«Sair do FC Porto foi uma das piores decisões que tomei no futebol» – Entrevista BnR com Telmo Castanheira

    «Acho que o futebol da Islândia acabou por me fazer um jogador mais completo»

    Bola na Rede: O estilo de jogo praticado no teu clube e nos clubes islandeses em geral é muito diferente do futebol jogado em Portugal?

    Telmo Castanheira: Considero, é um futebol mais intenso e físico, menos técnico e pensado. Deve-se muito também à qualidade dos treinadores em Portugal, acho que é um ponto a favor para o nosso país, trabalha-se muito bem. O jogador, como vem de boas formações, com bons treinadores, o jogador português tem mais cultura de futebol e mais cultura tática. O jogador islandês tem mais força, fisicamente são superiores, o jogo torna-se físico, mais rápido e com mais erros. Essas são as principais diferenças, o futebol português mais técnico e tático, o futebol islandês mais físico, rápido e agressivo.

    Bola na Rede: Agrada-te esse estilo de jogo da Islândia?

    Telmo Castanheira: Sim, tive de me adaptar, eu consigo trazer um pouco do meu futebol, já vou para a minha quarta época, nunca serei como eles, que conseguem disputar o jogo todo a duzentos, mas já consigo ser combativo e entrar no jogo físico como eles. Trago um pouco da nossa cultura, do nosso jogo com bola e eles gostam muito, porque trago algo de diferente ao futebol deles, no fundo é por isso que eles me querem na equipa.

    Bola na Rede: Tive a oportunidade de ver alguns clipes teus, pelo que vi, de alguns lances teus, és um jogador com bastante técnica!

    Telmo Castanheira: Sim, eu, em Portugal, fiz a formação no Porto e sempre joguei em posições mais avançadas. Sempre tive boa relação com a bola. Ficava um pouco a desejar em termos de intensidade e de dinâmica na recuperação de bola, e foi algo que, ao longo da carreira, fui insistindo nisso e melhorando. Na última época, no Trofense, já estava a um nível muito bom nisso, em termos de recuperação de bola e dinâmica, a jogar mais a box-to-box ou mesmo a seis. Nos aspetos defensivos estava muito bem, na minha opinião, e depois com bola foi algo que sempre me senti à vontade, desde sempre. Quando chego à Islândia, já estou numa fase mais preparada, sem bola em termos defensivos, porque trabalhei muito para melhorar isso. Mesmo assim, desde que cheguei à Islândia, considero que melhorei bastante, porque eles são muito agressivos e fortes. Acho que o futebol da Islândia acabou por me fazer um jogador mais completo.

    Bola na Rede: Consideras a paragem entre o final do campeonato e o início do próximo um pouco longa demais ou achas que se adequa? Achas que existem dias de competição suficientes para manter o ritmo competitivo?

    Telmo Castanheira: A paragem deve-se muito ao clima, porque é mesmo muito difícil jogar de novembro a janeiro, por causa das condições naturais. Agora, eles têm os campos indoor, e acho que cada vez vão ter mais, mas nem todas as equipas têm, o problema é esse. Muitas equipas estão a mudar para relva artificial, de nova geração, para poderem jogar durante mais tempo, porque a relva com a neve acaba por queimar-se muito. Eles já alargaram o campeonato, vai começar em abril, e a tendência será de continuar a alargar, criando as condições para isso. Portanto, eles próprios têm a noção que devem alargar o campeonato e estão a criar condições nesse sentido. Eu sinto que o campeonato é muito curto, os jogadores precisam de mais jogos para evoluir e os próprios clubes, para o campeonato se tornar mais competitivo e até mais apelativo para os outros campeonatos, para contratarem os jovens jogadores, eles precisam de ter mais jogos nas pernas!

    Bola na Rede: Mas, nesta fase, ainda não podemos dizer que estás em fase de pré-época?

    Telmo Castanheira: Não, eu até estou em Portugal, neste momento. Volto no final de janeiro. Eles começam a treinar mais cedo, mas deixam-me ficar a preparar-me aqui, como não há competição nesta altura, eles deixam os estrangeiros regressar mais tarde.

    Bola na Rede: Achas que o frio prejudica muito a adaptação dos futebolistas vindos de fora da Islândia?

    Telmo Castanheira: Sinceramente, no meu caso, adaptei-me ao frio. O que condiciona mais é o vento, porque nos dias em que está muito vento, lá consegue ficar um vento muito forte, condiciona completamente o jogo, prejudicando o futebol de jogadores mais técnicos. Porque, às vezes, temos de mudar completamente o nosso jogo. O jogo pode ser de tal forma condicionado, que apesar de uma equipa ser favorita pode ficar uma parte sem conseguir sair do meio-campo, por estar a jogar contra o vento. O vento acaba por condicionar mesmo, muito mais que o frio.

    Telmo Castanheira irá para a sua quarta época no ÍBV
    Fonte: Telmo Castanheira

    Bola na Rede: Então as equipas que conhecem bem o seu próprio estádio, acabam por poder jogar com isso?

    Telmo Castanheira: Sim, isso são curiosidades da Islândia, mas é algo que, com o tempo, vamos aprendendo. Eles já estão habituados, veem se está vento e se vão jogar a favor ou contra, na primeira parte, depois há todo um plano à volta disso. É curioso, mas existe, o estilo de jogo muda e até o próprio treinador pode mudar a tática, caso esteja a jogar contra o vento, fechando mais a equipa e a sair na transição, e na segunda parte ataca com tudo, porque jogam a favor do vento. Pode existir este cenário.

    Bola na Rede: Qual foi a temperatura mais baixa a que já jogaste, tens a noção?

    Telmo Castanheira: Já joguei com graus negativos, com dois ou três graus negativos, a sensação térmica é pior. Eu tive um colega, o Rafael, que agora está na Noruega, ele até já tinha estado no país, e dizia que já tinha apanhado temperaturas como vinte graus negativos, mas onde sentia mais frio era na Islândia, talvez, pelo vento ou pela própria sensação térmica, acho que é pior do que a própria temperatura em si.

    - Advertisement -

    Subscreve!

    Artigos Populares

    André Filipe Antunes
    André Filipe Antuneshttp://www.bolanarede.pt
    O André é licenciado em Marketing e Publicidade e um fã incondicional de ciclismo. Começou desde pequeno a ter uma paixão pelo desporto, através do futebol. Chegava a saber os plantéis de todas as equipas da Primeira Liga! Com o tempo, abriu-se o horizonte e o interesse para outros desportos, como o Ciclismo, o Futsal e, mais recentemente, a NBA. Diz que no Ciclismo existem valores e táticas que mais nenhum desporto possui e ambiciona um dia ter a oportunidade de assistir ao vivo a um evento deste calibre.