«Ser treinador do Porto e ganhar é competência, ser treinador do Braga e ficar em segundo é um milagre» – Entrevista BnR com Domingos Paciência

    -Das comparações ao SC Braga de Abel, aos filhos e desafios futuros-

    «Ainda não me bateu à porta aquela oportunidade que eu achasse que era a ideal»

    BnR: Compara-se muito o Braga de Abel com o Braga do Domingos. Acha que são justas essas comparações?

    DP: Em termos de resultados não haja dúvidas que sim. O Braga de hoje está muito mais próximo do título do que estava há uns anos atrás. O Braga hoje luta contra o Benfica, Porto e Sporting. Já não é aceitável que o Braga perca com as outras equipas. Este Braga tem bons jogadores, tem jovens com uma margem de crescimento muito grande. Contrariamente, no meu Braga tinha jogadores no auge da sua carreira. A diferença é essa. Eram jogadores com mais maturidade na abordagem ao jogo e depois sentia-se isso nos jogos. O meu Braga era maduro, era experiente, sabia o que queria e fazia isso às equipas grandes.

    BnR: Então acha que o SC Braga de agora é mais um projeto de continuidade?

    DP: O Braga nesta altura, tinha oportunidade para ser um Braga diferente, bastava criar uma onda de euforia. Depende muito dele.

    Apesar de admitir semelhanças no que toca a resultados, Domingos aponta as diferenças do seu Braga e do de Abel
    Fonte: SC Braga

    BnR: Acha que o Braga será cronicamente o “o quarto grande”?

    DP: O Braga se continuar assim é para lutar com o Sporting pelo título do terceiro lugar. Vamos ver essa aproximação que o Braga pode fazer e apostar nos próximos anos.

    BnR: Agora em relação à seleção nacional e à chamada do Dyego Sousa. Saíram umas declarações suas que diziam que “se fosse selecionável ficaria triste”. Acha que, por exemplo, o Paulinho, companheiro de equipa no Braga ou até o Gonçalo Paciência ficaram afetados com essa convocatória?

    DP: Eu acredito que o Paulinho do Braga tenha ficado contente por o Dyego ter ido à seleção porque é colega de equipa e amigo, mas perguntem ao Paulinho em termos do que é o sonho dele, se ele não ambiciona ir para a seleção. Eu conheço o Dyego há já muitos anos, na altura ele estava no Nacional da Madeira e já na altura vi no Dyego coisas de um excelente jogador e que gostaria de ter na minha equipa. Tem provado o seu valor e é fruto do trabalho dele. A única coisa é que nós vemos que se apostou muito na formação em Portugal. As seleções de formação estão constantemente nas finais do campeonato da Europa, do Mundo, dos Jogo Olímpicos. Tudo isto, envolve um processo de jogadores que têm um percurso na seleção. Eu se fosse um desses miúdos pensava “vou marcar golos, vou jogar e há ali mais uma vaga que está tapada”. É mais nesse sentido, porque eu não tenho nada contra o Dyego. Eu tenho muito orgulho em ser português, de ser Leça de Palmeira, de ser do Porto, de ser do meu país. Se me dissessem “queres naturalizar-te pelo Chipre”, eu dizia não, porque o meu sonho é jogar pela seleção portuguesa. Eu sei que o Gonçalo, partilhou há uns dias a ideia de que acha muito bem essa convocatória. Mas pronto, é uma forma de estar diferente, eu tenho a minha forma de pensar diferente. Outro exemplo, o Éder é um caso muito especial no futebol português porque deu o maior título da história do futebol português e nem selecionado é.

    BnR: Já que falamos do Gonçalo, aproveito para perguntar quais é que acha que são as principais diferenças entre ele e o seu filho mais novo, o Vasco, dentro de campo?

    DP: O Vasco, pela fisionomia, pela forma de ser, pela forma como joga é mais parecido comigo. Mas agora também sinto que o Vasco está a ficar mais parecido com o Gonçalo (risos). Mas são dois jogadores diferentes. Acho que o Gonçalo está preparado para um jogo físico se tiver que ser físico e competitivo. É evidente que há aspetos que estão nos genes, que saem a mim. Por exemplo, eu nunca fui um jogador muito agressivo em termos de trabalho defensivo e eles nisso também não o são, não são agressivos. Eles privilegiam a qualidade e a técnica, mas tanto um como o outro têm qualidade e vamos ver o que o futuro o dirá, principalmente o Vasco que ainda está numa fase de potenciar o seu talento.

    BnR: Vou recuperar umas declarações do Gonçalo: “Para mim e para o meu pai, foi uma sensação estranha ao início, porque ambos tínhamos jogado no FC Porto muitos anos e o Benfica é um grande rival”. Estranhou a ida do Vasco para o Benfica?

    DP: Estranhar, estranhei, mas isso foi sempre comentado e mereceu o aval da família toda. Há uma coisa, o Vasco não traiu ninguém. Ele apenas investiu naquilo que é o seu sonho e se houve traição aqui a alguém foi ao Boavista, porque o Vasco sai do Boavista para o Benfica, não foi do Porto para o Benfica. O Vasco foi para o Boavista por não ter espaço onde jogar e ao fim de quatro meses o Vasco prova que quer procurar algo na carreira dele e fez no Boavista golos. O Jorge Simão ajudou e muito. Em julho poderíamos dizer que o Vasco estaria desesperado e muito triste por aquilo que estava a acontecer na vida dele e em dezembro ele sente-se valorizado e que a vida dele pode mudar.

    Vasco Paciência assinou contrato com o Benfica até 2023
    Fonte: SL Benfica

    BnR: Costuma ver os jogos de perto e dar conselhos?

    DP: Os jogos vejo, de vez em quando falamos e comentamos determinadas situações em jogo. Damos o parecer em harmonia, sabem perfeitamente que não há maldade, obviamente que não é para criticar é mais para corrigir. Eles pensam o jogo da mesma forma do que eu. Às vezes eu vejo-os e reparo “ele pensou isto que era aquilo que eu pensaria”.

    BnR: Neste momento, não treina por opção?

    DP: Sim é por opção. Felizmente tenho recebido propostas ao longo deste ano que estou parado. Ainda não me bateu à porta aquela oportunidade que eu achasse que era a ideal.

    BnR: Fez 50 anos em janeiro, meio século de vida. Certamente que é um período de maior reflexão. Como é que olha para o seu percurso e que balanço faz da sua carreira tanto como jogador como treinador?

    DP: Orgulhoso sempre por aquilo que eu fiz. Sinto que eu poderia ter sido melhor. Se hoje aparecesse um jogador como eu ou como o João Vieira Pinto acho que valeríamos muitos milhões. Poderia ter sido melhor jogador? Sim. Houve momentos de decisão da minha carreira que talvez não tenham sido os melhores, momentos de lesões que foram obstáculos. E também na carreira como treinador se calhar não tomei as melhores decisões, mas também valeu pela experiência, valeu pelos momentos que se viveram e por isso não me arrependo de nada. Acho que o que hoje faz de mim uma pessoa diferente, foi o percurso que fiz como jogador e treinador. Não me arrependo de nada, nem sei o que vai ser o dia de amanhã, pelo menos sei que vivi emoções, coisas diferentes, momentos muito bons, momentos menos bons, mas a vida é mesmo isto.

    Domingos olha em frente para um futuro incerto, mas orgulhoso do seu percurso e sem arrependimentos
    Fonte: Catarina Guimarães/ Bola na Rede

    BnR: Para terminar, o que é que acha que ainda está por vir?

    DP: Era mais 50 anos (risos). Mas não sei, não sei o que está por vir porque não sei o que me vai aparecer no caminho em termos de projeto, em termos daquilo que possa ser a minha decisão. Hoje nós tomamos decisões muito em função daquilo que é a nossa qualidade de vida e a sua nossa qualidade de vida depende muito da questão familiar, acho que essas decisões têm de ser tomadas em função disso. E eu neste momento tomo-as, tenho em consideração o aspeto familiar e logo veremos o que o tempo me trará.

    Foto de Capa: Catarina Guimarães/ Bola na Rede

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.