Tadej Pogačar renova título e aproxima-se do consílio dos deuses

    A ODISSEIA DE SUPERIORIDADE DE UM POGI DE LUXO

    É caso para se dizer que foi sem espinhas. O chefe de fila da UAE-Team Emirates arrecadou três vitórias em etapa, isto para além da camisola branca (melhor jovem) e da camisola da montanha (melhor trepador). Na estrada, nem por isso se verificou uma repetição de 2020, já que Pogi, juntamente com uma equipa apetrechada de talento, controlou do início ao fim os seus rivais diretos de uma forma bastante autoritária.

    Indiscutivelmente contou com mais colegas capazes de o ajudar, destacando-se o excelente trabalho de Rui Costa como parte importante desta vitória. Dividindo a história de felicidade por partes, o plot twist que todos percebemos depois de observar o resultado final começou a desenvolver-se ao fim de uma primeira semana diabólica, onde o campeão em título abriu uma margem gigante para os seus adversários com um ataque a 30 quilómetros da meta, expondo a consciência de todo e qualquer espectador assíduo de que a missão de destronar o miúdo seria muito difícil.

    Com o abandono de Primož Roglič devido a queda, sendo talvez o único corredor do panorama atual ao nível de Pogačar, e as próprias sequelas físicas que a Ineos-Grenadiers sofreu no início da competição, fruto dos tais momentos de infortúnio, facilitaram a vida a um jovem destemido que demonstrou ser muito melhor que os seus oponentes, registando inúmeros momentos de superioridade e raros cliques de contenção.

    Esta vitória representa bem a hegemonia que o pequeno campeão da região de Komenda vai construindo, e se pensarmos até onde pode chegar, até assusta. Duas vitórias com apenas 22 anos de idade e estatisticamente com mais dez anos de “auge” para se aproximar dos recordistas acima mencionados. Será capaz de lá chegar? Esta superioridade para os demais vai continuar a ser uma realidade? O Tour 2021 foi como colocar uma pedra sobre a folha de potenciais candidatos a destronar o novo rei dos voltistas.

    Sobre a corrida, as tais lesões incapacitantes depois de uma queda aparatosa na etapa três retiraram qualquer possibilidade a Rogla de lutar de igual para igual com o seu compatriota, abrindo espaço para a revelação da competição, o dinamarquês Jonas Vingegaard. Depois de se evidenciar no inicio da época, no UAE Tour 2021, o plano passava por ser escudeiro do vice-campeão do Tour, mas a situação de corrida lançou-o aos lobos e a resposta dificilmente poderia ter sido melhor.

    Richard Carapaz completou o pódio de um Tour algo desapontante para a formação mais rica do pelotão. Incapazes de ferir o domínio esloveno pelo segundo ano consecutivo, a turma britânica nem uma vitória de etapa conseguiu arrecadar, ao passo que, por exemplo, a Jumbo-Visma levou quatro. Ainda dentro do top10, destaque para uma classificação final, que em relação a outros anos, se viu influenciada por diversas fugas e registou margens de tempo um pouco atípicas.

    Para além da presença de puros voltistas como Rigoberto Urán, Pello Bilbao, Wilco Kelderman ou Enric Mas, os pontos de maior destaque vão para Alexey Lutsenko, Ben O´Connor e Guillaume Martin. O primeiro surpreendeu pela consistência em alta montanha: O cazaque da Astana-Premier Tech é conhecido pelas suas qualidades em provas de um dia e de uma semana, mas desta vez correu três semanas como nunca antes tinha feito. Já o australiano da AG2R Citroen e o francês da Cofidis, apesar de serem escaladores de qualidade, viram os seus destinos cruzarem-se com uma possibilidade de terminar numa boa posição na geral e a consistência que apresentaram tratou do resto.

    O mais engraçado é que a classificação geral começou a definir-se desde muito cedo e poucas oscilações registou. Mexidas em fugas, momentos maus de Urán ou Mas, superioridade gritante de Pogačar, Vingegaard e Carapaz na segunda metade da prova e uma discrepância acentuada em termos de espetáculo se dividirmos a competição em dois.

    Em termos de etapas chave, a performance de Pogačar no contrarrelógio da jornada cinco e na etapa de montanha número oito foi essencial para o seu triunfo: as diferenças de tempo superiorizaram-se a cinco minutos no total, cavando um fosso impossível de fechar. Com a particularidade das poucas chegadas em alto, apesar de muita dificuldade, nunca ninguém pareceu capaz de colocar a amarela em risco, apesar de Vingegaard ainda ter dado um ar da sua graça no topo do Mont Ventoux.

    É impossível não constatar o quão entediante foi a luta pela vitória final, pelo pódio e até pelas posições dentro e na tentativa de entrar no top10, daí que o foco de emoção tem de estar direcionado a outras componentes de uma corrida que ofereceu ao adepto comum muito com que se divertir, inclusive um recorde que muitos pensavam ser inatingível.

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    Ricardo Rebelo
    Ricardo Rebelohttp://www.bolanarede.pt
    O Ricardo é licenciado em Comunicação Social. Natural de Amarante, percorreu praticamente todos os pelados do distrito do Porto enquanto futebolista de formação, mas o sonho de seguir esse caminho deu lugar ao objetivo de se tornar jornalista. Encara a escrita e o desporto como dois dos maiores prazeres da vida, sendo um adepto incondicional de ciclismo desde 2011.