atrás, de quatro, um ou dois também. Cá em Portugal, não tens tantos jogadores de seleção, e de seleções boas ainda por cima.

Bola na Rede: Antes a MLS era um pouco visto como uma liga para a reforma, agora já nem tanto.

João Meira: Exatamente. Na minha altura, já foi a transição. Antigamente, iam buscar jogadores experientes para fazer crescer a liga, quando eu cheguei já começaram a ir buscar jogadores mais novos, porque a liga já estava bem constituída, e alguns desses jogadores foram vendidos para a Europa.

Bola na Rede: Achas que o formato da MLS seria adaptável à Europa?

João Meira: Não acredito, porque prefiro os pontos corridos, mas na MLS acho justo ser assim. Como não há descidas nem subidas, o play-off faz-te acreditar, estando em sexto, que podes ganhar ao primeiro e ir a uma final. Também é diferente como é gerido: todos os clubes metem um depósito na MLS, a MLS é que paga os salários aos jogadores. Eu era jogador da MLS e não do Chicago Fire, o clube só tem os meus direitos.

Bola na Rede: Como assim?

João Meira: Imagina que eu estava em casa, com um apartamento alugado para um ano e liga-me um outro clube a dizer: “João, amanhã tens de te apresentar neste clube, fizemos a tua troca, tens de vir para aqui”, e tu tens um contrato, imaginando que estás a ganhar dez mil dólares em Chicago, que já é uma cidade cara, e podes ir para Columbus, em que o mesmo dinheiro vale mais, porque a vida é mais barata, mas se fores para Nova Iorque é o contrário.

Bola na Rede: Jogaste com o Bastian Schweinsteiger, uma lenda do futebol europeu e mundial. O que aprendeste com ele e como é que ele é fora do campo?

João Meira: Ele é um puro alemão, muito focado, muito exigente, falhas um passe de cinco metros e ele capricha, reclama em alemão. Não suporta o erro mínimo, aceita o que possa acontecer, mas o erro que controlas e facilitas não, e, nesse aspeto, gostei muito.

Bola na Rede: Jogaste contra o Kaká, Josef Martinez, Miguel Almirón, Alberth Elis, David Villa, Giovinco. Qual a sensação de defender alguns dos melhores avançados do mundo? Qual te deu mais trabalho e porquê?

João Meira: Joguei contra o Almirón e disse logo: “este não vai ficar aqui muito tempo”, ele e o Martinez. Eu, como central, evoluí muito na MLS porque todas as semanas jogava contra avançados de grande nome como Drogba, Altidore, Cyle Larin, mas sem dúvida alguma que o mais difícil era o Giovinco.

Bola na Rede: Baixo centro de rotação e rapidez complica a vida.

João Meira: Era um rato autêntico, não parava quieto. Quando pensava que chegava, ele já tinha soltado a bola, eu agarrava-o, ele picava-me, tínhamos sempre um duelo acérrimo.

Bola na Rede: Tinhas de lhe acertar logo nas pernas.

João Meira: Houve uma que mal lhe acertei e ele caiu logo, foi penalti. Ele é muito inteligente e ainda por cima os árbitros protegem muito as estrelas, mas o VAR veio ajudar agora a ajuizar os lances.

Bola na Rede: Já vias alguma coisa no Alberth Elis?

João Meira: Eu gostava muito do Elis, ele jogava no Houston Dynamo, uma equipa composta maioritariamente por latinos. Jogava ele, o Manotas, que chegou a ser associado a clubes portugueses e outro hondurenho cujo nome não me recordo [Romell Quioto]. Eles tinham boa equipa, mas fora de Houston perdiam muitas vezes. Não sei se era por causa das viagens, porque em Chicago fazia mais frio e em Houston mais calor, mas quando fui jogar a Houston eles atropelaram-nos. Os adeptos vibravam muito, tinham uma “barra brava”, era incrível, o Elis ficava um demónio, já o via com grande potencial.

Bola na Rede: Como é jogar com 100 mil adeptos? Viveste essa realidade?

João Meira: Não tive 100, mas tive 70. É incrível, é uma festa a todo o minuto. Nós aqui percebemos o jogo, eles nem tanto. A equipa pode estar a ganhar um a zero ou dois e eles querem sempre mais golos. Uma vez jogamos contra o Giovanni dos Santos, que jogava nos LA Galaxy, e, em Chicago há muitos mexicanos, e quando ele entrou os adeptos começaram todos a bater palmas. Aqui, se calhar, se o Ronaldo for jogar à Luz, é cuspido e assobiado.

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O Pedro é um apaixonado por desporto. Em cada linha, procura transmitir toda a sua paixão pelo desporto-rei, o futebol, e por todos os aspetos que o envolvem. O Pedro tem o objetivo de se tornar jornalista desportivo e tem no Bola na Rede o seu primeiro passo para o sucesso.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

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