Da glória bracarense à espera de oportunidades – Entrevista a Domingos Paciência

    “Se dizem que o Sporting de Jesus joga à bola, comparem com o Sporting de Domingos”

    (BnR): No Sporting chegou a ter 10 triunfos consecutivos e a fazer os adeptos sonhar com o título mas acabou por sair a meio da época. O que falhou no Sporting? Acha que Godinho Lopes não lhe deu tempo suficiente?

    (DP): O que falhou no Sporting foi a consistência da liderança. Tenho respeito pelo Godinho Lopes, uma pessoa extraordinária mas que tem pouco conhecimento de futebol. Além disso, fazia-se por pessoas que causavam situações ingratas ao próprio presidente, a estrutura não era forte e quem o acompanhava não ajudava e isso acabou por ditar o meu afastamento. Na altura justificou o meu afastamento com a eliminação da Taça da Liga, mas eu acho que não foi isso, só ele saberá. Mais tarde falei com ele e senti o arrependimento de me ter despedido.

    (BnR): Como viu as declarações de Godinho, que afirmou que a sua saída não estava em causa, e passados alguns dias o despediu?

    (DP): Continuo a dizer que foi influenciado por pessoas que mais tarde se revelaram como pessoas que estavam a fazer mal ao Sporting. Viu-se mais tarde, muitas delas estão em tribunal e não eram pessoas certas para aquilo que se pretendia no Sporting. O projecto era construir um Sporting campeão a 2 anos e ao fim de 6 meses vamos à Luz com toda a gente a dizer que se ganharmos vamos ser campeões. Veja a mudança de realidade. Se dizem que o Sporting de Jesus joga à bola, comparem com o Sporting de Domingos, com a dinâmica e a pressão que a equipa fazia. Não quero puxar a brasa à minha sardinha mas comparem. Eu fiz uma equipa com 16 jogadores novos, não tinha nenhuma herança do Marco Silva, do Leonardo Jardim, e com jogadores oriundos de vários países. Repare na dificuldade, numa palestra, para passar a mensagem nas várias línguas que eles falam.

    Fonte: Sporting CP
    Fonte: Sporting CP

    (BnR): Sente que a sua saída do Sporting foi o início do fim do mandato de Godinho Lopes?

    (DP): Eu acho que sim, muita gente foi contra esta decisão. Sentia na rua o agradecimento das pessoas e fez-me acreditar que era possível fazer algo no Sporting. O Godinho não conseguiu manter a sua palavra e ser firme nas suas decisões e teve dificuldades em gerir uma estrutura muito pesada e com muitos vícios. Felizmente o Sporting está no bom caminho, com um presidente que, independentemente do que possa ser acusado, tem uma liderança bem vincada.

    (BnR): O que aprendeu com as primeiras experiências no estrangeiro, ao comando do Deportivo e do Kayserispor?

    (DP): Aprendi que um treinador tem de acreditar no que faz e não em milagres. Foram clubes que abriram as portas para eu continuar o meu trabalho mas sem condições para tal, com planteis distintos da realidade portuguesa. Promessas de poder melhorar o plantel, mas não havia dinheiro. São coisas que estão sempre ocultas e que nós não sabemos, mas depois acabamos por pagar. Arrependo-me dessas opções tomadas.

    (BnR): A passagem pelo APOEL foi curta e na altura, o Domingos mostrou-se desiludido com a Direcção. Porquê?

    (DP): Quando assinei pelo APOEL pediram-me para passar a 1ª e a 2ª eliminatória da Champions, pois a Liga Europa era o mínimo e se não passasse não havia condições para continuar, e tentar o apuramento para a Liga dos Campeões, pelo aspecto financeiro e pela visibilidade. Eu assumi esse risco, até pelos adversários que nos poderiam calhar, inferiores a nós. Passamos dificuldades frente a um Vardar muito defensivo e organizado e depois encontramos o campeão da Dinamarca. Só que às vezes as pessoas não percebem que o valor interno é diferente do valor internacional e pensam que o APOEL tem de lutar com os grandes tubarões e esquecem-se que o Chipre está muito abaixo da Dinamarca no ranking. Sair o campeão da Dinamarca ao APOEL era pensar que seriam favas contadas. Ganhamos lá 2-1, num bom jogo e cá perdemos 1-0, mas com o campeão dinamarquês. Quando sai o Astana, então esse clube era ainda mais fácil no pensamento das pessoas do APOEL. Mas esquecem-se que o Astana tem um orçamento superior ao APOEL, tem uma equipa bem entrosada e não conseguimos eliminá-la. Foi a partir desse momento que foi tudo por agua abaixo. O presidente para se defender da pressão dos adeptos, despediu o treinador. Aceitei a decisão, não sou de complicar, ou se está porque as pessoas gostam e querem ou quando se é rejeitado é melhor passar à frente. Quando passados uns dias já existia substituto para o meu lugar, percebi que não era realmente desejado.

    (BnR): Qual é o seu próximo passo?

    (DP): Não sei, já faz um ano que estou parado. Não estou a trabalhar porque não quero. Os clubes que aparecem não me entusiasmam. Recebi convites do Dubai, da Arábia Saudita, da Bulgária, da Grécia mas vou para um clube que tenha jogadores de outro patamar, pois lutar para não descer é complicado, mas hoje falo assim, amanha poderei falar de outra maneira.

    (BnR): Qual era a sensação de defrontar os clubes por onde passou ou por onde jogou, enquanto treinador?

    (DP): A sensação é que quando chegamos a esses jogos temos pessoas do outro lado que conhecemos, por termos passado muitas horas juntos. É natural que haja abraços e sorrisos mas queremos ganhar. Mas eu não quero ganhar da maneira de confronto ou com uma atitude de não ver mais nada sem ser a vitória, não olhando para a cara das pessoas com quem trabalhei ao ponto de desprezá-los. Quero ganhar, mas as essas pessoas no final continuam a ser minhas amigas.

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