Da glória bracarense à espera de oportunidades – Entrevista a Domingos Paciência

    “Há pouca gente que sabe o que é realmente a mística do FC Porto”

    (BnR): A que se deve o fracasso recente do Porto? É ainda o efeito Lopetegui? Ou a Direcção também cometeu erros?

    (DP): Acho que o Porto tem um passado de exemplo, pela sua mística, pela sua gestão e forma de trabalhar. É ai que nos temos de apoiar quando as coisas não correm bem. Tem de continuar a existir a mesma gestão, o mesmo critério em contratar os melhores para ganhar. Quando isso não se faz tem de se olhar para trás e ver que erros se cometeram. As decisões incidem nas pessoas que contrataram. Quando se fala em treinadores são sempre a base do problema porque é neles que assenta a base da estrutura da equipa. Se os jogadores são contratados pelo treinador ou pela direcção, nunca saberemos, mas a verdade é que o Porto não conseguiu buscar grandes jogadores como já foi buscar antes e o Benfica aproveitou essa fragilidade

    (BnR): Esta é a época decisiva para o clube e direcção?

    (DP): É evidente que ir para um quarto ano sem ganhar, a tolerância será cada vez menor. As pessoas devem estar a fazer o melhor, a procurar fazer uma equipa e vamos ver se é este ano que conseguem trazer alegrias aos adeptos portistas.

    (BnR): Nuno Espírito Santo é alguém da casa, que sabe o que é a mística do FC Porto. Para muitos ainda está na memória a frase “Somos Porto”. É o treinador certo para o clube?

    (DP): Conheço o Nuno de algumas conversas, não o conheço como treinador. Tenho a minha opinião sobre a imagem que transmite mas vou guardá-la para mim. Se é o treinador certo os resultados é que o dirão. O Nuno está marcado por uma fase do Porto onde assumiu a liderança de um grupo por ser o jogador com mais facilidade no dialogo. Essa frase ficou célebre e hoje essa frase é bastante usada pelos adeptos. Mas eu pergunto qual é o perfil para ser treinador do Porto? Quantos anos tem de ter alguém para ser um homem da casa? O despedimento de um treinador não tem por vezes em conta o tempo de casa. Fala-se muito na mística, mas o que é a mística do Porto? Há muito pouca gente que sabe o que é essa mística. A mística do Porto assentava em aspectos que só um grupo de pessoas é que sabia e que sabiam como passar. Não peçam a toda a gente que saiba passar a mística do Porto. Com todo o respeito por quem está no Porto, tenho muitos amigos lá, mas a mística não passa por ir para um quadro e fazer um desenho de um jogador à Porto, na minha forma de pensar.

    (BnR): O aparecimento de jovens como André Silva e Ruben Neves é um sinal de que é nas suas camadas jovens que pode estar a solução para o Porto?

    (DP): Há timings para tudo. O Porto tem uma responsabilidade muito grande tanto a nível nacional como a nível internacional pelo estatuto que alcançou e tem de continuar a manter essa posição. Não sabemos o futuro. Se o Porto continuar com a mesma gestão de contratação de jogadores de qualidade para continuar nesse patamar, é evidente que temos de respeitar. Mas se as coisas continuarem de uma forma que não se conseguem resultados com essas contratações, é evidente que teremos de ter uma aposta mais forte na formação.

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