«Koeman chamou-me e disse “És dos únicos que tem qualidade para estar aqui”» – Entrevista BnR com João Coimbra

    «Posso dizer que sou benfiquista desde pequeno, mas sou do Estoril desde o dia em que assinei contrato com eles»

    Bola na Rede: O Estoril foi uma relação que perdurou e foi bonita. Na primeira época apanhas o Professor Neca, o segundo treinador dessa época, não és dos jogadores absolutos do onze, mas por causa de um golo perdes um lugar do onze. Queres contar?

    João Coimbra: Eu gosto muito do Professor Neca, ele tinha sido meu treinador no ano anterior no Gil Vicente e, como pessoa, espetáculo, gosto muito dele, mas tem uma visão muito própria do futebol, muito dele. Eu vou para o Estoril pelo Hélder (treinador do Estoril na altura em que chegou João Coimbra), tinha chegado a treinar com ele no Benfica e, por isso, como já me conhecia chamou-me. Na altura também entrei em conflito com o Marítimo e também só comecei a jogar na terceira/quarta jornada porque cheguei mais tarde. Pronto, entretanto, nessa série de jogos, no último jogo em que o Hélder está no banco sou titular, empatamos, e o Professor Neca vem para treinador. Na altura até fiquei contente, porque já me conhecia também, mas a verdade é que ele chega e eu pensei que ia continuar a ser titular. Ele chega, e no primeiro dia ele veio falar comigo a dizer que gostava muito de mim, a acariciar-me um bocado o pelo, a dizer que ia ser um jogador muito importante, mas naquele jogo não ia jogar, mas para estar bem e confiar nele. Essas conversas. A verdade é que nos primeiros jogos as coisas correram-nos bem, eu estava no banco e ia entrando. Até que temos um jogo para a Taça da Liga com o Olhanense. E na altura a Taça da Liga tinha como critério de desempate em caso de igualdade de pontos, era pela idade. Na altura quem jogava na minha posição era o Varela, um médio que tinha 30 anos. No dia antes do jogo o Professor Neca liga-me, lembro-me como se fosse hoje, e diz-me “então João? Estás preparado? Estou a pensar meter-te amanhã”. E eu a pensar “este gajo deve pensar que eu sou burro”, eu percebi bem que era pela idade. Mas respondi “claro que sim, estou preparado”. O jogo correu-me muito bem, ganhamos 2-0, fiz um grande jogo e, no último lance eu isolo-me, tento passar pelo guarda-redes, mas ele faz a mancha e consegue tirar. O jogo correu-me muito bem e pensei que poderia manter a minha titularidade. No dia a seguir estava no ginásio, o Professor Neca chama-me e diz-me “João, que grande jogo fizeste ontem!” e eu “obrigado mister”, e ele diz-me “fogo, se tivesses marcado aquele golo, já me lixavas a cabeça para ver quem jogava no próximo jogo”. Mas lá está, ele tinha aquela maneira de falar, que eu ficava desarmado. Eu até me ria, “pronto está bem mister”. A verdade é que no jogo a seguir em Barcelos, entrei na segunda parte, estava 0-0, e ganhamos 2-0 depois de ter entrado, se não me engano, e aí sim, passado dois ou três jogos ganhei a titularidade. Mas nas palestras, se eu entrasse e ganhássemos o jogo, ele dizia que eu era a arma secreta dele, e chegava ao domingo encostava-me sempre. Mas acabei a jogar, fiz mais da segunda volta toda a jogar, mas a 10, não a médio defensivo, mas lá está, ele gostava dos 10 mais defensivos também.

    Bola na Rede: No Estoril sobes de divisão com o Marco Silva, como foi subir de divisão, qual foi a sensação?

    João Coimbra: Foi fantástico, um dos altos da minha carreira e, acima de tudo, como falamos no início, sinto que criei uma grande relação com o Estoril, com a estrutura e com os adeptos. Posso dizer que sou benfiquista desde pequeno, mas sou do Estoril desde o dia em que assinei contrato com eles. Sinto que foi no Estoril que fiz os melhores anos como profissional e foram sem dúvida cinco anos maravilhosos, em que acabamos por ter três épocas seguidas, uma com a subida de divisão e as duas seguintes com passagens para a Liga Europa. A subida foi para mim o feito mais importante. Foi onde me senti mais importante no grupo, como capitão também, como titular praticamente absoluto, foi um momento muito marcante. Uma grande festa para todos nós, para todos os adeptos do Estoril. Foi muito bom!

    Bola na Rede: Na época a seguir à subida de divisão lesionaste no joelho. Como é que lidaste com a lesão numa altura que estavas bem na carreira?

    João Coimbra: Tínhamos subido, na época a seguir não era titular absoluto na Primeira Liga, mas era capitão de equipa e fizemos uma época fantástica. Lembro-me bem, em Barcelos, no último jogo, e onde garantimos a presença na Liga Europa, eu ainda entrei nos minutos finais e senti uma dorzinha no joelho. Lembro-me de falar com o Marco na altura, até sobre o meu futuro. Lembro-me bem de sentir que a época seguinte podia ser a minha época de afirmação. Acabei por entrar mais tarde na pré-época porque fui operado ao joelho, por causa da lesão do menisco, mas é verdade é que me senti muito bem na pré-época e estava muito confiante. Até que, fizemos um jogo amigável com o Sporting B e faço um grande jogo, mas a verdade é que no dia a seguir o joelho inchou muito e eu tive três/quatro meses parado a tentar reforçar, mas não deu. Voltei a ser operado e lixou-me a época toda. O Marco ainda me deu a oportunidade de fazer dez minutinhos em Alvalade, o último jogo da época, em que ganhamos 1-0, mas foi sem dúvida uma época que pensava que fosse a minha época de afirmação, mas foi ao contrário. A partir daí foi praticamente sempre a descer.

    Bola na Rede: Falamos do Marco Silva que continua a ser um caso intrigante. Deixou o Everton algum tempo e continua sem treinar. Como era o Marco Silva como treinador, e achas que ele está à espera de um projeto em especial?

    João Coimbra: Felizmente somos amigos, ainda no Natal estive em Portugal e estivemos juntos. O Marco é um espetáculo como pessoa. Ele foi capitão ainda quando estive no Estoril, e ele morava na Margem Sul como eu, e fazíamos as viagens para o Estoril todos os dias juntos. As coisas tremeram um bocado quando ele passou para treinador e não me metia a jogar (risos), mas felizmente ficamos bons amigos, não só dele, mas da família, gosto muito dele. Como treinador é muito bom, muito inteligente, dá ao jogador tudo o que precisa e tudo o que gosta para desempenhar a função que tem, percebe muito bem o jogo, percebe muito bem o que é preciso. Neste momento, sem dúvida, tenho a certeza que já teve muitas propostas, e sem dúvida que, tão inteligente como é, está à espera da proposta certa para voltar ao ativo. Para mim, ele já faz muito falta ao futebol e merece sem dúvida que as coisas lhe corram bem, porque é muito bom gajo e muito bom treinador.

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    João Pedro Gonçalves
    João Pedro Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Quem conhece o João sabe que a bola já faz parte dele. A paixão pelo desporto levou-o até à Universidade do Minho para estudar Ciências da Comunicação. Tem o sonho de fazer jornalismo desportivo e viver todos os estádios.