ECONOMIA, CONTROVÉRSIA E TRAGÉDIA – O PROCESSO DE CANDIDATURA
#TbtEsportivo de hoje volta no tempo, mais precisamente para 17 de setembro de 1988, data de abertura dos Jogos Olímpicos de Seul, que contou a participação recorde de 159 países e 8.391 atletas!
⠀#OEsporteNosUne #JogosOlimpicos #Seul1988 #Olimpiadas #TBT #MomentosdoEsporte pic.twitter.com/pUIU0K9Rk6— Jornalismo Esporte Clube (@JorEsporteClube) September 18, 2020
Falar de Jogos Olímpicos é também abordar o processo até à preparação da competição. Isto é, a candidatura, os porquês, o interesse, entre outros fatores que um país organizador deve ter em conta antes de apresentar a sua posição de candidato. A Coreia do Sul não vivia tempos fáceis nos anos 80, sendo que, era imperativo um ‘fator X’ que catalisasse as contas coreanas, ou seja, o PIB (Produto Interno Bruto).
Sim, caro leitor, nem sempre se fala em paixão no desporto, ou de momentos épicos, de recordes, etc…Não obstante, curioso ou não, foi a paixão que fez com que Seul fosse o palco dos Jogos de 1988. E com esta afirmação deixo o repto, como se processou a candidatura dos sul coreanos?
Pois bem, a candidatura de Seul motivou-se, desde já, por vários motivos. Ora, depois do sucesso dos Jogos de Tóquio (1964), a Coreia do Sul assistia com bons olhos uma possível organização da competição, com vista a tentar impulsionar o país na esfera global, com o desenvolvimento de novas infraestruturas, e com a obtenção de patrocínios que abatessem o investimento efetuado. Em acréscimo, o sucesso desportivo nos mundiais das mais diversas modalidades poucos anos prévios às olímpiadas (Campeonato Mundial do tiro em 1978, e do Basquetebol feminino em 1979), em conjunto com o crescimento global do desporto no país, acabou por ser motivos suficientes para os sul coreanos acreditarem (ou sonharem) com várias subidas ao pódio em 1988.
Com isto, retomamos o aspeto económico, que se tornou – nos tempos que correm – algo indissociável no mundo do desporto, ao passo que, todos os dias temos cada vez mais exemplos para nos elucidar disso mesmo (ainda nos está bem fresquinho na memória a SuperLiga caro leitor). Por vezes, contudo, não tem que significar a ganância do exemplo anterior, na medida em que o país asiático utilizou da melhor maneira a «plataforma» Jogos Olímpicos de modo a alavancar o país, não só em termos financeiros, como também desportivos.
Economia, desporto…Ah e controvérsia!
Em Seul, a Coreia do Norte quis sediar algumas provas da competição que aconteceria em seu homónimo capitalista (Coreia do Sul). Contudo, a ideia dos socialistas foi refutada pelos sul-coreanos e também pelo Comité Olímpico Internacional. Resultado: boicote. Os norte-coreanos não ficaram agradados com a decisão e decidiram boicotar os Jogos em protesto, ao passo que foram acompanhados por Cuba, Nicarágua, Etiópia, Madagascar e Ilhas Seychelles nesta decisão.
De sublinhar, no entanto, (já que falamos de boicotes) que houve um aspeto muito positivo nestes Jogos Olímpicos, uma vez que não houve – pela primeira vez desde 1976 – nenhum boicote das «potências» E.U.A, URSS ou República Federal Alemã.
Mas, depois da controvérsia…eis a tragédia.
#OTD Oct. 26th, We honor to remember the President Park Chung-hee who passed away 41yrs ago. President Park has settled & implemented the foundings of industrial revolution for S.Korea and strengthened the ROK-US alliance. #neverforget pic.twitter.com/W27MWtNjwZ
— Dong Yon Kim/김동연 기자 (@dongyonews) October 27, 2020
O assassinato do presidente da república Park Chung-hee, apenas dezoito dias após o lançamento da candidatura forçou os sul coreanos a repensar a ideia dos Jogos Olímpicos. Ainda assim, o ceticismo não comprometeu o projeto, e em dezembro de 1980 Seul foi confirmada como cidade candidata, ao lado de Melbourne, Atenas, e Nagoya. Melbourne e Atenas, porém, retiraram as suas candidaturas ainda no início do processo. Ou seja, a batalha para conquistar o direito a ser o ‘palco’ dos Jogos de 1988 foi entre Seul e Nagoya.
Seul estava tormentado, ainda para mais, com questões de discrepâncias entre as análises iniciais e o relatório enviado ao COI, principalmente na questão financeira. Apesar disso, o ministro da educação sul coreano – uma das principais vozes da candidatura – adotou uma posição firme, e afirmou que a retirada de Seul acabaria com a reputação da Coreia do Sul no cenário internacional.
A conjuntura política/económica da Coreia do Sul era, deste modo, vista como um ponto negativo na candidatura, favorecendo a adversária Nagoya (Japão), porém, o governo sul coreano confiava em dois aspetos chave: o projeto desportivo aliciante e a forte possibilidade de desenvolvimento do país.
Por fim, a tão desejada decisão. Através de uma campanha de persuasão fantástica promovida pela delegação sul coreana aos membros do COI, Antonio Samaranch – presidente da COI – declarou a vitória à cidade de Seul. De ressalvar a desilusão japonesa, que apresentou um projeto e uma ideia «fria», pouco convicente e demasiado confiante.
Assim sendo, é caso para dizer que o projeto apaixonante sul coreano destronou o candidato desalmado japonês.