«Koeman chamou-me e disse “És dos únicos que tem qualidade para estar aqui”» – Entrevista BnR com João Coimbra

    «Custava muito mesmo sair e ver as pessoas na rua a pedir dinheiro, as crianças descalças sem roupa, a fazer necessidades nas ruas»

    Bola na Rede: Depois do Estoril, vem o Académico de Viseu, e depois o Rapid. Sentes que quando foste para a Roménia foi um passado errado, até pela desvalorização que possas ter tido enquanto jogador? Arrependeste-te? 

    João Coimbra: Não. Estava na Segunda Liga portuguesa, tinha feito mais de 20 jogos, estavam a correr bem as coisas, voltei a estar bem depois da lesão do joelho. A verdade é que o mister Alex Costa me deu muita confiança e me ajudou bastante e acabo por fazer mais de 20 jogos em Viseu, onde me senti muito bem. Surge a Roménia, um clube da Primeira Liga romena. Na altura eu estava na segunda liga, as palavras do Patacas estavam aqui a entoar, e surgiu a oportunidade de ir para uma Primeira Liga, mas a verdade é que em termos financeiros, também ajudava, pensava eu. Em seis meses ficaram lá três. Mas sim, não vi isso como um passo atrás, mas a verdade é que o ano acabou e a única coisa que tive foi na Índia. Um país que não queria na altura, mas era a única proposta na altura. Não queria ir porque lá está, veio-se a confirmar depois, quem vai para a Índia fica muito desvalorizado e saindo daí já ninguém me pegou. Não sei se por ser careca e acharam que eu já tinha 35 anos, mas a verdade é que ainda tinha 29/30. Mas gostei muito, adorei jogar na Índia. Espetáculo, estádios cheios, com mais de 60 mil pessoas, adeptos dos melhores que apanhei. Adorei, a verdade é que devia ter ido quando fosse mais velho, gostava até de ter voltado lá, mas as coisas também não correram bem em termos de equipa, ficamos em penúltimo, salvo erro. No ano a seguir mudaram quase tudo na equipa, mas adorei o campeonato, voltava lá, bastava eles quererem. Saí de lá em dezembro e na altura a minha mulher estava grávida da nossa segunda menina. Não apareceu nada e optei por ficar perto dela a ver se depois no verão aparecia alguma coisa. Depois não apareceu nada acima do Campeonato Nacional de Seniores. Fui para o Leiria, com um treinador que conhecia bem, o Kata, que me ajudou. Estava numa fase difícil, e queria mostrar que tinha qualidade e condições com 30 anos. A verdade é que faço a época praticamente toda a jogar, mas já ninguém me pegou. O meu objetivo era voltar pelo menos a uma segunda liga a Portugal, mas não consegui. Tive uma sondagem na altura do Olhanense, em dezembro/janeiro, mas também estava muito mal, e o Baltazar, o treinador que me queria também saiu. No fim da época só me apareceu o Trofense, onde fiz também 30 jogos.

    Bola na Rede: Conhecemos a Índia como um país muito pobre, com grandes dificuldades. Como foi a experiência além futebol na Índia, tiveste um choque cultural muito grande?

    João Coimbra: Foi um choque tremendo. Uma cultura muito diferente, mas um país muito pobre. Um extremismo entre ricos e pobres, mas os pobres mesmo cá em baixo. Tanto que nós tínhamos vivíamos em hotéis, a equipa toda vivia num hotel de cinco estrelas, mas quando tínhamos folgas nem apetecia sair. Tudo à volta eram favelas, pobreza. Custava muito mesmo sair e ver as pessoas na rua a pedir dinheiro, as crianças descalças sem roupa, a fazer necessidades nas ruas. Preferia bem ficar no hotel a experienciar aquele contraste com a realidade daqui.

    Bola na Rede: Depois do CNS vem o Luxemburgo, porquê o Luxemburgo?

    João Coimbra: Eu conhecia um agente aqui do Luxemburgo, o senhor Alberto Machado, e ele curiosamente vive no Luxemburgo, mas nunca tinha trazido nenhum jogador para aqui. Eu há dois/três anos tinha-o chateado ” então não conhece aí ninguém? Na Primeira Liga aí há equipas que se calhar…”, e ele disse que nunca tinha experimentado e que ia ver. Isto dois/três anos antes do ano que vim para cá, para o Mondorf. Na altura estava até um treinador português, o Paulo Gomes. E pronto, esse Alberto Machado falou com ele, houve algum interesse, e conciliando ao facto de ter aqui família, o facto de não pagar casa ajuda bastante. As casas aqui também são caras e o facto de arranjarem um trabalho tranquilo para mim que ajuda bem também em termos financeiros. Compensava bem e, apesar de não ser campeonato profissional, sempre é uma Primeira Liga e optei por vim. É um campeonato que está a evoluir e tenho pena de não ser profissional porque acredito que as coisas evoluíam ainda mais.

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    João Pedro Gonçalves
    João Pedro Gonçalveshttp://www.bolanarede.pt
    Quem conhece o João sabe que a bola já faz parte dele. A paixão pelo desporto levou-o até à Universidade do Minho para estudar Ciências da Comunicação. Tem o sonho de fazer jornalismo desportivo e viver todos os estádios.