«Estava a treinar com um vazio enorme. Sentia que o Vitória não ia ficar na Primeira Liga» – Entrevista BnR com João Meira

    -Um pré-Golden Boy aos 17 anos-

    «Nesse mesmo dia, peguei no telefone e mandei mensagem a um amigo meu que é agente a dizer: “atenção a este miúdo”. Ele disse-me: “achas que o conseguimos trazer para Portugal?”»

    Bola na Rede: Também jogaste na Noruega, onde o futebol não é o desporto-rei. Como te ambientaste?

    João Meira: Foi quando eu saí da MLS, tinha tudo e mais alguma coisa, com três contratos assinados e fui parar à Noruega. Não vou conseguir explicar a ninguém como aconteceu, porque não foi nada do meu controlo. Um foi erro do clube, outro foi um investidor que acabou por não comprar o clube e noutro foi um diretor geral que foi despedido e eu fui convidado a rescindir contrato. O primeiro foi para a segunda divisão de Inglaterra, o segundo para a segunda divisão espanhola e o terceiro para a segunda divisão italiana.

    Bola na Rede: Ficas sem grande opção.

    João Meira: Chego a Março sem clube, vou para a Noruega jogar três meses, cheguei lá, fiz um jogo, senti a coxa e tive de sair, praticamente sem pré-época, num sintético com muito frio. Fiquei um mês e meio parado, quando voltei ainda fiz dois ou três jogos, mas já não consegui, e, sinceramente, já não estava para aí virado. Quando estamos lá não damos tanto valor, mas tive a felicidade de jogar com vários miúdos com um potencial enorme, que hoje em dia estão a chegar a grandes clubes na Europa. Logo no primeiro jogo quando cheguei, defrontamos o Molde…

    Bola na Rede: E eu ia mesmo falar no Haaland.  Acompanhaste a progressão dele? Já vias talento quando ele jogava na noruega?

    João Meira: Eu estava na bancada com o meu empresário e com um colega que também falava português e perguntei: “quem é aquele rapaz?”, e eles disseram: “ele tem 17 anos”. Eu perguntei:” 17 anos? Não pode ser” e fui ao TransferMarkt ver e fiquei abismado. E o treinador era o Solskjaer.

    Bola na Rede: É um monstro autêntico, um animal competitivo.

    João Meira: Com 17 anos, o à vontade que ele tinha em campo, a experiência e a ratice de bater, canhoto, forte, grande, muito bom jogador.

    Bola na Rede: Já era um jogador de Dortmund e ainda jogava na Noruega?

    João Meira: Titular não, mas suplente talvez. Nesse mesmo dia, peguei no telefone e mandei mensagem a um amigo meu que é agente a dizer: ”atenção a este miúdo”. Ele disse-me:” achas que o conseguimos trazer para Portugal?”, e eu disse: “ não sei se ele se vai adaptar em Portugal, não faço ideia”, porque é muito difícil um miúdo norueguês adaptar-se em Portugal, é um contexto muito específico.

    Bola na Rede: Ele chegou a tentar trazê-lo para Portugal?

    João Meira: Ele ficou tentado a trazê-lo, esteve a ver uns vídeos dele para o colocar numa equipa ‘B’ ou Sub-23.

    Bola na Rede: Que ideia absurda hoje em dia pensar no Haaland numa equipa ’B’ ou Sub-23. Mas bem, além da Noruega, jogaste na Roménia, o que achaste?

    João Meira: O meu clube tinha condições que muitos aqui em Portugal não têm, mas utilizava-as como se fosse um clube do bairro, muito mau mesmo. Nós tínhamos uma academia de treino com três campos relvados, quartos para descansar, cada jogador tinha o seu quarto, ginásio, posto médico… e depois o nosso estádio era um sintético. Se precisava de alguma coisa, era no dia seguinte. E no dia seguinte, era novamente no dia seguinte. Não gostei nada, não me adaptei ao grupo, lidei com três/quatro latinos, mais um cabo-verdiano que está agora em Portugal, o treinador mal falava connosco, não havia conexão, não valeu a pena.

    Bola na Rede: Essas experiências no estrangeiro trouxeram um novo João Meira a Portugal?

    João Meira: Sim, mais maduro, a dar mais valor a certas coisas que não dava, mas a experiência que me deu o clique foi esta da Roménia. A da América foi um conto de fadas, a da Noruega foi uma oportunidade que não correu bem e que esperava que superasse com outra e a da Roménia foi uma daquelas que, se falhas agora, já não te levantas. Eu falhei, apesar de ter jogado, porque o clube desceu, era inevitável, mas felizmente a porta do Vitória abriu-se, apesar de eu nunca esperar que se fosse abrir.

    Bola na Rede: Porque não ficas na América?

    João Meira: Eu estava sozinho, e, quando estamos bem na carreira, pensamos sempre que podemos atingir mais, e eu acreditei que podia ir ganhar mais dinheiro ou podia ir para uma liga superior. O Championship dava-me mais dinheiro e era uma liga melhor, mas não se concretizou, e foi só por isso. Eu tinha proposta da MLS, e três propostas de outros clubes onde podia ser incorporado, e do Chicago também.

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    Pedro Pinto Diniz
    Pedro Pinto Dinizhttp://www.bolanarede.pt
    O Pedro é um apaixonado por desporto. Em cada linha, procura transmitir toda a sua paixão pelo desporto-rei, o futebol, e por todos os aspetos que o envolvem. O Pedro tem o objetivo de se tornar jornalista desportivo e tem no Bola na Rede o seu primeiro passo para o sucesso.                                                                                                                                                 O Pedro escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.