«Koeman chamou-me e disse “És dos únicos que tem qualidade para estar aqui”» – Entrevista BnR com João Coimbra

    «A verdade é que não tive muito apoio do Benfica»

    Bola na Rede: Depois do Benfica, vem o Nacional, e como tu afirmaste há um bocado, viste como uma oportunidade, a verdade é que só fazes dez jogos. O que correu mal?

    João Coimbra: Eu não gosto de atribuir culpas a outros, a verdade é que, como disse há pouco, nunca fui forte mentalmente, especialmente nessas idades, só a partir dos 27/28 comecei a ser mais forte, curiosamente numa fase que não voltei a ter as mesmas oportunidades. Atribuo muita da culpa a mim, talvez por em determinados jogos me ter escondido quando me devia ter assumido mais. A verdade é que não acredito que tenha tido a sorte no treinador que apanhei, apesar de não gostar de falar muito disso, porque apesar de tudo ainda me deu algumas oportunidades. Algumas aproveitei, outras não. A verdade é que não tive muito apoio do Benfica. Era uma fase diferente da que está agora. Eu quis sair do Benfica, na altura porque achava que podia jogar, que podia ter mais e melhores oportunidades, a verdade é que me senti um bocado abandonado no clube. Eu tive durante um ano na Madeira e não recebi uma única mensagem/chamada da parte do Benfica. Acabou a época e recebi uma mensagem, do senhor Shéu, e a mensagem escrita dizia para me apresentar um mês depois da equipa. Ou seja, fui emprestado, mas senti-me completamente abandonado. Tanto que em janeiro tinha tido problemas com o treinador, que era o Jokanovic, e tinha na minha mente ser emprestado a outro clube, mas da parte do Benfica nem uma palavra sequer a perguntar como estava e como não estava. Mas lá está, são outros tempos.  Acredito que as coisas agora não sejam iguais para quem está emprestado, e dou muitas vezes o exemplo do ano a seguir em que estive no Gil Vicente. Na altura o Benfica fez um acordo com o Marítimo. O Benfica tinha algo em falta com o Marítimo, por causa do Manduca, acho eu, e fui eu, o Paulo Jorge e o Manú para o Marítimo, mas na altura, entrou também um treinador brasileiro que não conhecia de lado nenhum. Estive duas semanas parado na pré-época por causa de uma lesão e, passado uma semana, fui emprestado ao Gil Vicente. O Gil Vicente tinha dois ou três jogadores emprestados pelo Porto, o Zequinha, o Ivanildo… e era totalmente diferente o apoio que o Porto dava. O Porto tinha, se fosse preciso, pessoas a entrar no nosso balneário a perguntar como os jogadores estavam. Aí notei muito bem a diferença entre uma estrutura e outra, nessa altura claro. Espero eu que esteja agora muito diferente.

    Bola na Rede: Dizes que se tivesses aparecido dez anos mais à frente, tinhas tido outra sorte… 

    João Coimbra: Acredito que sim, para já, os jogadores de hoje em dia estão sujeitos a uma pressão para mim menor, apesar de ser maior em termos de redes sociais, de haver mais conflitos… mas digo menor que estão sujeitos a isso desde os dez anos. São acima de tudo vistos por todo mundo desde os 11/12 anos. Eu quando cheguei a uma equipa de futebol profissional do Benfica, a maior parte do país não me viu jogar, enquanto que um João Félix chega a uma equipa principal do Benfica e todo o país viu jogar, quase o mundo até, pela Youth League, pela BenficaTV, por tudo. Tudo o que eles têm a mostrar, aliás, não têm nada a mostrar, tem de mostrar o que mostraram antes. Na minha altura tinha de mostrar algo para que todas as pessoas vissem. Naquela altura não havia ninguém que me conhecesse. Era uma pressão diferente, e fico contente por hoje ser diferente. Mas acima de tudo, volto a referir que, cheguei onde sonhei chegar, não me consegui manter e aí atribuo a culpa, 80% a mim próprio, muito do que falamos, mas fico um amargo mais por sentir que muitos amigos podiam ter chegado. Até dou um exemplo, na minha altura muitos chegaram do Sporting, e estou a falar de Miguel Veloso, João Moutinho, Nani, Djaló… mas também temos que ver porquê. Porque quem entrou nesse ano para treinador do Sporting, foi Paulo Bento, alguém que tinha sido treinador deles nos juniores. Lá está como não havia tanta visibilidade como agora, quem entrasse nos clubes não tinha bem noção da formação dos jogadores que poderia ter, e não havia esse tempo para ver como seriam. Dou o exemplo do Sporting onde o Paulo Bento já os conhecia muito bem, tinha sido campeão de juniores com todos eles.

    Bola na Rede: Talvez como aconteceu com o Benfica com o Lage, que apostou em alguns jogadores da formação… 

    João Coimbra: É totalmente diferente aí também um João Félix subir a uma equipa principal do Benfica e ter lá Rúben Dias e companhia, tanto jogadores de formação, do que chegar lá cima sozinho e ter Simão, Rui Costa, Nuno Gomes, e companhias que nunca ouviram falar nele, e quase que tinha de tratar por senhor não é. Mas lá está, felizmente que é diferente hoje em dia, as coisas estão melhores, porque jogadores portugueses e jogadores do Benfica terem mais qualidade na formação e assim abre mais possibilidades de jogadores chegarem à equipa principal.

    Bola na Rede: Depois da Primeira Liga, vais para a segunda divisão, ao ires para o Gil Vicente, foi difícil aceitar o facto de desceres ao segundo escalão?

    João Coimbra: Não, sinceramente, eu queria jogar, era jovem, e eu queria era jogar. As coisas não correram muito bem, queria tentar dar um passo atrás para voltar a dar dois em frente mais tarde. É curioso, lembro-me que na altura estava no Nacional, fui para o Marítimo e surgiu o Gil Vicente, e recordo ainda as palavras de uma conversa que tive com o Patacas, que tinha sido o meu capitão no Nacional, e falei-lhe da situação. Recordo até hoje as palavras dele, disse “João, se fores para a segunda liga, nunca mais sais de lá”. E a verdade é que só voltei a sair da segunda liga, porque estive numa equipa que subiu de divisão, o Estoril. Felizmente entrei depois para o Estoril, a verdade é que as palavras dele fazem até hoje sentido. Também não tive muita sorte no Gil Vicente, no primeiro jogo que fiz tive uma entorse no pé, tive um mês e meio parado e, quando voltei, levei uma porrada no pé, tive mais um mês e meio parado, o que só me permitiu fazer praticamente a segunda volta. Tive algum azar nesse sentido.

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    João Pedro Gonçalves
    João Pedro Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Quem conhece o João sabe que a bola já faz parte dele. A paixão pelo desporto levou-o até à Universidade do Minho para estudar Ciências da Comunicação. Tem o sonho de fazer jornalismo desportivo e viver todos os estádios.