«O SC Braga tem melhor plantel do que o Sporting CP» – Entrevista BnR com Augusto Inácio

    «O foco é saber se, na situação em que está, o Sporting tem 10 milhões para dar por um treinador. Esse é que é o problema!»

     

    Bola na Rede: Em que te baseias para afirmar que o campeonato 2015/2016 é do Sporting?

    Augusto Inácio: Porque sabemos que foi roubado nos bastidores. Basta ver os processos que o Benfica tem aí. Basta ver por esses processos, só por aí. Mas como o Frederico Varandas disse que sabia perfeitamente que o Sporting tinha sido roubado em 2015/2016 e queria contar tudo… Por isso, continuo à espera que ele conte tudo e que defenda os interesses do Sporting. Porque esse campeonato era nosso! Porque é que não conta agora? Disse que contava e agora não conta? Porquê? Tem medo? É por ser do Bruno de Carvalho? Mas aqui não é ter medo, nem é ser do Bruno de Carvalho. São os interesses do Sporting. E é um título que estão a tirar ao Sporting. Onde é que está essa luta? Onde é que está esse combate?

    Bola na Rede: Acreditas mesmo que o Sporting ainda será consagrado campeão da época 2015/2016?

    Augusto Inácio: Não sei se irá, mais eu ia até às últimas… Eu não me calava com isto. Ai, não me calava, não. Nem ia de certeza ser amiguinho daqueles que nos roubaram o campeonato na batota.

    Bola na Rede: Diz-se muitas vezes que os problemas do Sporting começam dentro de casa, com um constante clima de guerra interna. Estas tuas declarações sobre o Frederico Varandas indicam isso mesmo. Nunca há uma unanimidade… O que é preciso para que o Sporting viva em paz? Para que o presidente – que foi eleito – ser reconhecido como tal?

    Augusto Inácio: Vamos lá ver: uma coisa é apoiar a equipa, os jogadores e o treinador. E já reparaste que separei as coisas completamente. Grande trabalho do Ruben Amorim e dos jogadores. Outra coisa é o outro lado da cortina. O que me faz dizer estas coisas? Olha, em primeiro lugar, tem havido uma perseguição em relação a mim muito grande por parte do Frederico Varandas, e não sei porquê, mas começa logo por aí. Ainda não cheguei a perceber bem. E há ainda outra coisa que não nos podemos esquecer: tu não podes ser acusado, expulso, vilipendiado na praça pública sem haver matéria para que isso aconteça. E não se pode condenar antes de julgar, certo? Bruno de Carvalho não foi acusado de nada, como agora ficou provado em tribunal, e foi expulso da presidência e de sócio do Sporting Clube de Portugal. 

    Bola na Rede: Defendes que essa decisão deve ser revertida?

    Augusto Inácio: O Bruno de Carvalho tem todo o direito de retornar a ser sócio do Sporting e, pelo menos, se quiser, candidatar-se numas futuras eleições. Tem todo o direito. Ao se “cortar” essa possibilidade, já se está a dividir a massa associativa do Sporting. O Bruno de Carvalho foi destituído e expulso de sócio numa assembleia-geral. Foi uma decisão dos sócios do Sporting… E, na prática, essa decisão não teve a ver diretamente com o ataque a Alcochete… Só que os estatutos aí valeram. Eu até tenho uma coisa aqui no telefone [pega no telemóvel] que vou ler. Diz assim, uma notícia da Lusa, de 24 junho de 2018, às 14h38. Rogério Alves: “– Sócios são donos do destino do clube”. Foi agora pedida uma assembleia-geral extraordinária, em outubro, e até hoje não foi dito nada pelo Rogério Alves [entretanto a Mesa da Assembleia-Geral do Sporting, liderada por Rogério Alves, indeferiu todos os requerimentos para realização das reuniões magnas extraordinárias para destituir atual direção e reverter expulsão de Bruno de Carvalho]. Em 2018, os sócios mandavam, mas agora os sócios já não mandam nada, quem manda é ele [Rogério Alves]. Os estatutos falam de uma maneira e, em 2020, já falam de outra. E aí é que está o busílis da questão. E aí que as coisas se dividem. Porque não pode haver paz enquanto as pessoas não sentirem que as coisas estão nos seus devido lugares. Como é que te sentirias se fosses acusado de uma coisa pela tua empresa e eras despedido e, depois, mais tarde, concluia-se que não tens culpa de nada? Como é que sentirias? No direito de poder voltar, não é? Pelo menos isso. Acho que era a melhor forma de isto sossegar, porque não há uma ou duas facções no Sporting, há várias. Mesmo esta “guerra” do Varandas com as claques… Para os puritanos: “Ah, este homem não tem medo nenhum, ele enfrenta as claques. Eles têm a mania que mandam no clube”. Não! Há é regras para serem cumpridas e as regras quando não são cumpridas as pessoas devem ser castigadas, ponto. Mas as claques são parte integrante daquilo que é o apoio a um clube de futebol. E são muito importantes nesse sentido. E a forma como estão a lidar com as claques do Sporting, sinceramente, acho que só divide e não aproxima. 

    Bola na Rede: E nem 1.º lugar é capaz de apagar estas divergências?

    Augusto Inácio: Não apaga, não. Infelizmente, não apaga. Enquanto não se cumprirem os estatutos haverá sempre “guerra”. E não é por mim, é por aqueles que se sentem injustiçados. Não é por mim…

    Bola na Rede: Em relação a este assunto podemos dizer que “avançaste a tua vida”?

    Augusto Inácio: Olhando para as coisas a “frio” tenho de estar ao lado dos sócios do Sporting, porque os estatutos não estão a ser cumpridos. Quando são os sócios do Sporting a votar no seu representante máximo e o representante máximo descarta completamente aqueles que votaram nele… Por isso é que digo: “–Quando todos os sócios forem reintegrados, menos aqueles que foram condenados judicialmente. Esses não! Mas quando todos os sócios que foram inocentados a nível judicial, que não tiveram nada provado que justificasse a expulsão, forem reintegrados, então, a partir daí, em novas eleições, já ninguém pode dizer ‘aquele não teve direito porque não lhe deram oportunidade’”.

    Bola na Rede: O episódio de Alcochete ainda não foi esquecido por muita gente no Sporting. Faz sentido ainda se justificar o que de mal se passa no clube com o ataque à Academia?

    Augusto Inácio: Faz sentido quando dá jeito. Agora, ninguém fala disso porque o Sporting está à frente no campeonato, mas quando o Sporting começou a perder eram “efeitos de Alcochete”. E as contas negativas são “efeitos de Alcochete”. E qualquer coisa negativa que se passa é o “efeito de Alcochete”. Alcochete vai servir sempre de desculpa quando a coisas não estiverem a correr bem, mas enquanto estiver tudo a correr bem de certeza absoluta que não vais ouvir falar de Alcochete.

    Bola na Rede: Numa entrevista à rádio Observador afirmaste que o “Bruno de Carvalho sofreu uma golpada e a verdade sobre Alcochete só se saberá, um dia, quando e se as comadres se zangarem. Sei do que estou a falar, mas não tenho provas”. Quem são as comadres?

    Augusto Inácio: Não vou responder, mas elas estão aí…

    Bola na Rede: E pelo que percebi das respostas anteriores, manténs a opinião que Bruno de Carvalho foi vítima de um golpe…

    Augusto Inácio: Foi! Foi! Se calhar até posso dizer que o mesmo grupo que avançou com o Frederico Varandas é o mesmo grupo que está para avançar… Se não for o Varandas é outro.

    Bola na Rede: Há pessoas a “controlarem” Frederico Varandas na presidência do Sporting?

    Augusto Inácio: Há.

    Bola na Rede: E porque não avançam essas pessoas à liderança do Sporting?

    Augusto Inácio: Porque não dão a cara, preferem estar na sombra.

    Bola na Rede: Achas que o Bruno de Carvalho veio “quebrar” uma lógica que estava instituída?

    Augusto Inácio: Eu nestas coisas gosto de ser pragmático e gosto de falar enquanto estive presente. Porque quando não estamos é o “diz que disse”… in loco é que gosto de falar. Já falámos sobre isso, naqueles dois primeiros anos o Bruno de Carvalho revolucionou completamente o Sporting. Ele pôs o Sporting num patamar de exigência, definido, em primeiro lugar, para ele próprio, e depois veio tudo atrás. Era desde o funcionário mais modesto. Todos tinham de estar ali nos limites. Essas coisas, quando se impõe uma exigência assim, tem os seus contras, criam-se inimigos. Aqueles que estão de boa-fé e querem que o clube vá para a frente seguem aquele caminho – que até pode não dar certo –, mas seguem aquele caminho que permite estar mais próximo do sucesso. O Sporting tinha vinte e tal milhões no primeiro orçamento, com o Leonardo Jardim, enquanto os outros já gastavam 70 ou 80 milhões… Ficámos em 2.º lugar. No ano seguinte, o orçamento nem chegou aos 30 milhões e ganhámos a Taça de Portugal. E os outros a gastarem 70/80… Quando o Bruno de Carvalho começa a gastar como os outros, quase 70/80 milhões, o primeiro, época 2015/2016, é o tal campeonato roubado, mas nos outros não foi roubado. O Sporting fez más aquisições, não jogou tão bem, e depois começou a haver problemas, porque as mais-valias não surgiram. Naquele último ano, as modalidades “limparam” as competições todas. E o orçamento não levantou “voo” como este está agora a levantar. Este relatório e contas que nos apresentaram recentemente, que o Sporting teve 100 milhões e não sei quê… Então e a dívida do Sporting que era de 40 milhões e agora passou para cento e tal milhões? Então mas quando é que Sporting começa a pagar o Rúben Amorim? E o Tabata? Que dinheiro já adiantaram da NOS? Estão à espera das próximas eleições e os outros é que vão pagar a fatura das dívidas que agora estão a fazer?

    Bola na Rede: Achas que o Bruno de Carvalho continua a contar para o futuro do Sporting?

    Augusto Inácio: Tem um franja de sócios e adeptos que continuam a gostar dele e continua fiel às suas ideias e às suas exigências. Acho que serão os sócios do Sporting a terem a última palavra. Primeiro, para ele ser reintegrado como sócio do Sporting e, depois, a partir daí, ele tem todo o direito, se quiser, a se candidatar à presidência do clube. E depois serão os sócios a decidir se ele tem capacidade para ser presidente do Sporting Clube de Portugal. Daquele Bruno de Carvalho, de 2013 a 2015, com quem estive, gostei muito.

    Bola na Rede: Chegaste a dizer numa entrevista que a história dos 10 milhões pelo Ruben Amorim “está mal contada”. O Ruben não está a justificar os 10 milhões?

    Augusto Inácio: Estamos a partir do princípio errado. Justifica 40 ou 50 milhões. Justifica tudo desde que o Sporting esteja em 1.º lugar. O foco não é esse. O foco é saber se, na situação em que está, o Sporting tem 10 milhões para dar por um treinador. Esse é que é o problema! Não é o valor, a qualidade, a sabedoria do treinador, não é isso que está em causa… O Sporting agora diz: “tenho aqui 10 milhões e vou buscar o Klopp”. O Sporting não tem 10 milhões para ir buscar o Klopp. O Klopp não é grande treinador? É! Mas o Sporting não tem dinheiro para contratá-lo. Não posso ter só 50 euros para pôr gasolina e andar de Ferrari. Ando ali 100 metros e lá vão os 50 euros de gasolina, o carro “come” aquilo tudo. Não é o valor do treinador que está em causa, é o dinheiro. O Sporting está 1.º lugar, mas se pensarmos como se endividou antes… O Sporting deve ou não deve mais dinheiro agora, desde que este presidente entrou? E depois há outra coisa que não me entra na cabeça. Estas coisas do Nuno Santos? Que vem [do Rio Ave] porque o Benfica perdoa. E depois, não sei quê, vai o do Sporting porque o Sporting tem direito mas também perdoa… Epá, desculpem lá. Esses acordos, para mim… “Cheira-me” que o Sporting está sempre a ser… bom, não posso dizer.

    Bola na Rede: Mas até agora só o Benfica é que, entre aspas, “perdoou”, ao abdicar da parte do passe do Nuno Santos que lhe pertencia… 

    Augusto Inácio: É o que dizem.

    Bola na Rede: No defeso chegou a falar-se que o João Mário poderia ir para o Benfica e até acabou no Sporting. Portanto, neste caso, o Sporting não foi prejudicado…

    Augusto Inácio: Vamos ver com o William [Carvalho]. Estamos a falar e ainda só estamos em dezembro. O Bétis quer vender o William por 15 milhões e o Sporting pode dizer dou ou não dou os 15 milhões…Mas estamos a falar assim um bocado hipoteticamente, mas não sabemos bem como são os contornos destes negócios, porque as coisas não são claras, para que não hajam dúvidas.

    Bola na Rede: Não confias que esta direção seja capaz de defender os interesses do Sporting?

    Augusto Inácio: Não, sinceramente não. Eu não posso ser politicamente correto, estou a dizer o que sinto. Não, não confio.

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    João Amaral Santos
    João Amaral Santoshttp://www.bolanarede.pt
    O João já nasceu apaixonado por desporto. Depois, veio a escrita – onde encontra o seu lugar feliz. Embora apaixonado por futebol, a natureza tosca dos seus pés cedo o convenceu a jogar ao teclado. Ex-jogador de andebol, é jornalista desde 2002 (de jornal e rádio) e adora (tentar) contar uma boa história envolvendo os verdadeiros protagonistas. Adora viajar, literatura e cinema. E anseia pelo regresso da Académica à 1.ª divisão..                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.